sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Essa gente ingênua mostrou o seu valor


Lula foi condenado a 12 anos de prisão, por causa de um apartamento onde ele nunca morou, nem nunca foi dele. Dilma foi afastada da Presidência, levando o carimbo do impeachment na testa, não por ser corrupta, mas por culpa de um erro burocrático, chamado "pedalada". Os golpistas seguiram Maquiavel ipsis litteris: "Aos amigos os favores, aos inimigos, a lei".

A mídia arregimentou as massas, saturando telespectadores, ouvintes, leitores, com notícias sobre corrupção. Grupos de extrema-direita, como o MBL, promoveram manifestações.

Indignado com as denúncias da mão grande agindo na Petrobrás, o povo foi para as ruas. Carregou cartazes. Entoou gritos de ordem. "Fora Dilma!", gritavam, com toda a força de seus pulmões.

Esse MBL, que estava por trás das manifestações, seria um movimento de jovens, que tinham assistido à série da Globo Anos Rebeldes e se entusiasmado com formas de protagonismo político?

Tudo indica que não. O MBL, segundo o jornal The Guardian, é um braço tupiniquin do norte-americano Students for Liberty: 

"A Students for Liberty e a Atlas Network receberam financiamento de Charles Koch, que com seu irmão David controla a Koch Industries – a gigante de energia, combustíveis fósseis e petroquímicos dos EUA. 

"Fabio Ostermann, cientista político independente de Porto Alegre, no sul do Brasil, ajudou a fundar o MBL e também foi membro do ramo brasileiro da Students for Liberty. Ele teve aulas no Koch Institute for Human Studies na Virgínia por três meses", informa o The Guardian.

"Meu Deus! Então houve dinheiro norte-americano por trás do solapamento do governo Dilma Roussef?", perguntaria o ingênuo da bermuda, chinelo de dedo e barrigão de fora no churrasco, enquanto beberica o copo de cerveja. 

Para aqueles que usaram broche da estrela vermelha petista na lapela, que colocaram adesivos do PT nas janelas de suas casas, que agitaram bandeiras e participaram de boca-de-urna em prol de candidatos do Partido dos Trabalhadores, o Mensalão e o Petrolão tiveram o mesmo impacto que a facada de Brutus em Júlio César. Para um partido que pregava a ética na política, foi imperdoável. 

Surgiu em cena o juiz Sérgio Moro, que copiou o programa italiano Mãos Limpas, no comando de caça aos corruptos. No Brasil, a operação ganhou o nome de Lava Jato. Coube à Lava Jato processar e prender toda a cúpula petista (Lula, José Dirceu, Delúbio Soares, Palocci, João Vaccari Neto, entre outros). Empresários do porte de Marcelo Odebrecht e dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, também foram alcançados pelo "longo braço da lei". 

O juiz Sérgio Moro deixou de ser um integrante do Judiciário para ganhar perspectiva de super-herói. Moro e o ministro Joaquim Barbosa (que condenou os réus do Mensalão) viraram uma espécie de Vingadores. Eles deixaram a categoria humana para se transformar em personagens de filmes e séries. Barbosa era chamado de "Batman", por causa da toga, que lembrava a capa do homem-morcego.

Vieram as eleições presidenciais de 2018 e o PT construiu um muro de erros. Foi tijolo sobre tijolo de decisões equivocadas. O PT errou ao procrastinar a candidatura de Fernando Haddad. Até o último momento, a última hora, o último minuto, o candidato seria Lula. Só que Lula estava na cadeia. Até o habitante do exoplaneta Ross 128b sabia que Lula não iria concorrer, por causa da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o partido insistiu no erro. 

Quem anda nas ruas; quem toma ônibus, trem, uber; quem entra em boteco; quem vai em campo de futebol, na igreja, no shopping; em suma, quem estava vivo e morava no Brasil, sabia que o PT seria um ímã que atrairia o ódio de milhões de eleitores, inconformados com os escândalos de corrupção. 

Se ao invés de Bolsonaro, o PSL tivesse escolhido o Coringa para ser adversário de Haddad, o Coringa se elegeria fácil com 57 milhões de votos. Isto porque o PT está atravessado na garganta. 

A opção mais lógica e sensata seria abrir mão de ter um candidato à Presidência e fechar acordo com alguém mais palatável ao eleitorado, como Ciro Gomes, o Cirão da Massa. Na construção de seu muro de erros, o PT apostou no candidato único, um vice, alçado às pressas para a posição de majoritário. Boi de piranha a ser consumido no pleito.

O PT precisa agora reconstruir sua imagem. Fazer um rebranding. Pedir desculpas. Vestir as sandálias da humildade. Tirar Lula da cadeia e começar de novo. "A luta continua."  

Para muita gente que via Moro como um paladino da Justiça, ao aceitar cargo no governo Bolsonaro, o símbolo maior da Lava Jato parece ter despencado do Céu. Tornou-se humano como nós. Perdeu o grau angelical. Ele era alguém que dizia que jamais entraria para a política e, veja só, foi mudar o governo para ele entrar correndo pela primeira porta aberta. 

Como escrevi em posts anteriores, há jornalistas partidários, que fazem seu nome e sobrevivem na mídia golpista, atacando determinado partido. E há também representantes do Judiciário que fazem política, ocultos pela toga. 

Ao comentar a escolha de Moro para o Ministério da Justiça, Ciro Gomes foi enfático: "Sérgio Moro não é um juiz. É um político que tem fraudado sua toga com intrusões na política".

De fato, ainda não me mostraram a escritura que mostra que Lula é o proprietário do tríplex no Guarujá. Para 47 milhões de eleitores, que votaram em Haddad, a prisão de Lula parece injusta, por ter sido condenado - é sempre bom repetir - por causa de um apartamento que nunca foi dele e onde ele nunca morou.    

    





       

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Humorista Leo Lins é censurado pela Justiça Federal

  Leonardo de Lima Borges Lins, o humorista condenado O início é óbvio: Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, que trata...