segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A coragem de Glenn Greenwald



Autor de livros, jornalista em tempo integral, premiado, inteligente, rápido no gatilho intelectual, Glenn Greenwald, 52 anos, é admirado, principalmente, pela sua coragem. 

Casado com o deputado David Miranda, "homossexual assumido" portanto, como se diz no cabeleireiro, Greenwald é um combo de atração do ódio de bolsonaristas e afins.

A série de furos jornalísticos que ele conseguiu com as gravações de promotores da Lava Jato, em conversas íntimas com o então juiz Sergio Moro, expôs ao mundo aquilo que todo brasileiro, ligeiramente informado, já imaginava. Moro não era um juiz imparcial. Ao contrário. Longe disso. Far away

Moro parecia liderar a operação Lava Jato, ajudando na coleta de provas, orientando investigações, julgando e condenando, mesmo sem as provas necessárias. Como foi o caso do ex-presidente Lula, que está preso por causa de um apartamento no Guarujá, onde ele nunca morou, nem nunca foi dele.

A Lava Jato foi a maior operação do Judiciário brasileiro contra a corrupção. Inegável. O problema é que - como a Vaza Jato de Greenwald mostrou - nem sempre seus protagonistas agiram dentro da lei. 

As mensagens secretas entre Moro e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, indicam que o Judiciário foi usado para fins políticos. O principal deles: impedir a eleição de Lula, que liderava todas as pesquisas de intenção de voto. Havia ali uma colaboração malcheirosa entre promotores e o juiz. 

Na trama para impedir a eleição de Lula, os procuradores, colegas de Deltan, reclamavam dos desvios éticos de Sergio Moro. Havia ainda uma cortina de fumaça (para usar uma expressão nova) que levava os ingênuos a acreditar que a Lava Jato também investigava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 

Enquanto Moro virava Superhomem, Deltan Dallagnol aproveitava a fama para faturar os tubos com palestras. Em uma dessas palestras, Dallagnol recebeu R$ 33 mil da companhia de tecnologia Neoway. O problema: a Neoway era investigada pela Lava Jato, citada numa delação de Cândido Vaccarezza.

As conversas revelam a preocupação da Lava Jato, com os enroscos legais de um dos filhos do presidente, Flávio Bolsonaro. O ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, fez movimentações financeiras suspeitas. Iniciadas as investigações, Queiroz desapareceu e nunca mais foi encontrado. 

Seria uma boa se algum jornalista mais atrevido localizasse Queiroz e revelasse o paradeiro dele. Até a deputada Janaína Paschoal gostaria de saber onde foi parar o Queiroz.

Quando ficou sabendo da confusão em que Flávio Bolsonaro estava metido, Moro preferiu nada fazer. Temia, provavelmente, perder o cargo de ministro. Em 21 de julho, o The Intercept publicou outra bomba:

"No dia 8 de dezembro de 2018, Dallagnol postou num grupo de chat no Telegram, chamado Filhos do Januario 3, composto de procuradores da Lava Jato, o link para um reportagem no Uol sobre um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. 

"Segundo o texto, a “transação foi apontada como 'atípica' pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e anexado a uma investigação do Ministério Público Federal, na Lava Jato”. 'Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A comunicação do Coaf não comprova irregularidades, mas indica que os valores movimentados são incompatíveis com o patrimônio e atividade econômica do ex-assessor'”.

O promotor Roberto Pozzobon avaliou: "1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas". Aline Correa era deputada pelo PP de Pernambuco, filha do também deputado Pedro Correa, condenado no Mensalão. Aline foi alvo de processo criminal da Lava Jato.

Moro ficou quietinho. A Lava Jato preferiu continuar batendo em Lula e cia. do que enveredar por essa seara de espinhos e maus  odores. Queiroz, por falar nele, ainda não deu as caras. Se você, leitor, souber onde ele se encontra, por favor, dê um toque para a gente.

A Vaza Jato de Greenwald teve o mérito de tirar a virgindade ética de Moro e dos promotores da Lava Jato. Não havia ali, necessariamente, busca pela verdade, nem apenas luta contra a corrupção. O alvo era, nitidamente, político. Destruir Lula e o PT. Foram bem-sucedidos. 

Não se pode esquecer que as investigações da Lava Jato tiveram o mérito de mostrar um amplo e encardido esquema de corrupção, envolvendo políticos, empreiteiras, funcionários da Petrobras e operadores financeiros. Foram bloqueados 2 bilhões e 400 mil reais e repatriados 745 milhões de reais. Condenadas 159 pessoas. 

O PT, como mostra o documentário Democracia em vertigem, precisou se aliar às velhas oligarquias, adotar os mesmos procedimentos, para chegar - e se manter - no poder. 

A compra de deputados pelo Mensalão, o escândalo do Petrolão para corromper políticos de vários partidos (PT, PMDB, PP), trouxeram vergonha para aqueles simpatizantes que, nos anos 80, ostentavam com orgulho o broche da estrelinha vermelha.

O PT não inventou a corrupção, mas mergulhou nela. Esmerdeou sua bandeira. Destruiu um dos mais importantes projetos de igualdade econômica, que presenciamos no Brasil, ao permitir que seu flanco fosse aberto para penetração da direita raivosa. 

Chegou agora o governo ultraliberal de Jair Bolsonaro para aniquilar direitos adquiridos, destruir sonhos acadêmicos, cortando verbas das universidades federais e bolsas de estudo. O País está paralisado. Imóvel. Afundando, como um elefante doente no lamaçal.   

Felizmente, podemos contar com jornalistas do porte de Glenn Greenwald, esse norte-americano, que parece um personagem de Grahan Greene, só que às avessas. Greenwald é um americano intranquilo. Alerta. Pronto a implodir as casamatas da direita beligerante, com seu corajoso site The Intercept

Se fôssemos contar apenas com a mídia tradicional, muito provavelmente as conversas hackeadas da turma de Moro/Lava Jato jamais chegariam ao nosso conhecimento. Como mostram as pesquisas, o povo brasileiro nunca desconfiou tanto da mídia tradicional como agora. E tem toda razão.   


      


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