terça-feira, 13 de novembro de 2018
Hoje, Trump proibiria Stan Lee de entrar nos EUA
Stanley Martin Lieber, mais conhecido como Stan Lee, era filho de um casal de judeus romenos que havia emigrado para os Estados Unidos e se radicado em Manhattan, Nova York. Se fosse hoje, Donald Trump deixaria Stan Lee na fronteira. Os EUA ficariam sem seu Homem Aranha e os demais personagens da franquia Marvel.
A família de Stan Lee emigrou para os EUA nos anos 1920. Naquela época, ainda fazia sentido o poema de Emma Lazarus que a gente lê no pedestal da Estátua da Liberdade: "Dai-me os seus fatigados, os seus pobres, as suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade..."
Hoje, Trump envia um exército, fortemente armado, para impedir os pobres, "as massas encurraladas", que vêm de El Salvador, Honduras, Nicarágua de entrar no país. Brasileiros pobres também não são bem-vindos. Mexicanos, em igual situação social, igualmente são jogados do lado de lá da fronteira.
O próprio Trump não teria nascido nos EUA, se sua meia dúzia de parentes imigrantes tivesse sido impedida de passar pela "imigra", como os latino-americanos chamam a polícia de Imigração "border protection".
A foto que ilustra esta postagem refere-se a uma cena do filme Homem Aranha. O criador do personagem - Stan Lee - cruza acidentalmente com Peter Parker (interpretado por Tobey Maguire, de longe o melhor Homem Aranha), em uma rua de Nova York, e fala aquela frase que sintetiza a filosofia dos super-heróis: "Uma pessoa pode fazer uma grande diferença".
Fã de quadrinhos, o Homem Aranha sempre foi o meu preferido. Acredito que todo adolescente se veja representado naquele personagem problemático, mal compreendido, que quer fazer o bem, mas sente-se soterrado pelas dificuldades financeiras e amorosas. Peter Parker é pobre. É explorado no trabalho precário. Sente-se culpado pela morte do tio (culpa, aliás, é o sentimento que predomina na adolescência). E morre de paixão por uma garota, que vai se casar com outro sujeito.
Não sei se foi influência do Homem Aranha, mas participei de movimentos sociais, acreditando, fervorosamente, na mensagem de que "uma pessoa faz a diferença". Quando você consegue reunir algumas pessoas em prol de um benefício comum, em geral, é visto com desconfiança. Como o cinismo impera, é quase inacreditável que alguém possa fazer algo pelos demais sem querer nada em troca.
A vida me provou que a fala clichê do criador do Homem Aranha pode ser verdadeira. Se você não se omitir, se for à luta, se conseguir reunir pessoas que pensem como você e querem melhorar a comunidade, é possível, sim, fazer a diferença.
O discurso do super-herói pode remeter à individualidade. É verdade. Só que a vida também nos mostra que alguém sozinho não faz coisa alguma.
Cabe abrir um parêntese. Desde que os homo sapiens aprenderam estratégias de caça conjunta para matar mamutes gigantes e outros mamíferos peludos de grande porte, a história comprova que unidos somos mais fortes. Pesquisadores apontam a extinção dos neandertais como consequência de seu isolamento. Geralmente, o caçador-coletor neandertal andava sozinho e não era páreo para seus primos - os homo sapiens - caçando sempre em grupo e em maior vantagem estratégica e numérica.
Fechando o parêntese, voltando ao Homem Aranha e outros super-heróis, o prazer do consumo de produtos da indústria cultural é sempre vicário. Nós nos colocamos na posição do super-herói que vai realizar algo que, inconscientemente, gostaríamos também de concretizar.
Quando o Homem Aranha consegue submeter seu adversário, depois de uma luta que parecia perdida; quando Peter Parker seduz Mary Jane, o leitor coloca-se no lugar do personagem e vive as mesmas emoções de forma vicária. Esse é o segredo das HQs, dos contos de fada, das novelas e dos bem-sucedidos filmes de Hollywood. Mas essa é uma outra história que fica para uma outra vez.
Ademã de leve que eu vou em frente...
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