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Leila Pereira conquistou 12 títulos para o Palmeiras |
"NÃO É POSSÍVEL! Atitude de Leila causa fúria na torcida do Palmeiras. Já passou da hora dessa mulher sair do Verdão. Merecemos um presidente a altura para comandar nosso Clube!"
Esta é apenas uma postagem apanhada ao sabor do vento em uma rede social. A fúria de uma torcida organizada contra a presidente Leila Pereira parece ter dia e hora para ter começado. Surgiu quando a presidente decidiu deixar de dar dinheiro para esta organizada, que faz desfiles de Carnaval. Desde então, as publicações nas redes sociais foram subindo de tom até estas últimas que pedem a saída dela da Presidência. Assim mesmo, na base do golpismo, uma vez que o mandato da presidente Leila encerra-se no próximo ano, com direito à reeleição. "Saia agora! Estamos mandando!", eles dizem, com outras palavras.
A justificativa da presidente para deixar de subsidiar a organizada foi óbvia e traz uma informação que todo torcedor de futebol conhece: "As organizadas são o câncer do futebol". Teve promotor que prometeu acabar com as organizadas e fracassou. Outras ações semelhantes foram utilizadas (juizado do torcedor para punir os responsáveis por violência no campo e extracampo), além da rendição completa aos arruaceiros que é a decisão de fazer os grandes jogos, os clássicos, com apenas uma torcida do mandante.
Desde 2015, quando a Crefisa passou a patrocinar o Palmeiras, a presidente Leila Pereira (eleita em 2022) fez uma coleção invejável de títulos: Paulista de 2020, 2022 e 2023; Copa do Brasil de 2015 e 2020; Brasileiro de 2016, 2018 e 2022; Libertadores de 2020 e 2021; Recopa Sul-Americana de 2022 e Supercopa do Brasil de 2023. São 12 títulos. Todos importantes, significativos e históricos.
Mesmo assim causa estranhamento que a organizada, em questão, promova campanha para destituir a presidente. Não contentes em pedir diariamente a saída da presidente, grupos têm atacado as lojas da empresa patrocinadora, de forma criminosa e, até então, impunemente.
Em ângulo maior, a direita fez o mesmo ao tirar a presidente Dilma de seu cargo, por culpa de um artifício burocrático, que depois constatou-se não ter lesado o erário público. São golpistas. Tanto bolsonaristas e organizados têm o mesmo DNA.
Acostumado a frequentar campos de futebol desde a longínqua década de 1960, presenciei momentos de extrema violência. Certa vez, em um jogo contra o São Paulo, no velho Parque Antárctica, um torcedor acendeu um rojão e disparou o petardo em nossa direção. Na época, usava cabelo comprido e a bomba estourou a centímetros da minha cabeça. Tufos de cabelo saíam aos montes da minha mão, à medida que passava os dedos para entender o grau da desgraça.
Fora esse momento de enfrentamento, as situações mais surpreendentes partiram dessa organizada, que hoje perdeu o patrocínio e tenta destituir a presidente eleita. Uma vez, durante uma partida, um integrante desta organizada virou-se contra um rapaz que estava ao meu lado e lhe desferiu um murro potente no nariz, que começou a sangrar. Isso porque o rapaz xingou um jogador que o integrante da organizada devia apreciar sobremaneira. Houve outros momentos de muito pânico. Para não ser exaustivo, lembro de estar com meu filho na arquibancada, quando parte da torcida do Palmeiras começou a apupar os integrantes da organizada, sabe-se lá por qual motivo. Os torcedores organizados saíram como, provavelmente os hunos comandados por Átila sairiam em busca de seus inimigos. Eu e meu filho, que devia ter uns 10 anos, vimos aquela multidão enlouquecida vindo em nossa direção e nos abaixamos. Eles saltavam por cima de nós e iam até a torcida, também do Palmeiras, tirar satisfação. Momentos de pânico e desespero.
O Brasil tem mesmo esse problema. Não consegue resolver aquilo que mais incomoda. Vai varrendo para debaixo do tapete. São Paulo tem a sua Cracolândia, com tráfico de drogas a céu aberto. As motos fazem o que querem nas ruas, causando - todos os dias - acidentes graves que provocam congestionamentos quilométricos. O transporte público não funciona e, quando funciona, está sempre lotado e irrespirável. Os ônibus não chegam no horário. Os trens não chegam no horário. O metrô lança pneus lá do alto em cima da cabeça da gente que está passando aqui embaixo. As enchentes têm dia e hora para acontecer. E os desabamentos também, assim como a ocupação irregular das áreas urbanas. É uma bagunça. É nesse lugar que a gente vive e tenta sobreviver, um dia depois do outro.
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