quarta-feira, 23 de agosto de 2017
A Redação do Dipo (1)
Comecei a trabalhar no Diário Popular em 1984. A Redação do Dipo, como o jornal era chamado, foi talvez a última romântica. Quase todo dia acontecia alguma coisa surpreendente e inacreditável. Lembro de um tipo que chegava todos os dias religiosamente às 17h30, sentava-se diante de uma máquina de escrever e punha-se a datilografar, de maneira sempre muito compenetrada e rápida.
O cara era uma metralhadora. Usava todos os dedos. Mandava ver no teclado. Sempre bem vestido, de terno, gravata e sapato social, ele era um cara educado. Cumprimentava os repórteres e os editores. Dava um tempo no café para falar sobre futebol e lá pelas 20h ia embora. Uma rotina e disciplina invejáveis.
Ninguém sabia exatamente em qual editoria trabalhava. Alguns achavam que era um setorista do Deic, outros achavam que dava plantão na Câmara Municipal. Havia aqueles que achavam que era um "espião" da chefia. O fato é que o sujeito era uma máquina para trabalhar. Um exemplo a ser seguido por nós, repórteres, que demorávamos para entregar as matérias, matando de aflição os editores.
Certo dia, alguém da Diretoria, impressionado com o rapaz, mandou chamá-lo. A intenção talvez fosse boa. Dar um aumento para ele. Recompensá-lo pela rapidez e a assiduidade.
Quando o chefe perguntou em qual editoria ele trabalhava, veio a surpresa:
"Em nenhuma", ele respondeu. "Sou vendedor de uma fábrica de vassouras e venho aqui preencher meus relatórios de vendas. Adoro essa Redação e as máquinas de escrever estão sempre com a manutenção em dia."
O coitado foi considerado "persona non grata" e teve seu ingresso no prédio da rua Major Quedinho barrado para sempre.
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