segunda-feira, 29 de outubro de 2018
89 milhões não votaram em Bolsonaro
Assim como as cartas, os números não mentem jamais. O candidato eleito à Presidência teve 57 milhões de votos. Seu opositor, 10 milhões a menos. Um número recorde de 31 milhões de eleitores desistiram de votar.
Somando-se os 11 milhões de votos brancos e nulos, mais as 31 milhões de abstenções e ainda os votos dados ao petista, chega-se a um total de 89 milhões de eleitores que não querem Bolsonaro na Presidência.
Isso não significa que os 42 milhões de eleitores que não quiseram votar ou preferiram anular ou embranquecer seu voto gostariam que Haddad fosse o eleito. São 42 milhões de indignados que não queriam nem um nem outro.
Em resumo: Bolsonaro não terá tarefa fácil pela frente. Não haverá nem mesmo a tradicional lua de mel, que percorre os seis primeiros meses do governo.
No interior onde votei, uma carreata com uns dois quilômetros de extensão, protegida por batedores solidários da PM, era constituída, principalmente, por carros de luxo (Audi, BMW, Mercedes) e SUVs. Eles buzinavam com estardalhaço. Ostentavam chapelões caipiras e bandeiras do Brasil. O som no último volume tocava Eu te amo, meu Brasil, da dupla Dom e Ravel.
Essa música é emblemática, porque fez sucesso nos início dos anos 1970, durante os anos de chumbo da Ditadura Militar. Dom e Ravel eram chamados de "filhotes da ditadura".
Os ricos dessa cidade do interior comemoravam exatamente o quê? A volta dos militares ao poder? Os anos 1970 deixaram saudades? Seria um tempo bom aquele?
Mesmo a bordo de veículos que custam em média 170 mil reais, eles têm saudades do passado? Será que naquela época eles seriam ainda mais milionários?
Gente estranha, esses Jecas.
Nesse Brasil de caipiras, acocorados em volta da TV, quem fez o discurso que antecede a fala do novo presidente é o político Magno Malta.
Derrotado na disputa pelo Senado do Espírito Santo, um dos muitos novos representantes da extrema-direita, "defensor da moral e dos bons costumes", o cantor gospel Magno Malta tem um extenso rol de acusações de maus feitos. Em 2007, foi acusado de participar da máfia dos sanguessugas. Mais recentemente, foi denunciado por uma reportagem da Folha por uso de caixa dois e de ter recebido um repasse de 100 mil reais.
Em sua versão da Oração aos Moços, Magno Malta rezou, lembrou que "os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados sem a mão de Deus". Mencionou "Deus na vida", "Deus na vida da família", "lutando contra tudo e contra todos"...
O cobrador Luiz Alves de Lima sabe bem o que é "lutar contra tudo e contra todos". Lima foi acusado pelo então senador Magno Malta de ter estuprado sua filha então com dois anos. Na época, Malta presidia a CPI da Pedofilia no Senado.
Preso no Centro de Detenção Provisória de Cariacica (ES) durante nove meses, Lima sofreu torturas. Ele afirma ter sido asfixiado com sacola de plástico na cabeça, recebido choques elétricos nos genitais e de ter sido colocado dentro de um barril com água gelada, além de sofrer surras cotidianas.
Uma perita criminal constatou que Lima era inocente e que a filha dele nunca havia sofrido abuso sexual.
Já era tarde. Em razão das torturas, Lima ficou cego de um olho.
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