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Viggo Mortensen e Mahershala Ali são os protagonistas de Green Book |
Quem fizer uma análise equilibrada dos ganhadores do Oscar vai entender que estava na cara que o filme iria levar a estatueta. A academia de Hollywood não gosta de surpresas. Costuma seguir a cartilha convencional. Se Conduzindo Miss Daisy ganhou o Oscar em 1990, era mais do que normal que Green Book (um Miss Daisy com o farol invertido) fosse o ganhador.
Dirigido por Peter Farrely e protagonizado por Viggo Mortensen e Mahershala Ali, Green Book conta a história de um pianista negro que contrata um motorista italianão para conduzi-lo Estados Unidos afora, durante uma turnê.
Em Conduzindo Miss Daisy, uma senhora tradicional tinha como motorista um negro (o excepcional Morgan Freeman). Como se vê, o roteiro de Green Book fez um 69 com os personagens.
Green Book está longe de ser um filme chato, que a gente não tem paciência de assistir até o filme, como é o caso de Roma, do mexicano Alfonso Cuarón.
A direção de Peter Farrely é impecável. A gente nem lembra que Viggo Mortensen é o Aragorn de Senhor dos Anéis. Ele parece mesmo um italianão grosseiro, disposto a encher de porrada alguém que lhe chame de carcamano.
Mahershala Ali, que se destacou em House of Cards como um consultor arrivista, vai bem na pele do pianista excêntrico, que viaja no banco traseiro do cadilac, com as pernas cobertas por um cobertozinho protetor.
A reconstituição de época (o filme se passa em 1962) é detalhista, rigorosa e cede até espaço para um merchant sutil do KFC. Nada grosseiro e varejão ao estilo Milton Merchant Neves.
Ao longo dessa vida de filmes e estatuetas, já vi muito abacaxi levando prêmio. Entre Dois Amores, vencedor em 1986, é talvez um dos filmes mais chatos e arrastados que tive o desprazer de assistir, em uma época que estava no papel de crítico de cinema.
Nesse tempo, passava as tardes em salas escuras, assistindo filme atrás de filme. Era estranho: quando saía da sala, topava com a luminosidade da vida lá fora. Um choque de realidade.
O musical Chicago, ganhador em 2003, também me traz recordações de muita dor e sofrimento. Sabe aquela hora que você não tem mais posição na poltrona do cinema? As pernas doem. Não consegue mais cruzá-las e descruzá-las. O corpo começa a formigar. Os olhos começam a se fechar contra a sua vontade...
Argo, premiado em 2013, dirigido e interpretado por Ben Affleck, é o mais Sessão da Tarde dos ganhadores da geração millennial. Mas nada se compara ao chatíssimo, interminável e claustrofóbico A Forma da Água, que levou a estatueta no ano passado. Este último, felizmente, não precisei assistir até o final.
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