terça-feira, 25 de junho de 2019

Demissões de jornalistas, macarthismo e Bolsonaro

Raquel Sheherazade


           Vivemos uma época estranha. Os jornalistas não trazem mais notícia. Eles viraram a notícia. 

           Ontem, o âncora da TV Bandeirantes, Fábio Pannunzio, demonstrou solidariedade a Raquel Sheherazade e Paulo Henrique Amorim. Hoje, foi a vez do âncora da Rádio BandNews, Eduardo Barão, seguir na mesma linha. Eles disseram, mais ou menos, o seguinte: "Embora não concorde com os comentários deles, no entanto..." 

          Ou seja, a casa (o grupo Bandeirantes) deu ordem para seus principais nomes criticarem a pressão feita por Luciano Hang, "o véio da Havan", como ele é conhecido nas redes sociais, para o empresário Senor Abravanel (Silvio Santos, para os íntimos) "demetir" a comentarista Sheherazade. Paulo Henrique Amorim, pró-Lula e antiMoro, foi afastado, sumariamente, da TV Record. O motivo do afastamento é claro: suas posições políticas.

          Quando soube que Silvio Santos havia extinto o Departamento de Jornalismo do SBT (sobrou só Roberto Cabrini e sua equipe para "apagar a luz", segundo observou Ricardo Feltin no UOL), Hang escreveu: "Ainda falta gente para demetir (sic). Raquel é uma delas". 

           Luciano Hang foi chamado de "ignorante" pelo professor e historiador Marco Antonio Villa, em seu programa no YouTube, por ter escrito demitir erradamente. Villa, por sinal, também foi demitido da Rádio Jovem Pan, depois de atacar de maneira fulminante o método Sergio Moro de fazer justiça.

          Luciano Hang deveria, isso sim, ser processado por algum ambientalista por ter espalhado pelo País réplicas gigantescas da Estátua da Liberdade, que deixam o Brasil mais feio,  subdesenvolvido, miserável, inferior.

           Reinaldo Azevedo, que cunhou a expressão "petralhas", ao longo de 13 anos de crítica incansável ao Partido dos Trabalhadores, demitiu-se da Rádio Jovem Pan e da Revista Veja, em maio de 2017, ao ter uma conversa com a irmã de Aécio Neves, vazada pela Procuradoria Geral da República. 

           Na época, Azevedo discordou da forma como Aécio foi tratado pela Veja e qualificou a publicação como "nojenta". Azevedo também sairia da RedeTV, onde fazia comentários políticos, coçando o saco, em sua despedida. 

            Hoje, Azevedo apresenta um programa de rádio, às 18h, na BandNews FM. É quase um monólogo, modorrento, ególatra, com a participação titubeante de uns extras, focas do jornalismo, que funcionam como escada. Nos últimos tempos, a exemplo do que fazia Paulo Francis, Azevedo busca a oposição. Por isso, critica Moro. Pede a saída do ministro da Justiça. Dá destaque para o episódio Vaza Jato. 

          O jornalista esportivo Mauro Naves, 30 anos de excelentes serviços prestados ao Esporte da TV Globo, ardeu em praça pública ao ter seu nome citado pelo Jornal Nacional.  O telejornal informou seus telespectadores que Naves havia sido afastado da equipe de jornalismo, depois de ter se envolvido no caso Neymar/Najila.

            Tempos atrás, William Waack, todo poderoso âncora da TV Globo, perdeu o emprego e virou manchete nacional ao fazer um comentário racista. Hoje, está na CNN Brasil.

           Fala-se em macarthismo no Brasil. Nos anos 50, durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, o senador Joseph McCarthy, iniciou uma caça às bruxas, buscando comunistas até debaixo do tapete. O filme Trumbo  é didático a respeito. Quem não quiser ler sobre o período, pode se instruir vendo o filme.

           Será que o Brasil vive o seu macarthismo? Os reacionários Villa e Sheherazade teriam se tornado comunistas de um dia para o outro? 

            Quem trabalhou em jornal sabe que não existe liberdade de imprensa no Brasil. O bordão é antigo, mas é sempre bom a gente relembrar. Existe "liberdade de empresa". Não de imprensa. 

             Villa era incensado na Rádio Jovem Pan, onde batia, ferozmente, no governo petista. Era um açougueiro batendo na carne. Amaciando. Amolecendo. Aguardando o momento tão esperado...A queda da presidente Dilma, no golpe de estado, que colocou o vice-presidente Michel Temer no poder. 

             Dilma saiu em 31 de agosto de 2016 do governo. Agosto, por falar nisso, é um mês complicado para o Brasil. Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros pedia demissão e se afastava da Presidência, gerando uma crise institucional que redundaria no golpe de estado que levou à Ditadura Militar. Em 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas encerrou o seu governo com um tiro no coração. "Saio da vida para entrar na história".  

              Como diz o empresário Senor "Silvio Santos" Abravanel, "se for para criticar o governo, é melhor ficar quieto". Reacionária até o último fio de seu cabelo loiro, Sheherazade se deu bem, enquanto batia em Dilma e nos "petralhas". Era uma entusiasta do método Moro de fazer justiça e da Lava Jato. Quando Bolsonaro assumiu, ela achou que tinha direito de opinar. Criticou o presidente, criticou Moro e levou um puxão de orelha público do apresentador e dono do SBT. Na prática, Silvio Abravanel cortou as asinhas de Sheherazade. 

              No futuro, assim como ocorreu com Waack, ela deve ser acolhida, fraternalmente, pela CNN Brasil, dirigida pelo biógrafo de Edir Macedo, Douglas Tavolaro, ex-chefão da Record.

               Não há macarthismo no Brasil. O governo não precisa se preocupar em pedir à sua líder Joice Hasselmann que instaure um tribunal de exceção para caçar os comunistas, escondidos nas redações. Hasselmann, que exalta a Ditadura Militar, sempre que solicitada, certamente, cumpriria sua tarefa com gáudio e pompa. Mas não é o caso. 

               Nos grandes meios de comunicação brasileiros, em que a mídia apoiou entusiasticamente o golpe, os jornalistas não têm direito de expressão. Eles podem falar o que quiserem, desde que suas opiniões sejam as mesmas dos donos dos meios de comunicação. Caso contrário, vão perder o emprego, como o nosso querido professor Marco Antonio Villa, que o YouTube lhe seja leve.  

                

                                        

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