Primeiro, os
jornalistas esportivos... Eles pertencem a uma parcela do jornalismo que não
segue a menor ética profissional. Na prática, eles são torcedores infiltrados
nos meios de comunicação. Alguns, além de torcedores, ocupam cargos importantes
nos clubes de coração. O
comentarista Neto, por exemplo, foi eleito conselheiro do Corinthians e é
apresentador de programa esportivo. Qual é a credibilidade que um torcedor e
conselheiro de um time de futebol pode ter diante do telespectador de uma
equipe rival? Isso não é levado em conta, porque o programa esportivo de
futebol costuma priorizar a equipe de maior torcida. Nesse caso, Neto se dá bem
por ser (ou estar) corintiano.
Milton Neves se diz
torcedor santista e do Atlético Mineiro. Como Neto fez no Corinthians, Milton
Neves ocupou cargo de dirigente do Santos. Esse procedimento é normal? Parece
que ninguém dá bola.
O jornalista esportivo
é também uma espécie estranha. Pode errar à vontade. Nunca será punido. A gente
cansa de ler e ouvir jornalistas esportivos falarem que determinado time vai
contratar este ou aquele jogador, este ou aquele técnico, e a contratação nunca
ocorreu, nem o time tinha a menor intenção de fazê-la. Só para ficar no exemplo
de Neto, recentemente, ele “previu” que o Palmeiras contrataria o técnico Mano
Menezes. Errou. Os telespectadores foram enganados. Mas nada acontece. A “barriga”
- falha gravíssima em jornalismo – faz parte da esfera de atuação do jornalista
esportivo. Ele erra à vontade. Passa informações inverídicas e... Nada. A falta
de credibilidade talvez seja inerente ao perfil do jornalista esportivo.
Não é da competência do
jornalista esportivo “prever” resultados. O que se espera do comentarista esportivo
é que ele revele bastidores do futebol, explique por que o time está jogando
bem ou mal, se é necessário trocar determinado jogador. Na rádio que ocupa o
segundo lugar em audiência matutina, a Band News FM, Milton Neves costuma “antecipar”
resultados de jogos, com nível indigente de acertos. É um espetáculo grotesco.
Milton Neves faz previsões que NÃO se concretizam e mesmo assim, rodada após
rodada, lá vem ele “prever” o que não irá ocorrer. Milton Neves, por sinal, criou
uma mistura de publicidade e jornalismo, com resultados financeiros invejáveis.
Mora em uma mansão em Alphaville e tem apartamento em bairro abastado de Nova
York. Em troca, ouvintes da Rádio Bandeirantes e de Milton Neves são submetidos
a horas e horas de conteúdo publicitário, enfiado pela goela entre escassas informações
jornalísticas. A publicidade escorre em profusão como cascata e o jornalismo pinga
na base do conta-gotas. A Bandeirantes vende a alma para sobreviver. Aluga seu
horário nobre das 20h para um pastor tele-evangelista falar da presença ameaçadora
do Tinhoso. O Brasil empacado na Era Medieval.
Depois, os jornalistas
políticos/partidários... Antes, durante e após o impeachment fomos expostos às
radiações contaminantes dos jornalistas políticos/partidários. Na faculdade de
jornalismo, ensinava-se a buscar a verdade da notícia (ou o mais próximo que a
gente conseguisse chegar dela), a ouvir os dois lados, a ser imparcial.
No Brasil, sob a
dominação do jornalista político/partidário, só um lado importa. Os ataques são
diários, constantes e incansáveis. Viu-se Reinaldo Azevedo emplacar o
substantivo/adjetivo “petralhas”, em ataques cotidianos ao PT sob o beneplácito
da Rádio Jovem Pan e da Revista Veja. Azevedo, que teve conversas vazadas com a
irmã de Aécio Neves, de quem parece bastante íntimo, ficou com tanta raiva de
uma reportagem da Veja sobre Aécio que chamou a revista de “nojenta”. A Jovem
Pan, que tem o professor antipetista, ferrenho antiesquerdista, Marco Antonio
Villa como âncora, é uma rádio de um lado só. A CBN e a Bandeirantes, idem. Só
um lado importa e não é o do ouvinte.
Em São Paulo, o PSDB
tem apoio incondicional da mídia. O governador Geraldo Alckmin é poupado e
adulado. As denúncias caem em um buraco sem fundo. Não se investiga. O público
é levado a acreditar que a corrupção é uma desgraça inventada pelo PT.
E, finalmente, o filme
The Post... Estreou esta semana em São Paulo. Não vou perder tempo falando da
direção de Steven Spielberg, nem das interpretações de Tom Hanks e Merryl
Streep. É claro que são perfeitas. Quero falar da emoção que o filme desperta. Uma
cena, em particular, me tocou. É a chegada de uma edição do The New York
Times nas bancas e seus exemplares sendo disputados pelo público. O ano era
1971. Os computadores ainda não haviam chegado às redações. Era um mundo ainda analógico.
The Post é uma aula de
jornalismo. Relembra valores que o Brasil atual não discute, como o respeito ao
leitor (ouvinte, telespectador), o direito do leitor (ouvinte, telespectador) ser
informado e a evidência de que se o governo se intromete na Redação e dita
aquilo que pode ou não ser publicado é sinal de que a democracia foi para o
beleléu. E a evidência maior: o meio de comunicação vendeu sua alma.
Uma das cenas mostra uma
briga intensa entre jornalistas e advogados. Os jornalistas insistem na
publicação de um material, que o governo não quer que seja divulgado; e os
advogados, representando acionistas e amigos dos donos do poder, buscam impedir
a publicação. É simbólica e emocionante. Lembra algo que não tem acontecido nas
redações de um só lado.
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