SUV, traduzido do inglês, significa "veículo utilitário esportivo". Na prática, é um carro enorme, poluente, bebedor, autoritário, que manda uma espécie de recado subliminar a quem está sendo ultrapassado por ele: Sai da frente, pobre. Sou rico, poderoso e o senhor dos caminhos.
Na Europa, o cerco aos SUVs começou pra valer. Governos aumentaram as taxas de circulação. Na Itália, centros históricos pensam em banir completamente a presença dos SUVs. Paris já sobretaxou esses veículos e Londres segue pelo mesmo caminho. À noite, ecoativistas têm percorrido as ruas europeias e esvaziado os pneus desses gigantes.
Em plena crise climática, com desastres naturais ocorrendo por todo o planeta, como pode o consumidor ainda pensar em comprar um SUV? Movido a diesel ou gasolina, polui a atmosfera de maneira soberana e irresponsável. É um Tiranossauro Rex na cidade: ocupa muito espaço, faz espalhafato, se espalha por duas vagas nos estacionamentos. É um delinquente ambiental.
Por causa do tamanho gigantesco, esses carros têm se tornado protagonistas na matança de pedestres. Estudo produzido nos Estados Unidos revelou que a presença dos SUVs nas ruas aumentou em 57% o número de pedestres atropelados e mortos.
No Brasil, o país mais desigual do mundo, as vendas de SUVs cresceram 35%. O consumidor brasileiro, pelo jeito, está pouco se lixando para mudança climática, para uma postura mais sustentável, ele quer mesmo é ostentar, igual aos influencers que se projetam nas mídias sociais a bordo do luxo efêmero. Esse pessoal lembra o imperador Nero que tocava violino, enquanto um incêndio monumental queimava Roma (a gente sabe que isso é uma lenda, porque não tinha violino naquela época e Nero nem estava em Roma).
O preço dos SUVs é estratosférico. Tem modelos que custam 1 milhões de reais. Outros, mais em conta, saem por 270 mil, 300 mil e um Hyundai Palisade (considerado o maior SUV do mercado) sai da loja por módicos 500 mil reais.
Garimpando notícias aqui no Brasil, não se veem medidas mais ortodoxas para acabar com a farra dos SUVs. O governo deveria quadruplicar, quintuplicar seus impostos sobre esses delinquentes ambientais.
Para os céticos que dizem que nada muda, por isso não adianta mudar, houve avanços surpreendentes no que se refere ao cerceio de hábitos nocivos. Acredito que o melhor exemplo é o do banimento do tabaco, do cigarro social. Antes, a vida do não fumante era um suplício diário. Fumava-se no transporte público, nos locais de trabalho, nos restaurantes, aviões. Em todo lugar. Você ia a uma festa e saía cheirando cinzeiro. O cigarro foi inteligentemente banido da esfera social. É um ganho de qualidade de vida você poder comer em um restaurante, sem a companhia desagradável e nefasta de um fumante seu vizinho de mesa.
O próximo passo agora seria banir os refrigerantes. Sobretaxá-los. Mas, melhor ainda, antes dos refrigerantes, a alça de mira deveria se posicionar sobre os SUVs. A primeira medida, seria obrigar os fabricantes a produzir esses gigantes apenas elétricos, sem uso de qualquer outro combustível. Nada de híbridos. Depois, como eles são muito grandes, como ocupam muito espaço, como atropelam muitas pessoas, uma sobrecarga tributária seria bem-vinda.
E um recado ao ecoativista europeu: pare de esvaziar pneu de carro. Isso é uma bobagem. Pense em criar medidas restritivas e viáveis no parlamento de seu país. É bem mais prático do que ficar com dor nas costas de tanto esvaziar pneu.