Adoro tecnologia. Sou fã dos computadores e afins. Quando era
repórter, lá no século passado, sofria escrevendo no papel. A máquina de
escrever tinha fita que gastava e precisava ser trocada, justo na hora em que o
relógio era nosso maior inimigo.
Você tirava a lauda da
máquina, desesperado para entregar a reportagem ao editor, e ela rasgava bem na
metade. Tinha que correr para grudar com durex. Ficava um horror.
Às vezes, você se lembrava de
uma informação importante que precisava entrar no meio da lauda 5. Armado de
tesoura e cola, o repórter cortava aqui, grudava ali. O editor corrigia.
Anotava com a caneta por cima e o resultado era quase sempre lastimável.
Com a chegada dos computadores,
o texto pode ser alterado à vontade. Tira daqui, sobe ali, altera, volta.
Errou? É só retornar ao ponto de origem. Uma maravilha!
E quando você precisava sair do
ponto A, em São Paulo, para chegar ao ponto B?
Nossa, tinha que recorrer ao
Guia 135 mil Ruas da Editora Abril. Achava o lugar de destino e ia meio
dirigindo, meio olhando o Guia, até bater na traseira daquele caminhão, onde se
lia no para-choque: "Pobre é que nem pneu: quanto mais trabalha, mais liso
fica".
Para a nossa alegria, Uri
Levine, Ehud Shabtai e Amir Shinar - três empreendedores israelenses,
auxiliados por 80 pessoas, - criaram, em 2008, o aplicativo Waze, uma
corruptela em inglês, significando "ways", caminhos.
Em 2012, o Waze chegou ao
Brasil e, no ano seguinte, o Google o comprava pela bagatela de 1 bilhão de dólares.
O Waze sabe a hora que você vai
chegar no seu destino. Ele sabe o caminho que você fará e vai informá-lo onde
estão os radares, os policiais, os carros quebrados. O Waze é um sabe-tudo do
trânsito e similares.
Na segunda-feira, três dias
depois daquela ponte ter caído na marginal Pinheiros, o Waze me levou por um
longo passeio por São Paulo. Estive em bairros, que nunca havia visitado.
Entrei em ruas que espero nunca mais entrar novamente. Cortei à direita, à
esquerda. Subi e desci. Passei por avenidas, por ruas largas e estreitas. Tudo
isso em meio a uma chuva inclemente.
A cereja do bolo foi o Waze ter
me levado dar uma volta pela favela de Paraisópolis. Aquilo foi o crème de la crème. O bairro, onde moram
100 mil pessoas, tem ruas estreitas, com carros estacionados em ambos os lados.
Comerciantes colocam caixotes e peças de mobiliário para impedir o
estacionamento em determinados locais. Não há sinalização, nem bom senso. Os
motoristas ficam simplesmente travados, sem poder ir, nem voltar. Caminhões de médio porte não conseguem fazer conversões. Precisam exercitar uma série de manobras árduas, em espaço diminuto.
O Waze é sensacional, mas não é à prova da estupidez humana, nem da omissão das autoridades.
A circulação é delirante. Imagine você criar o pior sistema de tráfego da história da humanidade? Pensou em algo que não dá certo, que não funciona?
Pois é, assim é o trânsito na favela de Paraisópolis.
O Waze é sensacional, mas não é à prova da estupidez humana, nem da omissão das autoridades.
A circulação é delirante. Imagine você criar o pior sistema de tráfego da história da humanidade? Pensou em algo que não dá certo, que não funciona?
Pois é, assim é o trânsito na favela de Paraisópolis.
É interessante como o poder público, no caso o Departamento de
Trânsito municipal, não faz o menor esforço para pôr ordem na bagunça. Como é
um bairro de gente pobre, então, deixa os coitados se ferrarem.
Por que a Prefeitura de São Paulo não se mexe? Não amplia as ruas, não as sinaliza, não transforma aquele desastre urbano, em um lugar digno a seus moradores?
Resumo da ópera: foram 30 minutos encapsulado na favela.
Por que a Prefeitura de São Paulo não se mexe? Não amplia as ruas, não as sinaliza, não transforma aquele desastre urbano, em um lugar digno a seus moradores?
Resumo da ópera: foram 30 minutos encapsulado na favela.
Em conversa com um prestador de serviço, ele me disse que, quando
tem pancadão no bairro, os motoristas ficam presos dentro dos veículos e são
obrigados a dormir ali mesmo, esperando o dia amanhecer para se
locomover.
Tecnologia é bom, o Waze é demais, mas tem hora que a gente lembra do caipira de Monteiro Lobato que dizia: "Soltar o saci de dentro da garrafa é fácil, quero ver colocar ele lá dentro de novo".
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