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Esta é a imagem que vai dar título ao filme |
Todos os dias ajoelho e agradeço Reed Hastings e Marc Randolph por terem inventado a Netflix. A TV por streaming nos permite assistir joias como esse filme Whisky. Realizado pelos cineastas uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, em 2004, foi considerado pelos críticos como "o melhor filme latino-americano dos últimos 20 anos". Rebella morreu jovem, aos 32 anos. Suicidou-se e não concluiu o roteiro do que seria seu próximo filme, em parceria com o colega da faculdade Pablo Stoll.
A Netflix tem uma vantagem sobre a TV por assinatura. Não exibe comerciais. Quando você assina a TV por assinatura, assina também seu atestado de imbecilidade. Além de pagar uma vez, você engole comerciais, que, em tese, não deveriam ser exibidos, porque são os comerciais que pagam a TV aberta. Se você paga pela TV por assinatura, com que direito eles lhe enfiam, goela abaixo, os comerciais? Só mesmo sendo um imbecil para não fazer nada a respeito.
Graças à Netflix também nunca mais assisti a uma novela da Globo. O único defeito da Netflix é ser conservadora e moralista. Falta na programação a pimenta, o ardido. Quem sabe um dia... Duvido.
Whisky fala de três pessoas que se juntam, em determinado momento da vida, sem ter nada em comum. Bem produzido, roteiro excelente, direção impecável, você mergulha de cabeça na história. O solitário dono de uma fábrica de meias, caindo aos pedaços, precisa se preparar para receber o irmão, que também produz meias, e vive no Brasil. Para não parecer o que é - um velhote ranzinza e solteirão - pede para uma funcionária fazer o papel de sua esposa. A decadente fábrica de meias espelha o seu proprietário: é sombria, áspera e a caminho da esterilidade. Os três seres díspares vão parar no balneário de Piriápolis, fora de temporada, desértico.
Se você gosta de perseguição de carros, tiroteios, violência sanguinolenta, não assista Whisky. Se você quiser qualidade, roteiro de excelência e interpretação nota dez, veja Whisky.
Por falar em violência, Quentin Tarantino está no pedaço com Era uma vez em Hollywood. Queria saber o que ele quis dizer com essa produção? Tarantino tem um problema psíquico grave. Ele não consegue aceitar a história. Quer mudá-la. Descontente com a Segunda Guerra Mundial, a barbárie dos campos de extermínio, e o nazismo, Tarantino decide matar Hitler no pior filme de guerra (Bastardos inglórios) já produzido pelo cinema. Imagine o Führer, em território inimigo (França), indo a uma exibição teatral em Paris, guardado por DOIS guarda-costas. Somente uma mente infantil para imaginar algo parecido.
Em Era uma vez..., Tarantino, inconformado com o assassinato brutal de Sharon Tate, revê a história e salva todo mundo do maluco Charles Manson. Freud diria que, assim como os sonhos são a realização de um desejo, Tarantino faz filmes que concretizam, de forma vicária, seus desejos de menino mimado.
O Coringa foi percebido por incautos como "um filme de esquerda". Sinto muito. Não há nada mais direitista que O Coringa. Se fosse feito um paralelo com Chê Guevara, a gente entenderia melhor por que O Coringa é um filme conservador e de direita.
Chê era médico, guerrilheiro e viveu a sua vida a serviço dos pobres e explorados. Combateu ditaduras. Ajudou a derrubar Fulgêncio Batista, em Cuba. Participou de lutas semelhantes na África e foi executado na Bolívia no dia 8 de outubro de 1967. Chê Guevara é um legítimo herói da esquerda. Há algo de cristão em sua existência. "Morreu por nós".
O Coringa é um sujeito maluco, idolatrado pela massa. O herói dos fracos e oprimidos é doido de carteirinha. Como se o filme dissesse: os pobres, os famintos, os miseráveis só podem mesmo idolatrar os loucos.
O Coringa seria um filme "de esquerda" se seu protagonista fosse um médico, por exemplo, esclarecido e sensível à exploração do capital, capaz de pegar em armas e iniciar uma revolução. Como disse alguém outro dia nas redes sociais: "a cada nova revelação de conquistas econômicas, tropeço em mais gente vivendo na rua".
Por falar em gente louca, ainda pela Netflix, assisti no dia da estreia ao novo filme de David Lynch, O que Jack fez? São 17 minutos de loucura plena. Lynch é um agente do FBI interrogando o macaco de Ross (Friends), que teria cometido um crime.
Os dois supostos candidatos ao Oscar pelo Brasil, em 2019, eram Bacurau - indigesto, violento, inverossímil - e A vida invisível (um amigo me disse ser o filme mais chato desde Lumière. Talvez seja exagero da parte dele).
Para encerrar, fica a pergunta: por que será que o Brasil não consegue criar uma geração de cineastas que façam filmes como esse Whisky uruguaio ou o argentino ganhador do Oscar O segredo dos seus olhos, estrelado pelo excepcional Ricardo Darin? Pode ser que o problema seja esse pessoal das comédias. Coisas do tipo Minha mãe é uma peça... Ou, quem sabe, o problema é mesmo o Brasil. A falta de educação, a incapacidade, a omissão, a elite obtusa...Por aí afora.
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