terça-feira, 4 de novembro de 2025

Violência no Brasil e lentidão governamental

 


É um desafio: criminosos ocuparam as favelas do Rio de Janeiro e criaram um país à parte. Não é mais o Brasil. É um país dominado por bandidos que cobram taxas para fornecimento de gás, água, combustível, internet e outros serviços. A população que mora nessas favelas é refém do crime e apoia qualquer ação que aniquile fisicamente seus opressores, mostram pesquisas recentes.

Estive a trabalho na Favela do Jacarezinho. Para chegar ao local do evento, que cobriria, não pude chamar um uber ou táxi qualquer. Era preciso encontrar um motorista de aplicativo da própria favela, senão não conseguiria entrar. Subi no carro, dirigido por uma moça. Ela conduziu até um dos pontos da entrada da favela, onde havia uma carcaça carbonizada de carro. Atrás dessa barricada improvisada, havia dois homens armados de fuzis. A motorista do aplicativo fez um sinal específico e os "guardas" arrastaram a carcaça e pudemos passar. Felizmente, não precisei mostrar passaporte, embora estivesse ingressando em "outro país", com outros "governantes" e "leis" ultrajantes.

Se há um "país" à parte, dentro do Brasil, não estava na hora de haver uma ação governamental, que envolvesse federação, estado, município para reocupar esse enclave criminoso, libertar os reféns e reinstaurar a ordem? Por que se demora tanto para criar um plano simples de reocupação do espaço ocupado? Todas as favelas cariocas têm entradas pontuais e muitas têm saídas na mata, por onde os bandidos procurados costumam fugir. É tão difícil assim imaginar um plano que possa bloquear os acessos e sufocar a criminalidade? Não algo momentâneo, com prazo curto de duração, mas permanente, incansável e edificante.

Além dessa ação de resposta ao crime, os governos deveriam investir maciçamente na eliminação da favela, substituindo-a por moradias decentes, com ruas planejadas, áreas verdes, infraestrutura completa, pondo um ponto final na degradação e na miséria urbana desses territórios. Gasta-se tanto no Brasil com o que não interessa, por que não "queimar" dinheiro no bom sentido numa operação plástica urbana de resultados palpáveis? 

Nos últimos dias, cansei de ouvir especialistas, dizendo que operações policiais nos morros cariocas não levam a nada, porque os verdadeiros criminosos não estão nos morros, mas na Faria Lima. Pode até ser verdade que as lideranças do crime não precisem necessariamente morar na favela. Operações recentes de inteligência demonstraram como o crime organizado tem utilizado fundos de investimento da Faria Lima para lavar dinheiro. Ocorre que existe um fato concreto: as favelas cariocas foram ocupadas pela criminalidade e seus moradores continuam sendo reféns dos bandidos. Além de acertar o crime organizado no "bolso", revelando as operações de lavagem de dinheiro (combustíveis, fundos de investimento), é urgente também reocupar o território ocupado e libertar as pessoas. 

É inadmissível alguém ser condenado à morte por trafegar pela avenida Brasil e ser levado pelo aplicativo a uma entrada de favela, onde um "guarda" - desse "país inimigo" dentro do Brasil - não vai hesitar em erguer o fuzil e disparar contra uma família, um casal, um viajante. Quanto tempo mais o Brasil vai conviver com esse "país" à parte, espécie de câncer em suas entranhas?            

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