segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Os clichês preferidos das séries policiais

 

A série Monk era umas raras que fugia a quase todo clichê

Atualmente, estão disponíveis cerca de 400 séries policiais, exibidas diariamente pela TV aberta e pelo streaming (Netflix, Prime, Disney, Max..). As séries policiais recorrem a clichês, que se tornam exaustivos, tantas e tantas vezes são repetidos. Não é só série americana. Franceses, ingleses, nórdicos, turcos, mexicanos vão pelo mesmo caminho.

O detetive investiga um crime e chega num suspeito. Vai interrogá-lo. O suspeito ao ver o detetive sai correndo. Essa perseguição costuma demorar uns bons três minutos. O suspeito nunca corre em um local aberto - um campo de futebol, por exemplo. Ele sempre dispara por becos, escadarias e ruas movimentadas. Vai derrubando latas de lixo, panelas, sacos, engradados. Às vezes, entra na cozinha cheia de vapor de um restaurante e voam sopas e espaguetes. Em alguns casos, o suspeito invade uma casa noturna, com moças seminuas fazendo pole dance. O detetive desvia dos obstáculos. Aumenta a velocidade e, em determinado momento, vai conseguir pegar o fugitivo.

Se o suspeito estava no local do crime, se ele tinha alguma relação de inimizade com o morto, se suas roupas foram manchadas de sangue, ele parece tão culpado, mas tão culpado, que a gente entende que o infeliz é inocente. No decorrer do episódio, o detetive vai descobrir que - apesar das provas em contrário - o suspeito não tem culpa no cartório.

Outro clichê mais comum que Coca-Cola em mercado é o policial que precisa devolver o revólver e a insígnia a um chefe implicante e, em alguns casos, mal-intencionado. O policial está no caminho certo. Vai descobrir quem é o autor do crime, mas o chefe briga com ele, mostra descontentamento com a forma de agir do policial. Os dois discutem e o chefe obriga o agente competente a entregar seu distintivo e o revólver. Não termina aí. O policial é um rebelde e vai continuar a investigação até conseguir prender o culpado.

Séries policiais costumam utilizar uma dupla de detetives. Em alguns casos, são homem e mulher, para criar um clima de sensualidade na relação entre eles. Ou são dois homens, sendo um deles metido a cowboy, enquanto o outro segue as regras.

Outro personagem comum nos policiais é o médico legista. Geralmente, é um personagem obscuro, mal-humorado, ranzinza, que reage quase sempre com indignação à urgência do detetive que precisa saber o horário da morte da vítima. O legista vai antecipar - mais ou menos - o horário e dar indícios de que a vítima foi executada. O legista dirá, sem paciência que "depois das 14 horas", enviará o relatório completo da autópsia.

Uma série diferente que fugia de todos os clichês era "Monk", exibido de 2003 a 2010 (oito temporadas) e ainda disponível em streaming pela Netflix. O detetive Monk, interpretado por Tony Shalhoub, deixou a polícia, depois de sofrer um trauma emocional pela morte da esposa, assassinada em atentado a bomba. Cheio de manias e obsessões compulsivas, Monk era exatamente o antípoda do detetive clichê. Se cumprimentasse alguém, precisava higienizar as mãos. Era acompanhado por uma enfermeira e mostrava um talento inegável para descobrir uma pista, onde os policiais tinham fracassado. Monk era divertido. Deixava o público em desespero, quando se sentia bloqueado a ponto de permitir a fuga do bandido. Em um episódio, por exemplo, ele precisa subir em uma corda, mas, na metade do caminho, fica com medo da altura e o criminoso passa por cima dele, literalmente, durante a fuga. 

A série Monk venceu vários prêmios (seis Emmys) e três de melhor ator de comédia para Shalhoub. Os atores que fazem a escada para Shalhoub são do ramo, com destaque para Ted Levine, que faz o chefe de polícia (a princípio, inconformado com as habilidades de Monk; depois, parceiro); Bitty Schram (no papel de Sharona, a enfermeira de Monk), Stanley Kamel (o psiquiatra de Monk). Bitty Schram saiu na metade da terceira temporada. Dizem que por causa de uma negociação fracassada para tentar elevar seu faturamento. Foi substituída por Traylor Howard, que fez Natalie até o final. Interessante é que, antes de a série acabar, a enfermeira Sharona retorna no décimo episódio da oitava e última temporada, para uma espécie de despedida.

A quarta temporada da série "True Detective" deu a Jodie Foster um prêmio Emmy, neste ano, em reconhecimento a sua atuação. Esta quarta temporada é a pior de "True Detective". A história se passa no Alaska e tem tantos absurdos, tanta bobagem que tenho dúvidas se não teve mão do Var nessa premiação. 

Em tempo: escrevi sobre Jodie Foster e "True Detective" em 20 de fevereiro aqui neste blog. Leia e comente.

Em inglês:

"The favorite clichés of police series"

Currently, there are around 400 police series available, broadcast daily on open TV and streaming platforms (Netflix, Prime, Disney, Max, etc.). Police series often rely on clichés, which become exhausting as they are repeated over and over again. It's not just American series. French, British, Nordic, Turkish, and Mexican shows follow the same path.

The detective investigates a crime and identifies a suspect. They go to interrogate them. Upon seeing the detective, the suspect takes off running. This chase usually lasts a good three minutes. The suspect never runs through an open space—like a soccer field, for example. They always dash through alleys, staircases, and busy streets, knocking over trash cans, pots, bags, and crates along the way.


Sometimes, they run into a steamy restaurant kitchen, sending soups and spaghetti flying. In some cases, the suspect bursts into a nightclub with semi-nude women pole dancing. The detective dodges the obstacles, picks up speed, and eventually catches the fugitive.

If the suspect was at the crime scene, had some kind of grudge against the victim, or had bloodstains on their clothes, they seem so guilty, so incredibly guilty, that you just know the poor guy is innocent. As the episode progresses, the detective discovers that—despite the evidence to the contrary—the suspect is not to blame.


Another cliché more common than Coca-Cola in a supermarket is the cop who has to turn in their badge and gun to a difficult, and sometimes malicious, boss. The cop is on the right track, about to uncover the perpetrator, but the boss clashes with them, expressing dissatisfaction with their methods. They argue, and the boss forces the competent officer to hand over their badge and gun. But it doesn’t end there. The cop is a rebel and continues the investigation until they catch the culprit.


Police series often feature a detective duo. Sometimes, it's a man and a woman to create a sense of sexual tension between them. Other times, it's two men, with one acting like a cowboy while the other follows the rules.


Another common character in police shows is the medical examiner. Usually, this character is dark, grumpy, and irritable, often reacting with indignation to the detective's urgency in needing to know the victim's time of death. The examiner will give an approximate time and hint that the victim was executed. They’ll impatiently say, "after 2 PM," and promise to send the full autopsy report later.

A different series that avoided all these clichés was Monk, which aired from 2003 to 2010 (eight seasons) and is still available for streaming on Netflix. 


Detective Monk, played by Tony Shalhoub, left the police force after suffering emotional trauma from the death of his wife, who was killed in a bombing. Full of quirks and compulsive obsessions, Monk was the complete opposite of the clichéd detective. If he shook someone’s hand, he had to sanitize his hands immediately. He was accompanied by a nurse and displayed undeniable talent for finding clues where the police had failed. Monk was entertaining. He drove the audience to despair when he felt blocked, allowing the criminal to escape. In one episode, for example, he had to climb a rope but got scared of the height halfway up, and the criminal literally climbed over him to escape.


The series Monk won several awards (six Emmys) and three for Best Comedy Actor for Shalhoub. The actors who supported Shalhoub were also notable, including Ted Levine, who played the police chief (initially unconvinced by Monk's abilities but later becoming a partner); Bitty Schram (as Sharona, Monk's nurse); and Stanley Kamel (Monk's psychiatrist). Bitty Schram left halfway through the third season, reportedly due to failed contract negotiations to increase her earnings. She was replaced by Traylor Howard, who played Natalie until the end. Interestingly, before the series ended, Sharona returned in the tenth episode of the eighth and final season for a sort of farewell.


The fourth season of True Detective earned Jodie Foster an Emmy this year for her performance. However, this fourth season is the worst of True Detective. Set in Alaska, the story is filled with so many absurdities and nonsense that I wonder if the award wasn’t influenced by some external factors.

By the way, I wrote about Jodie Foster and True Detective on February 20th on this blog. Read it and leave a comment.

       
 

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