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Lula e Zelensky posam para a foto |
A invasão da Rússia na Ucrânia completa dois anos. São cerca de 700 mil mortos e 730 dias de imagens de prédios destruídos, movimentação de tropas e veículos blindados, gente chorando, gente morta, o presidente ucraniano Volodymir Zelensky de pires na mão pedindo ajuda à Europa e aos Estados Unidos, para tentar impedir a ocupação total de seu território.
Gostaria que o presidente do meu país transformasse em palavras o que eu sinto. O que eu sinto é uma aversão ao autocrata russo Vladimir Putin, presidente de 2000 a 2008 e de 2012 até agora (no curto intervalo entre 2008 e 2012 ele foi primeiro ministro), que invadiu a Crimeia, em 2014 e em 2022, a Ucrânia.
Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, porque precisava "defender" o território russo da "ameaça ocidental". Qual "ameaça"? Quando o ocidente iria atacar a Rússia? Essas perguntas sem resposta indicam que a Ucrânia está sendo vítima de um valentão ("bully" para usar a palavra inglesa da moda). Ao assumir a presidência, Zelensky sabia que o vizinho gigante era uma ameaça real. Foi em busca da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte). Pediu para a Ucrânia ser admitida no grupo de países que antigamente se opunham à União Soviética. A Otan era uma organização, quase em declínio, quase pronta para ser desmantelada. Coube a Putin a primazia de "reerguer" a Otan.
Em 1982, eu morava no interior da França e a Guerra Fria ainda era uma realidade. Muito distante, é verdade, mas presente no dia a dia. A gente andava na rua e quase toda semana o céu era riscado por caças bombardeiros, em treinamento da Otan. Os caças e tropas iam até a fronteira da antiga URSS e retornavam a suas bases. Em determinados dias, eram acionadas sirenes, que alertavam para possível ataque "inimigo". Era um ambiente de tensão constante.
A União Soviética acabou. Veio abaixo com a derrubada do Muro de Berlim, em 1989. A Rússia trocou as cores da bandeira vermelha com a foice e o martelo, pela tricolor branco, azul e vermelho. Atualmente, nas cerimônias em Moscou, predomina o azul. Estranhamente, mesma cor do Partido Democrata norte-americano.
Por que o presidente do meu país não se posiciona contra a invasão da Ucrânia, criticando de maneira feroz a Rússia e Vladimir Putin? Por que não usa o mesmo tom de indignação que empregou para criticar a destruição da Faixa de Gaza pelos israelenses?
Por causa de uma presença fantasmagórica chamada "ideologia". Li recentemente vários comunicados da esquerda na América Latina e em outros países e existe um termo comum, entre eles, que é o desejo de "proteger" a Rússia da "ameaça capitalista ocidental". Um desses comunicados menciona derrubar o governo eleito de Zelensky, substituindo-o por um governo "popular", da "classe trabalhadora".
Como assim? Zelensky foi eleito pela "classe trabalhadora" ucraniana, pelos aposentados e estudantes. É um mandatário legítimo, escolhido pela maioria dos eleitores.
Supostamente, preso a esse posicionamento ideológico perturbador, Luiz Inácio Lula da Silva prefere atacar Israel e se omite em relação à Ucrânia. Reiterou que Israel está cometendo "genocídio" ao "matar mulheres e crianças palestinos".
Não é genocídio. Esta palavra implica em extermínio deliberado de um grupo étnico, racial ou religioso. As tropas israelenses não saíram de seus quartéis para exterminar palestinos. O exército de Israel reagiu a um ataque absurdo, cometido por um grupo terrorista, em 7 de outubro do ano passado, contra idosos, crianças, bebês, adolescentes, adultos. Os terroristas saíram matando a torto e direito. Vi na TV a imagem de uma senhora judia, de cerca de 80 anos, sendo levada pelos terroristas em um carro aberto (parece um Jeep). A multidão aplaudindo, como se fosse um grande feito heroico raptar uma idosa, que devia estar em casa, preparando o chá da tarde.
Israel iniciou uma guerra reativa contra os vizinhos. Só deve encerrar as hostilidades, quando formar uma faixa de segurança extensa, que antecederá em quilômetros os limites de seu território.
Como eu me sinto ao ver corpos de mulheres e crianças, em meio a escombros de prédios destruídos pelo bombardeio israelita?
Atualmente, tenho mudado de canal. Não consigo mais assistir essas imagens. Considero terrível essas 30 mil mortes de palestinos. Existe uma guerra em curso e é dilacerante presenciar tanta desgraça, ver tantas vidas destruídas, casas e apartamentos que viraram escombros, famílias esfaceladas. Filhos sem pais. Mães sem filhos.
Grupos extremistas, como o Hamas (que covardemente atacou e matou pessoas desarmadas), não querem selar tratados de paz. Não querem conviver pacificamente com o vizinho. Não importa para esses grupos extremos que os palestinos tenham um país. O Hamas, a Jihad Islâmica, o Hezbollah só tem um único propósito: destruir Israel. Esses extremistas - se forem liquidados amanhã - serão substituídos no dia seguinte por outros, com os mesmos propósitos, a mesma deliberação ensandecida.
Voltando à Ucrânia, talvez o real motivo que faça com que o presidente Lula se omita em relação à violência russa seja menos uma questão ideológica, como os analistas internacionais supõe, e mais o fator econômico e político. O Brasil exporta produtos agropecuários para a Rússia e esta vende para o Brasil, principalmente, fertilizantes nitrogenados. Os dois países são parceiros de negócios. Em outubro, haverá encontro dos Brics (acrônimo que designa Brasil, Rússia, Índia e China) e Lula viajará para a Rússia, onde terá encontro privado com Vladimir Putin. Deve aparecer na foto dando a mão ao autocrata russo.
É a economia, imbecil.
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