quarta-feira, 12 de março de 2025

"Pesadelo na cozinha" tem foco na figura do pai

 


"Pesadelo na cozinha", apresentado pelo chef Erick Jacquin, 60 anos, está disponível na TV, no aplicativo Bandplay, YouTube, no canal por assinatura Max...A fórmula é semelhante ao de programas como "Hell's Kitchen", do chef boca suja Gordon Ramsay. 

Um chef experiente é chamado para salvar um restaurante (bar, lanchonete) em situação pré-falimentar. O chef aponta os erros culinários. Chama atenção para as falhas de organização do serviço oferecido aos clientes. Faz uma vistoria rigorosa no armazenamento de produtos perecíveis. Para depois, socorrer o estabelecimento remodelando o lugar e oferecendo uma segunda chance aos proprietários. 

Jacquin é uma espécie de pai, um personagem que Freud classificaria como superego. A princípio, ele é o pai dos anos 1940 e 1950. Só não espanca os filhos com a cinta, retirada dramaticamente da calça. O restante ele faz: grita, xinga, humilha, ofende. Parece imperdoável: "Você é uma desgraça para a profissão!", grita. Não economiza nos palavrões: "Essa comida está uma m..."; "a apresentação deste prato é uma m..."; "pra quem você vai servir essa m...". 

Ele fala com forte sotaque francês. Para ajudar o público, suas falas têm até legenda. Jacquin está há 30 anos no Brasil e deve fazer questão de manter o sotaque, para vincular sua figura pública à respeitável culinária francesa (sinceramente, depois de 30 anos vivendo em um país, acho que daria para não ter mais sotaque).

O público se diverte com o pai enraivecido. Ele chama o proprietário do restaurante e diz na cara do infeliz que ele é um incompetente, que não sabe administrar o lugar. Quase sempre faz a pergunta que deixa o sujeito aflito, a ponto de o homem se emocionar (alguns até choram nessa hora): "Por que você não fecha o seu restaurante?".

O melhor momento do episódio é quando Jacquin vai fazer as vezes de fiscal da Vigilância Sanitária. Ele investe nos recantos sombrios, onde se escondem freezers empoeirados, armários sórdidos, prateleiras imundas. Revira pacotes estragados de carne. Pega montes de beterrabas podres, tomates mofados, folhas pretas de alface e rúcula e atira tudo no lixo. Sem perdão. "Vai pro lixo", ele ordena. Às vezes, tem uma reação mais teatral ao nojo que sente vendo tanta podridão. Ele vomita. 

Depois, encara o proprietário, os cozinheiros e os demais integrantes da equipe e cobra profissionalismo:

"Como é que vocês não viram isso? Essa foi a carne que eu comi? Estava estragada. Podre. Vocês querem matar os seus clientes? Se a Vigilância Sanitária vier aqui, eles fecham seu restaurante.".

Cabisbaixa, a equipe ouve os impropérios calada. Depois, falando para a câmera, comentam que Jacquin estava certo, que eles deveriam ter tomado mais cuidado no armazenamento dos produtos, que dali em diante tudo vai melhorar.

Depois de fazer o papel do pai dos anos 1940/1950, Jacquin se transforma. Ele é o pai dos anos 1980/1990. O pai legal. O pai amigo dos filhos. É um superego do bem, protetor, carinhoso, amável. Ele vai ensinar novos pratos. Vai levar o grupo a uma atividade comunitária (todos remando juntos em um lago; todos procurando a saída de um labirinto), enquanto uma equipe irá restaurar a casa, trocando fiações gastas ou ligações elétricas malfeitas (as famosas gambiarras), substituindo panelas, coifas, fogões, pias e mudando radicalmente a fisionomia do restaurante.

Quando a equipe chega para ver o que foi feito, as reações são de espanto e incredulidade: "Nossa, como ficou bonito". As pessoas choram de emoção. A vida será melhor dali em diante. O restaurante foi salvo da bancarrota. 

O pai bondoso se aproxima e é beijado, acarinhado. Beija e se deixa beijar. É abraçado. Garçons, ajudantes de cozinha, cozinheiras, os donos estão felizes. É o happy-end, modelo série televisiva 2025.

Depois que o programa é exibido, o restaurante ganha uma notoriedade interessante. Ele passa a ser visitado por novos clientes. Gente que assistiu pela TV e quer testemunhar se a aventura foi bem-sucedida. "Pesadelo na cozinha" está na sua quarta temporada. É um sucesso. 

Numa época em que as pessoas estão cozinhando menos e comprando mais comida fora, a série é uma espécie de vingança dos clientes, em cima de todos aqueles estabelecimentos que venderam comida estragada e lhes fizeram ter diarreia, vômitos e febre delirante. Cada vez que Jacquin descobre um freezer abarrotado de comida pútrida e atira com violência na lata de lixo, o telespectador se satisfaz vicariamente. 

Especialistas em arquitetura e previsão do futuro garantem que em 2050 as casas não terão cozinha. Apenas um balcão, onde haverá uma air fryer. Sem fogão, sem panelas sujas. Muita comida processada ou comprada pronta e entregue por drones. Felizmente, já estarei na terra dos pés juntos, nessa altura dos acontecimentos.


"Pesadelo en cuisine" met l'accent sur la figure du père

"Pesadelo en cuisine", présenté par le chef Erick Jacquin, 60 ans, est disponible à la télévision, sur l'application Bandplay, YouTube et sur la chaîne payante Max... Le format est similaire à celui de programmes comme "Hell's Kitchen", du chef vulgaire Gordon Ramsay.

Un chef expérimenté est appelé à sauver un restaurant (bar, snack) en situation de quasi-faillite. Le chef pointe les erreurs culinaires. Il attire l'attention sur les défaillances dans l'organisation du service offert aux clients. Il effectue un contrôle rigoureux sur le stockage des produits périssables. Ensuite, il vient en aide à l’établissement en rénovant le lieu et offrant une seconde chance aux propriétaires.

Jacquin est une sorte de père, un personnage que Freud classerait comme le surmoi. Au départ, il incarne le père des années 1940 et 1950. Il ne bat juste pas les enfants avec la ceinture, qu’il retire dramatiquement de son pantalon. Pour le reste, il fait tout : il crie, insulte, humilie, offense. Cela semble impardonnable : "Vous êtes une honte pour la profession !", crie-t-il. Il ne ménage pas les jurons : "Cette nourriture est une m..."; "la présentation de ce plat est une m..."; "qui va manger cette m...".

Il parle avec un fort accent français. Pour aider le public, ses paroles sont même sous-titrées. Jacquin vit au Brésil depuis 30 ans et doit faire en sorte de garder son accent, afin de lier son image publique à la respectueuse cuisine française (sincèrement, après 30 ans de vie dans un pays, je pense qu’il devrait pouvoir se débarrasser de son accent).

Le public se divertit avec le père enragé. Il appelle le propriétaire du restaurant et lui dit en face qu’il est incompétent, qu’il ne sait pas gérer le lieu. Il pose presque toujours la question qui met le pauvre homme dans tous ses états, au point qu’il en pleure parfois (certains fondent en larmes à ce moment-là) : "Pourquoi ne fermez-vous pas votre restaurant ?"

Le meilleur moment de l’épisode est lorsque Jacquin endosse le rôle de l’inspecteur de la Surveillance Sanitaire. Il explore les recoins sombres où se cachent des congélateurs poussiéreux, des armoires sordides, des étagères sales. Il fouille des paquets de viande pourrie. Il prend des montagnes de betteraves pourries, des tomates moisis, des feuilles noires de laitue et de roquette et les jette à la poubelle. Sans pitié. "Au panier", ordonne-t-il. Parfois, il réagit de manière plus théâtrale face à l'horreur qu’il ressent en voyant tant de pourriture. Il vomit.

Ensuite, il regarde le propriétaire, les cuisiniers et les autres membres de l’équipe et exige du professionnalisme :

"Comment n’avez-vous pas vu ça ? C’était la viande que j’ai mangée ? Elle était pourrie. Pourrie. Vous voulez tuer vos clients ? Si la Surveillance Sanitaire venait ici, ils fermeraient votre restaurant."

La tête basse, l’équipe écoute les insultes en silence. Puis, en s’adressant à la caméra, ils commentent que Jacquin avait raison, qu’ils auraient dû faire plus attention au stockage des produits et qu’à partir de maintenant, tout ira mieux.

Après avoir joué le rôle du père des années 1940/1950, Jacquin se transforme. Il devient le père des années 1980/1990. Le père cool. Le père ami avec ses enfants. Il incarne un surmoi bienveillant, protecteur, affectueux, aimable. Il va enseigner de nouveaux plats. Il emmène le groupe à une activité communautaire (tout le monde rame ensemble sur un lac; tout le monde cherche la sortie d’un labyrinthe), tandis qu’une équipe restaurera la maison, en remplaçant les fils usés ou les connexions électriques mal faites (les fameuses "gambiarras"), en remplaçant casseroles, hottes, cuisinières, éviers et en changeant radicalement l’apparence du restaurant.

Lorsque l’équipe arrive pour voir ce qui a été fait, les réactions sont d’étonnement et d’incrédulité : "Wow, comme c’est beau." Les gens pleurent d’émotion. La vie sera meilleure à partir de ce moment-là. Le restaurant a été sauvé de la faillite.

Le père bienveillant s’approche et est embrassé, caressé. Il embrasse et se laisse embrasser. Il est câliné. Serveurs, aides-cuisiniers, cuisinières, les propriétaires sont heureux. C’est le happy-end, modèle série télévisée 2025.

Après la diffusion du programme, le restaurant gagne une notoriété intéressante. Il commence à être visité par de nouveaux clients. Des gens qui ont vu l’émission à la télévision et veulent voir si l’aventure a été réussie. "Pesadelo na cozinha" en est à sa quatrième saison. C’est un succès.

À une époque où les gens cuisinent moins et achètent plus de nourriture à emporter, la série est une sorte de revanche des clients, contre tous ces établissements qui ont vendu de la nourriture pourrie et leur ont causé des diarrhées, des vomissements et de la fièvre délirante. Chaque fois que Jacquin découvre un congélateur rempli de nourriture pourrie et la jette violemment à la poubelle, le téléspectateur se satisfait vicariquement.

Les spécialistes en architecture et prévision du futur garantissent qu’en 2050, les maisons n’auront plus de cuisine. Seulement un comptoir, avec une friteuse à air. Pas de cuisinière, pas de casseroles sales. Beaucoup de nourriture transformée ou achetée prête à l’emploi et livrée par drones. Heureusement, d’ici là, je serai dans l’au-delà, à ce moment-là des événements.          

terça-feira, 4 de março de 2025

Trump reedita Neville Chamberlain; Europa vai se armar

 


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, optou pela Rússia. Em encontro constrangedor com o líder ucraniano Wolodymyr Zelensky, ofereceu uma oferta de paz, semelhante a Neville Chamberlain, diante de Hitler. Em 30 de setembro de 1938, o então primeiro-ministro inglês cedeu parte do território da então Tchecoslováquia à Alemanha nazista. Chamberlain queria apaziguar a sanha agressiva alemã, impedir que Hitler iniciasse uma guerra de ampla escala na Europa. 

Trump fez a mesma coisa. Ofereceu a Zelensky uma oferta de paz embaraçosa: a Ucrânia permite que seu território invadido permaneça ocupado pelas forças russas e fica sem qualquer garantia que os russos não invadirão Kiev amanhã.

Chamberlain seria duramente criticado pelos historiadores por ter "aberto as pernas" a Hitler. A estratégia melhor teria sido voltar correndo para casa; armar-se até os dentes e se preparar para o ataque iminente dos nazistas.

Na época, não se podia confiar nas palavras de Hitler e asseclas. Hoje, o bom senso manda pôr os dois pés atrás, quando se trata de russos. Em 1994, Bill Clinton fez um acordo de paz com os russos, que redundou na retirada de todas as armas nucleares da Ucrânia. Em troca, os russos se comprometeram a "respeitar a integralidade do território ucraniano". 

A Rússia não respeitou a "integralidade ucraniana". Ao contrário. Em 2014, a Rússia invadiu e anexou a Crimeia, que era território ucraniano. Em 24 de fevereiro de 2022, Vladimir Putin invadiu a Ucrânia para "desnazificar" o país, que é presidido por um judeu (um "judeu nazista", acredite). A guerra completou três anos e pode se alastrar por toda a Europa. Em 2023, Clinton fez um mea culpa e disse que foi um erro tirar as armas nucleares da Ucrânia.

O encontro entre Trump e Zelensky chamou a atenção da mídia mundial. Nunca se viu tanto despeito, tanta falta de educação, tanta grosseria diante de um presidente de um país soberano. Com as pernas abertas, arrogante, postura relaxada e abjeta, boca semiaberta em escárnio, Trump encurralou o presidente ucraniano, dizendo que ele não queria a paz, que ele estaria querendo provocar a terceira guerra mundial. 

A reação na Europa foi imediata. O presidente francês, Emmanuel Macron, publicou em sua rede social: "Há um agressor: Rússia. Há uma vítima: Ucrânia". No domingo, líderes europeus se reuniram em Londres para reforçar o apoio a Kiev. 

Hoje, Trump suspendeu a ajuda militar à Ucrânia. Hoje, também, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von de Leyen, divulgou plano de cinco pontos e investimento de 800 bilhões de euro, para fazer frente à ameaça russa. 

Em 1939, a Alemanha nazista esqueceu o acordo com Chamberlain e invadiu a Polônia. Em 2025, a Rússia quer "terminar o serviço". Ocupar o restante do território ucraniano e não vai parar por aí. O projeto expansionista e imperialista de Putin deverá avançar sobre a Polônia, Alemanha, França etc.

Com o país devastado pela guerra, com milhões de refugiados procurando ajuda em países vizinhos, vendo diariamente seus amigos e familiares sendo mortos pelos mísseis e bombas russas, caminhando em meio a ruínas, o incansável Zelensky ainda teve que ouvir do jornalista Brian Glenn, correspondente do canal de extrema direita "Voz da America Real", uma pergunta provocadora:

"Por que você não usa um terno?"

Zelenski poderia ter dito: "Não uso terno, porque meu país está sendo devastado, seu idiota, imbecil". O líder ucraniano preferiu ser cortês e disse que usaria terno, quando terminasse a guerra.     

Trump reddit neville chamberlain, Europe go to arm

The President of the United States, Donald Trump, has chosen Russia. In an awkward meeting with Ukrainian leader Volodymyr Zelensky, he offered a peace proposal reminiscent of Neville Chamberlain's approach to Hitler. On September 30, 1938, the then British Prime Minister ceded part of Czechoslovakia's territory to Nazi Germany. Chamberlain sought to appease German aggression and prevent Hitler from initiating a large-scale war in Europe.

Trump did the same. He presented Zelensky with an embarrassing peace offer: Ukraine would allow its invaded territory to remain occupied by Russian forces, with no guarantee that Russia would not invade Kyiv tomorrow.

Chamberlain was harshly criticized by historians for "rolling over" for Hitler. A better strategy would have been to rush back home, arm themselves to the teeth, and prepare for the imminent Nazi attack.

At the time, Hitler's words and those of his henchmen could not be trusted. Today, common sense dictates caution when dealing with the Russians. In 1994, Bill Clinton made a peace agreement with the Russians, resulting in the withdrawal of all nuclear weapons from Ukraine. In return, the Russians pledged to "respect the territorial integrity of Ukraine."

Russia did not respect Ukraine's "territorial integrity." On the contrary. In 2014, Russia invaded and annexed Crimea, which was Ukrainian territory. On February 24, 2022, Vladimir Putin invaded Ukraine to "denazify" the country, which is led by a Jewish president (a "Nazi Jew," believe it or not). The war has now entered its third year and could spread across Europe. In 2023, Clinton admitted his mistake, saying it was wrong to remove nuclear weapons from Ukraine.

The meeting between Trump and Zelensky drew global media attention. Never before had there been such disdain, such rudeness, and such lack of respect toward the leader of a sovereign nation. With his legs spread, a relaxed and abject posture, and a half-open mouth in a mocking expression, Trump cornered the Ukrainian president, accusing him of not wanting peace and of provoking World War III.

The reaction in Europe was immediate. French President Emmanuel Macron posted on his social media: "There is an aggressor: Russia. There is a victim: Ukraine." On Sunday, European leaders gathered in London to reinforce their support for Kyiv.

Today, Trump suspended military aid to Ukraine. Also today, the President of the European Commission, Ursula von der Leyen, unveiled a five-point plan and an investment of 800 billion euros to counter the Russian threat.

In 1939, Nazi Germany disregarded its agreement with Chamberlain and invaded Poland. In 2025, Russia aims to "finish the job," occupying the remaining Ukrainian territory and not stopping there. Putin's expansionist and imperialist project is expected to advance into Poland, Germany, France, and beyond.

With the country devastated by war, millions of refugees seeking help in neighboring nations, and daily losses of friends and family to Russian missiles and bombs, the tireless Zelensky still had to endure a provocative question from journalist Brian Glenn, correspondent for the far-right channel "Real Voice of America":

"Why aren't you wearing a suit?"

Zelensky could have replied, "I'm not wearing a suit because my country is being devastated, you idiot, imbecile." Instead, the Ukrainian leader chose to be courteous, saying he would wear a suit when the war is over.


Humorista Leo Lins é censurado pela Justiça Federal

  Leonardo de Lima Borges Lins, o humorista condenado O início é óbvio: Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, que trata...