terça-feira, 23 de outubro de 2018

"Palavras, palavras, nada mais que palavras"



A cinco dias do pleito mais importante da história desse País e não é que Marina Silva lembra de declarar apoio "ao professor Haddad". Pronto. Começou a grande virada. Com o 1 milhão de votos que Marina teve no primeiro turno, o candidato petista pode ficar tranquilo. Só precisa agora arrumar outros 17 milhões de votos para empatar com ele. O timing da Marina é excelente. Ela podia também ter esperado até sexta-feira. Ficava um pouco mais em cima da hora. 

O filho dele diz que é fácil fechar o Supremo. "Basta um cabo e um soldado."  Depois, vem o pai e pede desculpas públicas. Escreve cartinha para o "diretor da escola". Um vexame. Coitado do Brasil. Pobres de nós.

Por algum motivo que desconheço, repórteres e âncoras de TV e rádio usam a palavra recorde com acento na proparoxítona - "récorde". Só que a prosódia ensina que recorde é paroxítona, com acento invisível no "o". Pode isso, Arnaldo? 

"Palavras, palavras..." diria Shakespeare. Em jornalismo, havia palavras malditas, que você não podia sequer pensar nelas. Era proibido. O articulista Paulo Francis (pseudônimo de Franz Paul Trannin da Matta Heilbornvolta e meia, gostava de contar a história de uma palavra maldita. Crítico teatral do jornal Diário Carioca, Francis empregou o termo "via de regra". O texto retornou voando em sua direção, com uma anotação em vermelho vivo: "Via de regra é boceta". Francis conta que nunca mais escreveu via de regra.

Eu era editor do caderno de Variedades no Diário Popular e um crítico de arte gostava de usar a expressão "por outro lado".  O então diretor de Redação Miranda Jordão me chamou no aquário, que era aquela sala toda envidraçada onde ficavam as chefias dos jornais. Texto do crítico na mão, muito irritado, apoplético, com a educação que lhe era característica, Miranda Jordão me disse: "Por outro lado é bunda". Passaram-se trinta anos para eu voltar a escrever "por outro lado". 

Era assim naqueles tempos...Você podia passar na rua e testemunhar um infeliz se atirando do Viaduto do Chá e não podia noticiar o ocorrido. Suicídio era palavra proibida e sobre o qual não se podia noticiar. Hoje, a cada 45 minutos um brasileiro se suicida e, com exceção de setembro amarelo, quando a gente lê uma ou outra matéria a respeito, ainda não se fala no assunto.

Nosocômio, genitor/genitora, féretro, esposa/esposo, falecer...eram proibidas. Há uns cinco anos, estive em um canal de TV, que transmitia notícias pela internet. A equipe de jornalismo era rarefeita, como oxigênio no pico Everest. Para compensar a falta de pessoal, os jornalistas dessa TV roubavam as notícias das agências e, para não dar na vista, trocavam as palavras. Por exemplo, a notícia da agência dizia: "A mãe permaneceu o tempo todo ao lado do caixão do filho." O jornalista da TV pela internet alterava para: "A genitora ficou o tempo todo ao lado do féretro do filho". Foi a primeira e última vez que vi alguém usar "genitora", em um texto jornalístico.

Pelo menos uma boa notícia: faltam três dias para acabar a propaganda eleitoral obrigatória nas rádios e TVs. Não sei você, mas me sinto mal com tanto ódio transbordando, sendo vomitado em cima da gente. O estado é muito presente na vida da gente. Por que sou obrigado a aguentar essa chatice insuportável? Tem outras maneiras de o eleitor se informar. Me sinto aquele pato ou ganso, que fica com um funil enfiado na boca, pra engolir comida à força e ter o fígado dilatado, para a produção de foie gras. O estado brasileiro me obriga a votar. Não quero ser obrigado a nada. Mas lá vou eu, no domingo, me enfiar na fila. Entregar o título, entregar outro documento, porque só o título não serve. Eles precisam de outro documento que mostre a minha cara. Tenho que apertar aqueles botões. Aguentar a cara do sujeito me encarando dentro da "cabine indevassável"...Lá fora, o Brasil miserável, favelado, sem saúde, sem transporte, sem esperança. As coisas começam a mudar, quando o estado começa a se tornar presente onde interessa e não onde não é chamado.      

Nos Estados Unidos, a loteria vai pagar um prêmio de 6 bilhões de reais. Se eu ganhasse toda essa dinheirama, ia realizar o grande sonho da minha vida. Comprava um caminhão e ia puxar soja lá no Mato Grosso do Sul. Eita nóis.



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