terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mais bem ou melhor preparado? Tanto faz, vamos ladeira abaixo mesmo


Vou começar de um jeito bem chato. Relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) ganhou as manchetes hoje. Descobriu-se que o Brasil não investe o suficiente em educação. 

Bom, não preciso ler o relatório da OCDE e descobrir que somente 18% dos brasileiros adultos fizeram faculdade. Basta andar na rua. A gente olha as placas dos supermercados e está lá escrito: "Tevelizão em oferta", "tabrete", "seulular", "queijo fudido da Sadia", "pitiça com guaraná". 

Na rua, sempre tem uma placa escrita com erro de português. Na porta da venda: "Fui Ao Mossar". Aqui no bairro: "Vendi-ce jelú". No cabeleireiro: "Faça pé e mão e ganhe uma sobrancelha". 

Tudo errado. O pior é querer me fazer trocar o melhor pelo mais bem. Deus do céu, como é que podem duas palavras ser melhor do que uma? Cadê o poder da concisão? 

O mestre Domingos Paschoal Cegalla me ensinava, quando eu ainda usava calças curtas e suspensórios, que é indiferente usar melhor ou mais bem antes de particípio. Tanto faz. Você usa o que quiser. Não sou eu que estou falando. É o Cegalla. Acredite nele. Lembro de um livro, onde se lia apenas: "Português". E tinha um "P" enorme na capa marrom. Para não deixar dúvida sobre o que se tratava. Era o pezão do professor Cegalla. 

O linguista Sousa e Silva garante que é indiferente usar mais bem ou melhor. Já o professor Pasquale Cipro Neto vai buscar exemplos em Machado de Assis: "que ande ele melhor avisado na organização"; e em Alexandre Herculano: "melhor delineadas e vestidas".

Então, quem são os chatos que querem nos obrigar a usar mais bem antes de particípio? O principal deles é o senhor Napoleão Mendes de Almeida. Para ele, não tem conversa. Antes de particípio, é obrigatório usar o mais bem. Duas palavras no lugar de uma. Se fosse prova de jornalismo, estava reprovado. 

Enquanto a gente fica debruçado sobre o vernáculo, o tal do relatório da OCDE nos enche de vergonha. Somos um povo sem educação, mal-educado, mas, pelo menos, como mostrou hoje no Twitter um dos filhos do nosso querido presidente, o Brasil comprou caças suecos Grispen por 5 bilhões e 400 milhões de reais. 

Não tem giz na sala de aula. Aliás, em muitos lugares, não tem nem sala de aula. A OCDE mostra que o Brasil, entre 48 países pesquisados, é o que paga salários mais baixos a seus professores. Estamos no buraco, com as pesquisas sendo cortadas, graças ao "contingenciamento" que deletou milhões de reais em verbas para a Capes e o CNPq. Mas pelo menos compramos 36 caças suecos. Pode bater palmas para o maluco dançar.
         

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