quarta-feira, 17 de março de 2021

57 milhões 796 mil e 986 brasileiros têm culpa

 

A esquerda popularizou o termo "genocida", carimbando com ele a testa do nosso querido presidente Jair Bolsonaro. O termo "pegou", depois de o "influencer" Felipe Neto ter sido intimado a depor, após chamar Bolsonaro de "genocida". 

De acordo com o que diz o dicionário (Houaiss, por exemplo), trata-se de um exagero. Bolsonaro seria genocida se tivesse autorizado a matar 300 mil brasileiros, em campos de extermínio. Não foi o caso.

Adolf Hitler era genocida. Acreditava no extermínio de judeus, homossexuais, ciganos, comunistas, para tornar a raça humana "mais pura". Ninguém foi tão burocraticamente eficiente para traçar toda uma política genocida como os nazistas. Havia a logística, com o transporte de judeus de toda a Europa invadida, em comboios de trens. A engenharia, com a criação de fornos crematórios, câmaras de gás e a edificação de campos de concentração. Havia pesquisa, como o médico Josef Mengele, que amputava membros (sem qualquer necessidade), injetava clorofórmio no coração e produtos químicos em olhos de suas vítimas, para tentar "mudar a cor". Hitler e nazistas eram genocidas.

Felipe Neto está na lista das "100 pessoas mais influentes do mundo". Ao saber que o "youtuber" havia sido chamado para depor, o ex-presidente Lula correu para apoiá-lo e mostrar solidariedade. Político é assim: pensa com a cabeça e nunca com o fígado. Felipe Neto usou toda sua influência digital para torpedear o governo Dilma e, por extensão, o PT. Falava palavrões, xingava, esbravejava. Publiquei um vídeo dele no Facebook, com toda essa coleção de impropérios, e ele censurou a divulgação por se tratar de "propriedade pessoal". O governo Dilma nunca pensou na hipótese de chamar o golpista Felipe Neto para depor. Em outras palavras, usar a violência jurídica para silenciar um opositor. Felipe Neto xingou e atacou o governo Dilma até o final, até o impeachment. Ele mesmo declarou, recentemente, que falava barbaridades contra o PT e que nunca foi alvo de perseguição política/judiciária. Agora, no governo Bolsonaro, ele virou alvo e correu assustado, pedindo ajuda. 

Pensando com a cabeça e não com o fígado, os frequentadores de redes sociais de esquerda não pensaram duas vezes. Criaram o carimbo com o termo "genocida" e bateram com a tinta na cara do presidente, saindo em defesa do "influencer". Embora Felipe Neto seja golpista e não mereça toda essa solidariedade.

Eles sabem que Bolsonaro não é genocida de fato. Bolsonaro é um dirigente péssimo, sem a "liturgia do cargo", talvez o pior presidente brasileiro da história. Getúlio de 1930 a 1945 e os ditadores de 1964 a 1985 não entram na relação, porque não foi a gente que escolheu; eles se impuseram pelas armas, então, ficam de fora. Como costuma dizer Luis Fernando Veríssimo, "a gente tem a razão, mas eles têm as armas".

No ano passado, Bolsonaro cometeu todas as bobagens possíveis, sentado no posto mais alto da nação. A exemplo de seu homólogo, o derrotado presidente Trump, não conseguiu compreender a gravidade da doença covid-19. Foi incapaz de prever o desastre que se consumou ao longo de 12 meses. 

Escrevo agora quando morreram, em um ano, quase 300 mil brasileiros. Durante a 2ª Guerra Mundial, perderam a vida 2 mil soldados brasileiros em combate ou de doenças diversas. Somente ontem, dia 16 de março, em um único dia, foram a óbito 2.798 pessoas, vítimas de covid-19. Bem mais que todos os pracinhas que morreram, combatendo os nazistas, em solo italiano.

A sucessão de erros de Bolsonaro é tão extensa e cansativa que já foi discutida, comentada, dissecada, diariamente, por tudo quanto é analista político de esquerda, centro, direito, do raio que o parta.

Lembro de Bolsonaro em um jardim (acho que era no Palácio do Planalto), erguendo uma caixa de cloroquina, como se fosse um capitão da Seleção, ostentando a taça de campeão do mundo. Dezenas, centenas, milhares de cientistas diziam que cloroquina não era indicativo para controlar a covid-19. Mostravam estudos técnicos. Aliás, não havia qualquer tratamento para a covid-19. A única solução seria ter uma vacina. Na época, lá no início da pandemia, dizia-se que a vacina, se viesse, demoraria cerca de um ano. Esse era o tempo que os cientistas levavam para estudar o vírus e criar formas de torná-lo inofensivo ao organismo humano. Felizmente, a ciência correu contra o tempo e surgiram várias vacinas, entre elas a Coronavac, produzida no Instituto Butantan, em parceria com os chineses da Sinovac. 

Em julho do ano passado, quando os laboratórios já comercializavam a vacina, por que o governo Bolsonaro não comprou os imunizantes? Por absoluta incompreensão da realidade que o cercava.  

Lá atrás, no início das restrições de mobilidade, já se falava que a melhor resposta contra a epidemia eram o uso da máscara de proteção e o distanciamento social. Por isso, cafés, bares, restaurantes, centros comerciais de rua, shoppings, entre outros, precisariam ser fechados para evitar o contágio pelo coronavírus, que provoca a doença covid-19. 

Mesmo diante da esmagadora postura de cientistas de tudo quanto é canto da Terra, o presidente Bolsonaro insistia no negacionismo. Não usava máscara, era contra o fechamento do comércio e fazia pouco das vacinas que começavam a surgir, como a Coronavac. Dizia que não iria tomar, por não saber a origem do produto. Seus correlegionários, diplomaticamente despreparados, faziam pilhéria com os chineses. O então ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou um texto, como se fosse o Cebolinha (personagem de Maurício de Souza), trocando os "Ls" pelos "Rs", tirando sarro do jeito de falar dos chineses. Dias atrás, a mãe de Bolsonaro foi vacinada. O medicamento utilizado foi o "chinês" Coronavac. 

No início desta semana, ficamos sabendo que teremos um novo ministro da Saúde. É o quarto no governo Bolsonaro. É um entra e sai no Ministério, evidenciando um comando que titubeia, que não sabe bem para qual lado ir. Enquanto isso, os hospitais estão lotados. Não há mais vaga nas Unidades de Tratamento Intensivo. Pacientes morrem por falta de ar, em desespero. Nas favelas, as pessoas passam fome. Precisam sobreviver com esmolas, doações ofertadas por beneméritos. É um estado que trata mal seus governados. Não dá a mínima para o sofrimento alheio. O país é uma ilha, cercada de miseráveis por todos os lados.

Voltando à questão inicial, Bolsonaro não é genocida, mas suas ações errôneas, sua incapacidade em tratar um problema sanitário gravíssimo, inédito na história da humanidade, levaram ao quadro de terror atual. Ele é somente um presidente errado, um desastre administrativo. Foi uma péssima escolha de 57 milhões, 796 mil e 986 brasileiros. Todos esses eleitores têm culpa. Eles são culpados por terem eleito alguém que apoiava um torturador, alguém que se mostrava homofóbico e, em vários momentos, racista (há registros de falas contra japoneses, indígenas, chineses e afrodescendentes). Esse alguém, esse político obscuro, não apoiava o torturador apenas na sala escura, mas de boca aberta, a plenos pulmões, ao votar "sim" pelo impeachment da presidente Dilma, "em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra".

Na cabeça de quem seria possível imaginar que um político dessa estatura moral seria capaz de fazer um bom governo? Todos sabiam quem ele era, como ele pensava. Não ia dar certo, como de fato não deu. 

Candidato, Bolsonaro era então um político menor, extremista, que viveu quase três décadas à sombra das benesses públicas. Carregou com ele três filhos - 01, 02, 03, que abocanharam sua "teta" na carreira política. Pelo que as investigações estão apontando, Jair, Flávio e Carlos podem ter usado o esquema de "rachadinhas" para engordar o patrimônio. "Rachadinha" é um nome simpático, bonitinho. Na prática, os especialistas em política chamam de um nome mais feio: "corrupção". Com a "rachadinha", o político se apropria de parte ou da totalidade do salário de um assessor (existente ou "fantasma"). Não é algo novo, inédito, na política brasileira. É só mais um descalabro cometido pelos políticos, entre tantos. Eleito como expoente da luta contra a corrupção, contra o comunismo (sempre o comunismo!), percebe-se que não era bem assim. Como explicar os 89 mil reais, depositados por Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro?  

Escolhas erradas podem representar a diferença entre a vida e a morte. No caso brasileiro, a escolha sabidamente errada de 57 milhões, 796 mil e 986 eleitores levou o País ao estado desolador em que se encontra hoje. 

Meus caros eleitores de Bolsonaro, ontem morreram quase três mil pessoas. Se o presidente, em março do ano passado, tivesse defendido o isolamento social, a paralisação das atividades de comércio de rua, o uso de máscaras e não ficasse defendendo medicamentos inócuos; muita gente teria sobrevivido. Bastava ouvir os infectologistas, os cientistas. Mas não. 

Um amigo, eleitor e admirador de Bolsonaro, morreu vítima de covid-19. Era alguém divertido, feliz da vida, que, seguindo o exemplo de seu líder maior, não usava máscaras, jogava futebol nos fins de semana, fazia churrasco com o pessoal. Não estava nem aí para o inimigo invisível. Ele ficou doente no sábado. Na sexta-feira seguinte, morreu. Não pudemos nos despedir. Não teve velório. Nada. Ele estava aqui no trabalho e, no momento seguinte, não estava mais. Nunca mais estaria. 

Nesse momento de gravidade inédita e devastadora, a população precisava mais do que um presidente. Tinha necessidade de um líder, um político carismático, inteligente, preparado, com tirocínio para o cargo. No lugar desse perfil de presidente ideal, veio o que está aí. E o resultado não poderia ser pior.   

 Estamos em março. Faltam nove meses para acabar o ano. E outros 12 meses para terminar o mandato de Bolsonaro. Pesquisa (Datafolha) indica que 46% querem impeachment de Bolsonaro. Seria um sonho, mas pensando bem tomara que ele fique até o fim do mandato. São mais 21 meses de dor e sofrimento diário. Até os 57 milhões, 796 mil e 986 eleitores aprenderem a votar. 

   

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