sábado, 24 de fevereiro de 2024

Lula e a prisão das ideologias

Lula e Zelensky posam para a foto

 A invasão da Rússia na Ucrânia completa dois anos. São cerca de 700 mil mortos e 730 dias de imagens de prédios destruídos, movimentação de tropas e veículos blindados, gente chorando, gente morta, o presidente ucraniano Volodymir Zelensky de pires na mão pedindo ajuda à Europa e aos Estados Unidos, para tentar impedir a ocupação total de seu território. 

Gostaria que o presidente do meu país transformasse em palavras o que eu sinto. O que eu sinto é uma aversão ao autocrata russo Vladimir Putin, presidente de 2000 a 2008 e de 2012 até agora (no curto intervalo entre 2008 e 2012 ele foi primeiro ministro), que invadiu a Crimeia, em 2014 e em 2022, a Ucrânia. 

Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, porque precisava "defender" o território russo da "ameaça ocidental". Qual "ameaça"? Quando o ocidente iria atacar a Rússia? Essas perguntas sem resposta indicam que a Ucrânia está sendo vítima de um valentão ("bully" para usar a palavra inglesa da moda). Ao assumir a presidência, Zelensky sabia que o vizinho gigante era uma ameaça real. Foi em busca da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte). Pediu para a Ucrânia ser admitida no grupo de países que antigamente se opunham à União Soviética. A Otan era uma organização, quase em declínio, quase pronta para ser desmantelada. Coube a Putin a primazia de "reerguer" a Otan.

Em 1982, eu morava no interior da França e a Guerra Fria ainda era uma realidade. Muito distante, é verdade, mas presente no dia a dia. A gente andava na rua e quase toda semana o céu era riscado por caças bombardeiros, em treinamento da Otan. Os caças e tropas iam até a fronteira da antiga URSS e retornavam a suas bases. Em determinados dias, eram acionadas sirenes, que alertavam para possível ataque "inimigo". Era um ambiente de tensão constante. 

A União Soviética acabou. Veio abaixo com a derrubada do Muro de Berlim, em 1989. A Rússia trocou as cores da bandeira vermelha com a foice e o martelo, pela tricolor branco, azul e vermelho. Atualmente, nas cerimônias em Moscou, predomina o azul. Estranhamente, mesma cor do Partido Democrata norte-americano. 

Por que o presidente do meu país não se posiciona contra a invasão da Ucrânia, criticando de maneira feroz a Rússia e Vladimir Putin? Por que não usa o mesmo tom de indignação que empregou para criticar a destruição da Faixa de Gaza pelos israelenses?

Por causa de uma presença fantasmagórica chamada "ideologia". Li recentemente vários comunicados da esquerda na América Latina e em outros países e existe um termo comum, entre eles, que é o desejo de "proteger" a Rússia da "ameaça capitalista ocidental". Um desses comunicados menciona derrubar o governo eleito de Zelensky, substituindo-o por um governo "popular", da "classe trabalhadora".

Como assim? Zelensky foi eleito pela "classe trabalhadora" ucraniana, pelos aposentados e estudantes. É um mandatário legítimo, escolhido pela maioria dos eleitores.

Supostamente, preso a esse posicionamento ideológico perturbador, Luiz Inácio Lula da Silva prefere atacar Israel e se omite em relação à Ucrânia. Reiterou que Israel está cometendo "genocídio" ao "matar mulheres e crianças palestinos". 

Não é genocídio. Esta palavra implica em extermínio deliberado de um grupo étnico, racial ou religioso. As tropas israelenses não saíram de seus quartéis para exterminar palestinos. O exército de Israel reagiu a um ataque absurdo, cometido por um grupo terrorista, em 7 de outubro do ano passado, contra idosos, crianças, bebês, adolescentes, adultos. Os terroristas saíram matando a torto e direito. Vi na TV a imagem de uma senhora judia, de cerca de 80 anos, sendo levada pelos terroristas em um carro aberto (parece um Jeep). A multidão aplaudindo, como se fosse um grande feito heroico raptar uma idosa, que devia estar em casa, preparando o chá da tarde.

Israel iniciou uma guerra reativa contra os vizinhos. Só deve encerrar as hostilidades, quando formar uma faixa de segurança extensa, que antecederá em quilômetros os limites de seu território.

Como eu me sinto ao ver corpos de mulheres e crianças, em meio a escombros de prédios destruídos pelo bombardeio israelita?
Atualmente, tenho mudado de canal. Não consigo mais assistir essas imagens. Considero terrível essas 30 mil mortes de palestinos. Existe uma guerra em curso e é dilacerante presenciar tanta desgraça, ver tantas vidas destruídas, casas e apartamentos que viraram escombros, famílias esfaceladas. Filhos sem pais. Mães sem filhos. 

Grupos extremistas, como o Hamas (que covardemente atacou e matou pessoas desarmadas), não querem selar tratados de paz. Não querem conviver pacificamente com o vizinho. Não importa para esses grupos extremos que os palestinos tenham um país. O Hamas, a Jihad Islâmica, o Hezbollah só tem um único propósito: destruir Israel. Esses extremistas - se forem liquidados amanhã - serão substituídos no dia seguinte por outros, com os mesmos propósitos, a mesma deliberação ensandecida.

Voltando à Ucrânia, talvez o real motivo que faça com que o presidente Lula se omita em relação à violência russa seja menos uma questão ideológica, como os analistas internacionais supõe, e mais o fator econômico e político. O Brasil exporta produtos agropecuários para a Rússia e esta vende para o Brasil, principalmente, fertilizantes nitrogenados. Os dois países são parceiros de negócios. Em outubro, haverá encontro dos Brics (acrônimo que designa Brasil, Rússia, Índia e China) e Lula viajará para a Rússia, onde terá encontro privado com Vladimir Putin. Deve aparecer na foto dando a mão ao autocrata russo.

É a economia, imbecil. 

 


     
 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

"True Detective" e a pior chefe de polícia da história

 

Jodie Foster faz o papel de chefe de polícia em vilarejo do Alaska

Jodie Foster, aos 61 anos, estrela a quarta temporada de "True Detective". Ela é a chefe de polícia de Ennis, uma cidade gelada e esquecida do mundo no invernal Alaska. Jodie Foster é também a pior chefe de polícia da história do cinema. Pode ser que tenha alguém tão ruim quanto ela, mas superá-la vai ser difícil. 

"True Detective" começou bem na primeira temporada com Mattew McConaughey e Woody Harrelson, no papel dos detetives, encarregados de descobrir um assassino em série que agia no estado de Louisiana (EUA). A história tinha um lapso de tempo de 17 anos, com os dois detetives voltando a se reencontrar para encontrar o criminoso.

A história segurava o público, com as atuações irrepreensíveis de Mattew McConaughey e Woody Harrelson. Havia a obsessão dos dois policiais em encontrar o assassino, as horas e horas dedicadas à investigação, o estudo das fotos das vítimas, a revisão dos inquéritos. Eles eram incansáveis e as cenas insistiam em mostrá-los dentro de uma viatura policial, percorrendo os campos desolados da Louisiana. Era um trabalho cansativo e infatigável. 

Se "True Detective" começou bem, esta última temporada - a quarta - tem tantos absurdos e bobagens que é até difícil elencar qual é o pior momento. Jodie Foster passou a vida no show business. Tem 58 anos de carreira. Nos filmes que protagoniza, ela é atacada ou ameaçada por homens. É uma especialidade. Foi assim em "Taxi Driver", "Silêncio dos Inocentes", "O quarto do pânico", "Acusados". Neste último filme, por sinal, ela é estuprada por vários homens em um bar. 

Nesta série "True Detective", Foster gosta de homens e tem até um caso tórrido com um coroa fora de forma. Como chefe de polícia, ela age sempre ao arrepio da lei, como diria um promotor de Justiça.

Imagine o seguinte: você é um policial e vê o seu colega de farda assassinar um homicida. O seu colega não quis saber de levar o suspeito preso, de acusá-lo formalmente, enfim, agir de acordo com aquele profissional que atua dentro do rigor da lei. O colega matou e você - pior ainda - queria ter tido a primazia da execução. Parece que a gente está em um morro carioca, ocupado pelo tráfico, mas não é. A história se passa nos Estados Unidos.

Em outro momento, um agente corrupto é assassinado dentro da sua casa e, ao invés de você chamar a Corregedoria, de registrar a ocorrência, de atuar dentro do limite legal; não, você manda limpar a cena do crime e sumir com o corpo do policial corrupto. É uma bagunça essa delegacia do Alaska.

A pior parte da trama são as cenas de "terror". Vários personagens veem gente morta, conversam com as almas perdidas, ouvem chamados do além. As cenas tentam provocar medo nos assinantes. Múmias descabeladas aparecem do nada e gritam: Uiiiiii. No Alaska, quase todo mundo tem uma alma perdida de estimação. Essas almas perdidas não têm qualquer função dentro da história. Servem apenas para sugerir que estamos vendo algo do gênero terror. 

Felizmente, uma personagem muito chata, bem irritante, tira a roupa e vai se escafeder no gelo, nos livrando da sua presença insuportável. A gente não deveria, mas fica feliz em ver que ela morreu congelada. 

A policial, vivida por Jodie Foster, comete outros descaminhos. O pior deles é ser testemunha de uma confissão de crime, cometido contra oito pessoas. Ficar sabendo dos detalhes da execução. Ouvir tudo atentamente e - simplesmente - deixar pra lá. Vam'bora que a luta continua. Um acinte. 

Esta quarta temporada poderia ter sido mais eficaz ao dar o seu recado. A história central fala de uma mina subterrânea que tem causado sérios danos ao meio ambiente e prejudicado a vida dos locais. É a mesma história da mina do Córrego do Feijão, da Vale do Rio Doce, que teve rompimento de uma barragem e soterrou e matou 272 pessoas. As mineradoras oferecem emprego a quem mora na localidade, mas a destruição ambiental é catastrófica. Em Ennis, a cidade fictícia onde Jodie Foster é chefe de polícia, a mina é altamente poluidora e transformou a água da cidade em lama preta. Nascem crianças mortas e muitos adoecem de câncer. 

Ou seja, tem história a ser contada. Mas os roteiristas decidiram criar um carnaval de múmias, espíritos perdidos, que fazem com que o assinante perca a paciência. Sem falar nos autóctones, que a gente chamava antigamente de "esquimós", retratados de uma maneira grotesca, com costumes pouco compreensíveis (por que cargas d'água os locais precisam pintar traços pretos debaixo do queixo?, por que isso é tão importante?). 

Um péssimo programa esta quarta temporada de "True Detetctive", em exibição pelo canal de assinatura HBO Max.  

Em inglês:


Jodie Foster, at 61 years old, stars in the fourth season of "True Detective." She plays the police chief of Ennis, a cold and forgotten town in the wintry Alaska. Jodie Foster is also the worst police chief in film history. There may be someone as bad as her, but surpassing her will be difficult.

"True Detective" began strong in its first season with Matthew McConaughey and Woody Harrelson, playing detectives tasked with uncovering a serial killer in the state of Louisiana (USA). The story spanned 17 years, with the two detectives reconnecting to find the criminal.

The story kept the audience engaged, thanks to the impeccable performances of Matthew McConaughey and Woody Harrelson. There was the obsession of the two officers to find the killer, the countless hours spent investigating, studying the victims' photos, reviewing the reports. They were tireless, and the scenes insisted on showing them inside a police car, driving through the desolate fields of Louisiana. It was a tiring and relentless job.

While "True Detective" started well, this latest season — the fourth — has so many absurdities and nonsense that it's hard to pick the worst moment. Jodie Foster has spent her life in show business. She has 58 years of career. In the movies she stars in, she is attacked or threatened by men. It’s a specialty. It was like this in "Taxi Driver," "The Silence of the Lambs," "Panic Room," and "The Accused." In the latter, she is raped by several men in a bar.

In this "True Detective" series, Foster likes men and even has a torrid affair with an out-of-shape older man. As the police chief, she constantly acts against the law, as a prosecutor would say.

Imagine this: you’re a police officer and see your colleague in uniform murder a murderer. Your colleague didn’t care about arresting the suspect, formally accusing him, or acting according to the professional standards of the law. The colleague killed him, and you — worse still — wished you had been the one to execute him. It feels like we're in a Rio de Janeiro slum controlled by the drug trade, but it’s not. The story takes place in the United States.

At another point, a corrupt agent is killed in his home, and instead of calling Internal Affairs, filing a report, or acting within the legal limits, you order the crime scene to be cleaned and the corrupt cop’s body disposed of. It's a mess in that Alaskan police station.

The worst part of the plot is the "horror" scenes. Several characters see dead people, talk to lost souls, and hear calls from beyond. The scenes try to provoke fear in the viewers. Messy, disheveled mummies appear out of nowhere and scream, "Uiiiiii." In Alaska, almost everyone has a lost soul as a pet. These lost souls serve no purpose in the story. They only suggest that we are witnessing something of the horror genre.

Fortunately, a very annoying character, quite irritating, takes her clothes off and heads out into the ice, freeing us from her unbearable presence. We shouldn’t, but we’re relieved to see her freeze to death.

The police officer, played by Jodie Foster, commits other missteps. The worst of them is witnessing a confession of a crime committed against eight people. She learns the details of the execution, listens carefully to everything, and — simply — lets it go. Let's move on, the struggle continues. A slap in the face.

This fourth season could have been more effective in delivering its message. The central story revolves around an underground mine that has caused serious environmental damage and harmed the locals’ lives. It's the same story as the Córrego do Feijão mine disaster, with Vale do Rio Doce, where a dam collapse buried and killed 272 people. The mining companies offer jobs to people in the area, but the environmental destruction is catastrophic. In Ennis, the fictional town where Jodie Foster is the police chief, the mine is highly polluting and has turned the town's water into black sludge. Dead babies are born, and many people fall ill with cancer.

In other words, there’s a story to be told. But the writers chose to create a carnival of mummies and lost spirits that make the viewer lose patience. Not to mention the indigenous people, once called "Eskimos," depicted in a grotesque manner, with incomprehensible customs (why do the locals need to paint black lines under their chins? Why is this so important?).

A terrible program, this fourth season of "True Detective," airing on the HBO Max subscription channel.      

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

É difícil achar o Brasil no meio da bagunça

 


A primeira página da edição online do "Estadão" informa que haverá nova legislação para coibir as "saidinhas" de presos. Vêm, em seguida, notícias do Corinthians (sem técnico), casal de influenciadores norte-americanos se deu mal, duas articulistas e duas notícias descem a lenha no ministro do STF Dias Toffoli, lançamento do novo Chevrolet e uma cachaça premium. 

O "Estadão" é um jornal do Olimpo. O País está em meio a uma dramática crise sanitária, com a dengue matando pessoas, e a primeira página do jornal nem dá bola pra isso. Dane-se a dengue!

Quem passeia por São Paulo, a capital, tropeça em 30 mil pessoas (homens, mulheres, crianças, idosos) vivendo sob pontes, viadutos, em condições de suprema e escaldante miséria. Causa estranhamento que esse quadro de sufocante desigualdade social não esteja na primeira página do jornal. De todos os jornais do País. Que sociedade construímos que permite que 30 mil pessoas - praticamente uma cidade - viva em condições humilhantes, de degradação profunda. Onde estão o presidente, o governador, o prefeito, o raio que o parta que não tira essas pessoas da rua, que não consiga lhes dar um teto? Como é possível viver numa sociedade que têm 30 mil pessoas morando na sarjeta?

A miséria não entra em pauta. Permanece remanejada para o inconsciente. A gente sabe que existe. A gente convive com os desgraçados, mas continua tocando a vida. "Nossa, dormiram na frente do nosso prédio ontem. Precisamos colocar uma lanças pontiagudas debaixo da marquise para afastar os mendigos." 

O País vive desastres hidrológicos e geológicos periódicos e fatais. Chove muito, porque a maior parte do País se encontra entre a linha do Equador e o Trópico de Capricórnio. Ou seja, é um país tropical, sujeito a chuvas e deslizamentos.

Sem condições de pagar aluguel, sem ter onde morar, centenas de famílias vivem às margens de córregos insalubres, fedorentos. Quando chove (e chove sempre e muito de novembro a março), as águas dos córregos e rios sobem. Sempre irão subir. As moradias, próximas às águas correntes de pequeno porte, vão descobrir que o arroio avolumou-se, tornou-se um rio devastador que vai encher de lama e soterrar os poucos bens de quem sempre teve muito pouco. Aqueles que compraram terrenos, com muita dificuldade, nas proximidades de barrancos verão suas moradias serem levadas pelo lamaçal megalodôntico, que pega telhados, paredes e pisos e, como um mágico destruidor, desaparece com tudo, em questão de segundos. Fica só a lama e sob ela os sonhos destruídos.

Na rede social, predomina a bagunça de sempre, o desordenamento informativo: promoção de loja de móveis (apresentadora circula entre sofás), história do samba paulista, montadora faz recall de airbags, viajantes passeiam por localidade italiana, nova rodada do campeonato paulista, propaganda da montadora Nissan, empréstimos consignados. 

A gente foge da rede social (Instagram) e corre para o jornal online. O veículo informativo põe um aviso, informando que quer saber a minha localização. Se eu permito ou bloqueio? Queria apenas ler a notícia, jornal, só isso. Novo clique e mais uma mensagem inquietante: "Deseja receber as notícias em tempo real? Agora não ou Ativar". É um inferno.

Tem uma série lançada em 2012, exibida atualmente pela HBO Max, intitulada "Newsroom", com o carismático Jeff Daniels, que faz o papel de um âncora de uma TV por assinatura. Mesmo sem ser novidade, a série toca em temas interessantes e atuais. O âncora despreza o jornalismo da fofoca, da notícia policialesca, da bobagem travestida de "informação". Ele quer questionar o poder, deseja jogar luz sobre um movimento do Partido Republicano, apelidado de "tea party", que ele considera um "novo talibã". O "tea party" - por sinal - tem um parente brasileiro que se chama bolsonarismo. O "tea party" defendia reduzir os programas de bem-estar social, opunha-se à reforma do sistema de saúde, queria menos intervenção do Estado na economia e, se pudesse, expulsaria todos os imigrantes sem documentos dos Estados Unidos. Era um movimento de extrema-direita, criado em 2009 e que lançou as raízes de uma nova direita, espalhada por países da Europa (Portugal tem o Chega), Itália, Espanha e que chegou ao poder no Brasil, em 2018, com a eleição de um deputado radical direitista do baixo clero, eleito presidente. A série "Newsroom" mostra principalmente a vontade do âncora de revolucionar a fórmula dos debates. Ao invés de um debate sonolento, orbitado por regras restritivas, ele desejava uma contenda de arguição incisiva, iconoclasta. O pessoal do Partido Republicano tirou da reta. 

Aproveitei esses dias pré-Carnaval para reler alguns livros de John Grisham. Se fosse resumir a obra dele em uma frase curta, diria: "O mal sempre vence".      

Achei esta imagem, que ilustra a postagem, significativa, dá ideia da bagunça que a gente tropeça no Instagram & Cia. por isso reproduzi aqui. Tem o aviso de "free royalties", significa que posso publicar, sem estar ferindo direitos autorais. Grato pelo designer que a produziu.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Nas redes sociais, predomina o caos e a censura

 


O tempo passa mais rápido. Uma espera de 30 minutos voa, enquanto o dedo vai deslizando as imagens. Uma fila de alpinistas aguarda para chegar ao topo do monte Everest; Ministério Público pede arquivamento de processos; quadrinhos coloridos contam uma piada sobre o caos climático; dengue e a vacina; dois lutadores se golpeiam, um deles nocauteia o outro; imagem de Paris; carro manobrando; imagem de Veneza e as gôndolas; dicas para deixar seus utensílios de prata brilhando; pressão alta; convite para visitar uma cidade; imagem de uma vila paradisíaca na Suíça...

A "linha do tempo" é uma sequência "linear" de imagens que se sucedem interminavelmente. A pessoa passa horas deslizando pela "linha do tempo". A própria pessoa contribui para alimentá-la. Posta imagens de um prato de comida, de um evento que participou, encena uma situação supostamente engraçada, compartilha cenas de desastres.

A rede social é um caos informativo. Embora se diga que os algoritmos reproduzem aquilo que seu perfil exige, acredite, isso é uma bobagem. Os algoritmos são sem noção. Durante anos, recebi vídeos de consumo rápido (chamados de "reels") com cavalos. Cavalos sendo amestrados, cavalos desfilando, cavalos comendo, cavalos, cavalos e cavalos. Tenho horror de andar a cavalo. Não tenho cavalo e mesmo assim o algoritmo acreditava piamente que eu era apaixonado por cavalos. 

Mesmo assim, a gente passa horas, dias, semanas, deslizando pela tela. A gente ri. Comenta algo com alguém. Encaminha uma informação. Digita, reclama, posta... É um turbilhão informativo, sem qualquer ordem ou classificação. Somos arrastados por ela, dominados por ela, a famosa "rede social".

Aparentemente, é um espaço democrático, onde você pode postar suas opiniões, divulgar suas ideias, expor seus ideais. Só que não é bem assim. A rede social é um espaço de vigilância constante. Se você publica algo que uma determinada maioria se posiciona de forma contrária, pode aguardar, você terá suas postagens censuradas.

No meio do caos informativo, prepondera a censura. Essa censura vem de "cima". Cai verticalmente sobre a sua cabeça. Você pode até tentar se defender. Envia e-mails, liga para conhecidos, procura o sindicato da sua categoria. Ao final, você será derrotado. A rede social não vai lhe dar ouvidos. Eles estão em um patamar superior à humanidade.

Você teve o seu blogue censurado pelo Facebook? Tudo bem, por que isso aconteceu? Difícil saber. O Facebook não tem telefone, não tem uma pessoa que vai ouvir seus reclamos. É uma parede. Rígida, imóvel, que não lhe deve qualquer satisfação. Embora a Constituição brasileira diga que todos os brasileiros têm direito à liberdade de expressão, o artigo quinto, parágrafo quarto é solenemente ignorado pela rede social. Basta um grupo reclamar em peso e seu pensamento será varrido pelo Facebook, Instagram et caetera.

Em 1º de outubro de 2023, publiquei neste blogue um texto, intitulado "Precisamos falar sobre o aborto". Provavelmente, grupos religiosos, que se opõem ao aborto, reclamaram em massa ao Facebook, que, sem sequer ler o artigo, sem entrar em contato comigo, simplesmente, proibiu a divulgação de minhas postagens. O texto teria ferido suscetibilidades. Na realidade, acredito que esse pessoal não se deu ao trabalho de ler o texto. Diante do título, foi correndo protestar e atendido, sem reservas e de forma imediata, pela rede social.

A rede social não é apenas caótica. É um organismo perigoso que fere a liberdade de expressão e não deve satisfação a qualquer organismo de classe. Mesmo assim, o mecanismo é hipnotizante. A gente não cansa de rolar a tal da "linha do tempo": imagem de Amsterdã com neve nas ruas; um hipopótamo briga com um tigre; um castelo; propaganda de uma montadora de veículos; entrevista de 1986 com Zeca Pagodinho; pauta do Noturno número 9 de Chopin; corrida de Fórmula 1; maestro regendo orquestra...

        

Humorista Leo Lins é censurado pela Justiça Federal

  Leonardo de Lima Borges Lins, o humorista condenado O início é óbvio: Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, que trata...