Momento de extrema elegância entre os candidatos |
O debate entre candidatos a prefeito em São Paulo ganhou requintes de pugilato, quando um deles armou-se de um banquinho de pernas longas e investiu contra um oponente. Um momento "lucha libre", como se diz no México. Na luta livre raiz, que o pessoal chamava de "telecatch", nos anos 1960, tinha o Ted Boy Marino, o Fantomas, Mongol, o Caveira... Os lutadores começavam a trocar pancadas no ringue e a briga degringolava e acabava sobrando para a as cadeiras, mesas, que rodeavam a arena de luta. O lutador pegava uma coitada de uma cadeira simplória e a destroçava nas costas do adversário. Era bom demais. A gente torcia para os "mocinhos". Ted Boy Marino era o nosso ídolo. Tínhamos medo do Fantomas, do Caveira e detestávamos o Mongol, traiçoeiro como um escorpião.
Foi inusitado. A TV Cultura, vetusta e traço zero de audiência, sempre protocolar e de sapato apertado, viu sua programação se tornar notícia nacional, depois do debate da noite passada. Na tentativa fracassada de um candidato aniquilar fisicamente seu oponente, o "debate" foi interrompido justamente na melhor parte. Como disse o apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, os candidatos estavam na emissora errada. "Vocês têm que vir no meu programa. Lá, pode trocar porrada à vontade. Ninguém vai segurar vocês."
Sinceramente, ninguém quer saber de proposta. A gente cansou dos políticos. A gente quer mesmo vê-los trocando pancada, se matando ao vivo. Se os debates televisivos incluíssem trocas de sopapos e mordidas, safanões e pernadas, a gente assistiria com sorriso nos lábios.
A gente perdeu a paciência com os políticos, porque a realidade brasileira é um filme triste. A maior floresta tropical do mundo queima, queima e queima, transformando o céu do Brasil em cenário de série distópica. O Pantanal, maravilha mundial, está em chamas. O interior de São Paulo foi salvo pela chuva que chegou hoje, mas até ontem era queimada atrás de queimada.
Por uma inércia do Judiciário, a violência corre solta nas cidades. Todos os dias, é uma sucessão de más notícias: assalto, roubo, latrocínio, homicídio, estupro, furto...
O presidente poderia criar um Ministério da Justiça para tentar minimizar o problema...
Ah, já tem Ministério da Justiça?
Ué, e cadê o ministro?
Faz tempo que não ouço a voz do ministro.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro continua sob ataques de facções rivais. Sobra bala pra tudo quanto é lado. Não é "bala perdida". É bala achada, porque encontrou o peito da professora, as costas do menino, a cabeça da menina. Então, você tem zonas dominadas pelo tráfico, pelas milícias e o que foi feito até agora para solucionar de vez o problema? Tentou-se várias alternativas. Nenhuma deu resultado. O problema está lá, continua no mesmo lugar de sempre: populações inteiras, dominadas por um "exército" inimigo.
Tem o famoso "baile funk", que é feito na rua, com som em volume ensurdecedor. O "baile" é, na prática, local de venda de produtos proibidos. Vários bairros da Grande São Paulo assistem inertes a esses espetáculos da desordem.
Você pega um país de riqueza natural extraordinária e faz o possível para transformá-lo em um lugar inabitável.
Como isso ocorreu?
Salários irrisórios. Professores mal pagos, desnutridos emocionalmente, esgotados mentalmente. Acumulação de riqueza. É sempre bom repetir: acumulação de riqueza, acumulação de riqueza, acumulação de riqueza...Exploração territorial predatória e criminosa. Leniência diante das contravenções e da criminalidade: Jogo do Bicho (ah, tudo bem, vai, continua fazendo a sua "fezinha"), loteria do "Tigrinho", corrupção, a Justiça prende e solta, prende e solta. As concessionárias de energia com suas redes açucaradas: cai uma garoinha de nada e elas derretem.
E o principal problema: os governos não fazem a sua parte. Se o tráfico de drogas é responsável pelo clima de guerra no Rio, por que não se imagina uma solução imediata e definitiva? Durante quanto tempo, vamos continuar enxugando gelo? Será que ninguém tem uma ideia, um coelho que saia da cartola?
Tudo isso é perda de tempo. Vamos ligar a TV e assistir o debate político na TV.
Oba! Tem um batendo a cadeira na cabeça do outro... Que elegância, cavalheiro. Que elegância. "Esse é um País que vai pra frente", como já pregavam Dom e Ravel.
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