O tempo passa mais rápido. Uma espera de 30 minutos voa, enquanto o dedo vai deslizando as imagens. Uma fila de alpinistas aguarda para chegar ao topo do monte Everest; Ministério Público pede arquivamento de processos; quadrinhos coloridos contam uma piada sobre o caos climático; dengue e a vacina; dois lutadores se golpeiam, um deles nocauteia o outro; imagem de Paris; carro manobrando; imagem de Veneza e as gôndolas; dicas para deixar seus utensílios de prata brilhando; pressão alta; convite para visitar uma cidade; imagem de uma vila paradisíaca na Suíça...
A "linha do tempo" é uma sequência "linear" de imagens que se sucedem interminavelmente. A pessoa passa horas deslizando pela "linha do tempo". A própria pessoa contribui para alimentá-la. Posta imagens de um prato de comida, de um evento que participou, encena uma situação supostamente engraçada, compartilha cenas de desastres.
A rede social é um caos informativo. Embora se diga que os algoritmos reproduzem aquilo que seu perfil exige, acredite, isso é uma bobagem. Os algoritmos são sem noção. Durante anos, recebi vídeos de consumo rápido (chamados de "reels") com cavalos. Cavalos sendo amestrados, cavalos desfilando, cavalos comendo, cavalos, cavalos e cavalos. Tenho horror de andar a cavalo. Não tenho cavalo e mesmo assim o algoritmo acreditava piamente que eu era apaixonado por cavalos.
Mesmo assim, a gente passa horas, dias, semanas, deslizando pela tela. A gente ri. Comenta algo com alguém. Encaminha uma informação. Digita, reclama, posta... É um turbilhão informativo, sem qualquer ordem ou classificação. Somos arrastados por ela, dominados por ela, a famosa "rede social".
Aparentemente, é um espaço democrático, onde você pode postar suas opiniões, divulgar suas ideias, expor seus ideais. Só que não é bem assim. A rede social é um espaço de vigilância constante. Se você publica algo que uma determinada maioria se posiciona de forma contrária, pode aguardar, você terá suas postagens censuradas.
No meio do caos informativo, prepondera a censura. Essa censura vem de "cima". Cai verticalmente sobre a sua cabeça. Você pode até tentar se defender. Envia e-mails, liga para conhecidos, procura o sindicato da sua categoria. Ao final, você será derrotado. A rede social não vai lhe dar ouvidos. Eles estão em um patamar superior à humanidade.
Você teve o seu blogue censurado pelo Facebook? Tudo bem, por que isso aconteceu? Difícil saber. O Facebook não tem telefone, não tem uma pessoa que vai ouvir seus reclamos. É uma parede. Rígida, imóvel, que não lhe deve qualquer satisfação. Embora a Constituição brasileira diga que todos os brasileiros têm direito à liberdade de expressão, o artigo quinto, parágrafo quarto é solenemente ignorado pela rede social. Basta um grupo reclamar em peso e seu pensamento será varrido pelo Facebook, Instagram et caetera.
Em 1º de outubro de 2023, publiquei neste blogue um texto, intitulado "Precisamos falar sobre o aborto". Provavelmente, grupos religiosos, que se opõem ao aborto, reclamaram em massa ao Facebook, que, sem sequer ler o artigo, sem entrar em contato comigo, simplesmente, proibiu a divulgação de minhas postagens. O texto teria ferido suscetibilidades. Na realidade, acredito que esse pessoal não se deu ao trabalho de ler o texto. Diante do título, foi correndo protestar e atendido, sem reservas e de forma imediata, pela rede social.
A rede social não é apenas caótica. É um organismo perigoso que fere a liberdade de expressão e não deve satisfação a qualquer organismo de classe. Mesmo assim, o mecanismo é hipnotizante. A gente não cansa de rolar a tal da "linha do tempo": imagem de Amsterdã com neve nas ruas; um hipopótamo briga com um tigre; um castelo; propaganda de uma montadora de veículos; entrevista de 1986 com Zeca Pagodinho; pauta do Noturno número 9 de Chopin; corrida de Fórmula 1; maestro regendo orquestra...
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