Bruno Covas, neto do competente prefeito e governador Mario Covas, quer ser reeleito. Não sei por quê. Antes dele, a cidade estava suja e esburacada. Hoje, continua suja e esburacada. Ele quer a reeleição para manter a sujeira e os buracos, suponho.
São Paulo deve ser um desafio sobre-humano para seus administradores. Eles não conseguem transformar a cidade. Dar uma cara de primeiro mundo. São Paulo é sempre um lugar muito sujo, empobrecido, com um miserável em cada farol.
Mario Covas, quando foi prefeito, também não conseguiu deixar São Paulo reluzente, mas era um homem público diferente, tocador de obras. Lembro de uma visita que fizemos à prefeitura, para pedir a inclusão da Casa Modernista em área de proteção, evitando a sua destruição. Covas foi muito sincero. Disse que ia salvar a casa, mas que a gente não contasse com recursos municipais para mantê-la. Era preciso correr atrás do governo estadual. E foi o que fizemos.
Antes de Bruno Covas, tivemos a presença relâmpago de João Doria na prefeitura, que utilizou a administração municipal como trampolim para o governo estadual. A herança de Doria foi tapar os muros da avenida 23 de Maio com plantas. Quebrou as pernas dos pichadores. Pelo menos, fez uma coisa certa. Doria prometeu acabar com a Cracolândia. Promessa não cumprida. A Cracolândia vai bem, obrigado. O centro de São Paulo virou, definitivamente, cenário da franquia "A noite dos mortos vivos". Sem falar no PSDB, partido de Bruno Covas, protagonista de inúmeras acusações de corrupção (https://www.huffpostbrasil.com/news/corrupcao-no-psdb/).
Com uma certa vergonha, lembro de ter feito boca de urna, em 1988, para a eleição de Luíza Erundina, então quadro do Partido dos Trabalhadores. Houve uma virada inacreditável e ela foi eleita prefeita, superando o corrupto Paulo Maluf. A herança deixada por Erundina foi o Sambródomo, construção gigantesca, às margens do imundo rio Tietê, usado cinco dias por ano, passando o restante dos 360 dias na mais completa solidão. Um ermitão rodeado de carros, ônibus e caminhões.
Pessoalmente, Erundina me causou um grave problema. Em 1991, meu pai morreu e os "papa-defuntos" municipais estavam em greve. Erundina negociava lentamente com os grevistas, claudicava, enquanto isso os mortos ficavam sem sepultura. Precisava transportar o corpo do meu pai do hospital, onde ele havia falecido, até onde seria realizado o velório. Por causa da greve, não tinha carro funerário. Fui até o Cemitério da Vila Mariana. Havia ali meia dúzia de papas-defuntos reunidos. Puxei um deles de lado e negociei o transporte do corpo do meu pai. Paguei uma espécie de "táxi funerário".
Meu livro sobre a Vila Clementino tinha sido premiado no concurso de história dos bairros de São Paulo. Seria editado durante a gestão de Luiza Erundina. Mas isso não ocorreu. Uma das gestoras da área de cultura entendia que investir na memória da cidade seria um gasto desnecessário. Por isso, as publicações foram suspensas. O livro só seria editado, por ironia, na gestão de Celso Pitta, talvez o mais corrupto prefeito da história de São Paulo.
Erundina fechou seu caixão à frente da administração paulistana ao não concluir obras deixadas pelo seu antecessor, Jânio Quadros. A iniciativa que trouxe mais polêmica foi o enterramento (literal) do túnel que ligava a avenida Juscelino Kubitscheck aos bairros do Morumbi e Cidade Jardim. Com Erundina, São Paulo continuava suja e esburacada.
Agora, Erundina está de volta como vice de Guilherme Boulos, presidente do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Boulos é uma metonímia de Lula ("vão surgir milhões de Lulas Brasil afora"). Usa a mesma camiseta vermelha de trabalhador em luta. A mesma barba. O mesmo discurso contundente. Boulos, no entanto, não chegou a São Paulo de pau de arara, nem passou fome no Nordeste. Boulos tem mestrado, é professor e filho de médico bem de vida.
A foto que ilustra esta postagem é de 2014. Foi tirada em um terreno, localizado na Granja Viana, nas proximidades da rua Ouro Preto. Na época, eu morava no bairro e tive meu primeiro contato direto com o MTST. A história desta invasão é estranha.
Segundo apurei, em conversa com invasores, o proprietário do terreno de 93 mil metros quadrados devia impostos atrasados à Prefeitura de Carapicuíba. A prefeitura cobrava e o proprietário dizia que não ia pagar. Carapicuíba, então, era administrada pelo prefeito Sérgio Ribeiro Silva, o "Serjão", do PT.
Eu era presidente da Associação dos Moradores da Vila Diva, vizinha da ocupação do MTST. Por isso, fui até lá, na rua Ouro Preto, saber o que estava ocorrendo. Esse invasor, que conversou comigo, disse para eu não me preocupar: "O senhor fique tranquilo que a invasão tem data para acabar. Mais alguns dias, e a gente vai embora. A prefeitura está resolvendo o problema dos impostos com o proprietário".
Havia no terreno umas 800 barracas de lona. Panfletos pediam para a população, que não tivesse teto, que fosse até lá e ocupasse um lote. A invasão foi batizada de "Carlos Marighella".
De fato, como o invasor havia me dito, do dia para noite, o pessoal do MTST desapareceu. As 800 barracas de lona evaporaram.
Teria sido tudo uma armação do prefeito Serjão, que contou com o apoio do MTST, para resolver o problema dos impostos atrasados? Será que aqueles sem-teto foram usados como massa de manobra?
Não sei responder essas perguntas. Caberia à Polícia Federal ter investigado na ocasião. A herança dessa invasão foi ter me deixado com o pé atrás, em relação a Boulos. O candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, quando fala de invasões, costuma dizer que "quem toma as casas das pessoas são os bancos". Nisso, está coberto de razão. Quem faz empréstimo, dando a casa como garantia, sobe no cadafalso e coloca a corda no pescoço. Sinceramente, eu não compraria um carro usado de Boulos.
Eu sei que é considerado uma coisa pedante falar de outras cidades, mas morei em Paris, Londres e Nova York e não sei como, o que os prefeitos fazem, para manter as ruas limpas e sem buracos. Em Paris, não se vê um único buraco do tamanho de uma tampa de cerveja. As ruas são impecáveis. Limpíssimas. Iluminadas.
Por que será que nossos homens públicos são tão incompetentes? Não conseguem fazer o básico. Diante da campanha de Bruno Covas e Guilherme Boulos, em sua lutar para vencer o segundo turno, tenho só um sentimento: desalento.
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