quinta-feira, 3 de maio de 2018

A Rede Globo podia sumir do mapa


Faz tanto tempo que a Rede Globo enche o saco que sei lá...Bem que ela podia sumir do mapa. Imagine acordar um dia de manhã, um dia ensolarado e generoso, sem a Rede Globo...

Roberto Marinho, herdeiro de seu pai (Irineu) fundador do jornal O Globo, recebeu a concessão para criar a TV Globo durante o governo Juscelino Kubitschek, em 30 de dezembro de 1957. 

Somente em 1965, durante a Ditadura Militar, que Roberto Marinho decidiu explorar o antigo Canal 4. Pediu dinheiro e tecnologia ao grupo Time-Life, que lhe concedeu um empréstimo milionário e foi em frente. Tornou-se o braço direito eletrônico da Ditadura, seu principal relações públicas, adulando, enaltecendo, viabilizando um regime odioso, que imobilizou o País durante 21 anos. 

O programa Amaral Neto, Repórter mostrava, com brilho e paetês, o milagre brasileiro, construído pelo economista e ministro forte da economia Delfim Netto. (Os inimigos chamavam Amaral Neto de "Amoral Nato".)

No final da Ditadura, depois da "onda milagrosa" dos anos 70, estive em uma localidade de Minas Gerais. O ano era 1982. Em Piedade do Paraopeba, onde fiz pesquisa de campo para uma tese de mestrado, as estradas eram precárias, não havia transporte público decente, as pessoas viviam em um estado de "fome psíquica" (termo bem sacado pelo professor Antonio Candido, em Os Parceiros do Rio Bonito), os moradores do Vale do Paraopeba morriam a caminho do atendimento médico, crianças desmaiavam de fome na sala de aula. A mortalidade infantil atingia números desmoralizantes. E Piedade do Paraopeba ficava a meros 50 quilômetros da capital Belo Horizonte. 

O "dr. Roberto", como era chamado pelos colegas, tinha experiência no apoio a ditaduras. Em 1930, O Globo sustentou solenemente o golpe de Getúlio Vargas. Ambos, Getúlio e o "dr. Roberto" seriam admitidos na Academia Brasileira de Letras, essa curva de rio, onde ficam retidos escombros nacionais, como o autor de Marimbondos de Fogo.

Premiada pelo governo americano por apoiar o american way of life, a Globo fez de tudo um pouco nesses anos. Tentou inviabilizar a eleição de Leonel Brizola ao governo do estado do Rio de Janeiro em 1982, no episódio conhecido como o "Escândalo do Proconsult". (Em 1994, Brizola foi à forra e conseguiu na Justiça que Cid Moreira lesse uma nota durante o Jornal Nacional https://www.youtube.com/watch?v=aKjonfX-qdw)


Em 1984, a Globo ignorou o movimento pelas Diretas Já. Milhares de pessoas reuniam-se em praças, ruas, avenidas, monumentos exigindo a volta das eleições diretas e a Globo fingia que a mobilização não existia. 

Documentos vazados pelo WikiLeaks indicam que, em 1986, a Globo teria repassado à Unesco apenas 10% dos valor arrecadado na campanha Criança é Esperança.  Esse documento foi datado em 15 de setembro de 2006 e divulgado pelo WikiLeaks em 2013. 

Em 1989, na final eleitoral entre Lula x Collor, houve aquele momento do golpe baixo, aquela pancada que se dá nas partes mais doloridas do lutador. Na edição do Jornal Nacional sobre o debate entre os dois candidatos à Presidência, houve a maquiagem que destacou tudo que era a favor de Collor e o que podia ser contra Lula ganhou lente de aumento. Vinte e dois anos depois, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-vice-presidente das Organizações Globo, deu mais detalhes. Disse que Collor foi maquiado para parecer "mais presidenciável". Boni entregou a Collor pastas enormes com papéis (em branco) para parecer que estaria de posse de denúncias graves contra o candidato do Partido dos Trabalhadores.

Em março de 2015, o Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo divulgou a "lista do HSBC", com nomes de brasileiros que tinham contas na Suíça. Segundo o jornalista Fernando Rodrigues, que divulgou a lista no Brasil, tratava-se do "maior escândalo de evasão fiscal e de divisas já revelado no mundo". De acordo com a "lista do HSBC", ficamos sabendo que a viúva do dr. Roberto, dona Lily, tinha 750 mil dólares na Suíça. Outras celebridades da Globo também detinham contas na Suíça: Jô Soares, Maitê Proença, Marília Pera, Claudia Raia, Edson Celulari, Francisco Cuoco. 

 O episódio mais recente envolveu o "golpe branco" que derrubou a presidente Dilma Rousseff. Ao contrário do que fez em 1984, quando ignorou o movimento pelas Diretas Já, a Globo cobriu com parcimônia movimentos direitistas que pediam a queda do governo Dilma. A emissora carioca chegou até a interromper programas esportivos para cobrir manifestações, deixando o microfone aberto para deixar passar gritos e até palavrões contra Dilma. 

As mentiras e "erros" vão se acumulando no repertório Global. O jornal O Globo noticiou que o famoso tríplex do Guarujá tinha "elevador privativo e área gourmet". Precisou o MST invadir o lugar para descobrir que era mentira. O apartamento era meia boca, sem elevador privativo, sem área gourmet. 

O Jornal Nacional - outra vez ele -  noticiava com pompa e circunstância que Joesley Batista havia depositado 150 milhões de dólares nas contas bancárias de Lula e Dilma. Depois, um constrangido William Waak explicou que o dinheiro não estava na conta de Lula nem de Dilma. Waak seria demitido pouco depois - não por esta barriga - mas por ter feito um comentário racista, gravado em áudio.

A principal emissora brasileira é um filme triste. Com muitos vilões, muitos cenários desagradáveis, uma história de desserviço ao País e à sua população. Seria tão bom se a Globo deixasse de existir. Imagine acordar amanhã, um dia ensolarado, e descobrir que a Globo havia desaparecido, sumido para sempre como aquele prédio que desmilinguiu-se na madrugada do Dia do Trabalho.


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