sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Um ressentido escreve sobre os ressentidos
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Novo livro de Vladimir Safatle mantém proposta revolucionária
“Enquanto houver sofrimento, haverá política revolucionária
possível”, afirma Vladimir Safatle, em seu livro recém-lançado pela editora
Planeta, A esquerda que não teme dizer
seu nome.
Em suas 111 páginas, Safatle tece críticas ao “socialismo
real, vencedor”, põe em dúvida os números de vítimas do comunismo, prioriza a
defesa de vida de “entidades não humanas” (natureza), desmitifica o que chama
de “limitação antropológica da política” (uma política de esquerda não pode
funcionar, porque o ser humano é naturalmente egoísta) e tenta explicar “o que
aconteceu conosco”, referindo-se à atual militância esquerdista.
Afinal, o comunismo fez quantas vítimas: 60, 65, 93, 110, 148 milhões de pessoas? Segundo o autor, essa “leviandade no uso dos números” indica que “precisão não é o forte nessa discussão”. Por que, ele questiona, “não lembramos também de todas as vítimas do colonialismo, do imperialismo, das guerras expansionistas, da miséria e fome operária, das ditaduras, da repressão policial”.
Em defesa das “entidades não humanas”, Safatle chama atenção
para a Constituição do Equador que garante “a existência da Natureza, sua
preservação e a regeneração de seus ciclos vitais”. Ele assegura que esta é uma
forma de dar também uma categoria de sujeito para entidades não humanas. E isso
precisa ser feito com rapidez, porque vivemos em um mundo “que desmorona muito
rápido”.
O autor sugere que “a soberania popular” possa ser “a força
deliberativa de um estado de emergência” que impediria medidas tomadas contra
os interesses da preservação da natureza. Por exemplo, quando se fala em
prospecção de petróleo na foz do Amazonas, essa “soberania popular” passaria
por cima de qualquer decisão governamental e impediria a extração do óleo
naquela região.
Safatle lembra que, em 2017, o governo de Michel Temer fez
uma reforma trabalhista que derrubou direitos consolidados. Pós-Temer, grávidas
podiam ser obrigadas a trabalhar em locais insalubres, as jornadas de trabalho
de 12 horas por dia, com demissão, descanso e férias radicalmente
flexibilizadas. Na ação trabalhista, se o trabalhador fosse derrotado teria de
arcar com as despesas do processo. Assim que a reforma foi aprovada o que se
viu nas ruas?
“Nenhuma manifestação de rua. Famílias todas de olho no
final do BBB”, recorda o autor, questionando:
“O que aconteceu conosco?”
Em seguida veio a eleição de Bolsonaro. Era o candidato não
apenas das famílias de deputados de cinco gerações, mas também “de gente
periférica, negra e evangélica”.
“Votavam na direita”, observa Safatle, “por se sentirem
traídos, por não se verem mais como objetos reais das preocupações reais das
práticas no poder”.
O autor refere-se aos empreendedores isolados, a uberização
do trabalhador. Gente que não pode mais contar com instituições e redes de
solidariedade para defesa coletiva, como sindicatos e associações.
Eles são “vendedores de si mesmos”. “Nada têm – nem garantias
trabalhistas, nem meios de produção, nem tempos e estão sempre endividados”.
O todo poderoso “mercado” é uma “instância antipolítica,
anti-igualitária e organizada a partir da lógica de concentração e do monopólio”.
“O capitalismo nunca foi concorrencial, sempre foi
monopolista”.
Cita o bilionário Warren Buffet, que afirmou:
“É verdade. Existe uma guerra de classes, mas é a minha
classe que está fazendo a guerra e ganhando”.
“O capitalismo”, escreve Safatle, “é um sistema de guerra
permanente, que usa a violência como regime normal de funcionamento”.
O autor critica o apoio da esquerda às lutas identitárias
(movimentos feministas, negros, LGBT), afirmando que “a esquerda se serviu
dessas lutas para esconder de si mesma sua impotência”.
E dispara contra o antigo regime comunista: “O socialismo real conheceu a violência estatal, a brutalidade social, o autoritarismo, os privilégios da burocracia, entre tantas degradações”.
Safatle vê com bons olhos “a legalidade da violação política”.
Cita como exemplos pacifistas, ecologistas, ativistas (que ateiam fogo em estátuas
de bandeirantes), piqueteiros, cidadãos que protegem imigrantes sem papéis e
militantes do MST que invadem fazendas improdutivas.
Sobre desigualdade salarial, Safatle chama atenção para o
fato de que nos países nórdicos (Islândia, Noruega, Suécia e Dinamarca) a
diferença entre o menor salário e o maior não ultrapassa a proporção de um para
quatro. “No Brasil, o salário numa empresa a diferença pode ser até 120 vezes entre
o maior e o mais baixo”.
Ao se perguntar “o que é ser de esquerda hoje?”, ele
responde: “É defender a igualdade radical e a soberania popular”.
O que é essa soberania popular, como ela se organizaria,
como efetivá-la? Safatle diz que “não há nada neste livro sobre organização
política”, mas caberá à esquerda acelerar o desabamento do mundo em outra
direção.
“Revoluções são sempre improváveis, fruto de uma série
contingente de acontecimentos. O que devemos fazer é não recusar esses processos
inesperados que têm a força de romper o tempo. Não recusar já é muita coisa”.
In its 111 pages, Safatle criticizes ‘real, victorious socialism,’ questions the numbers of communism’s victims, prioritizes the defense of life for ‘non-human entities’ (nature), demystifies what he calls the ‘anthropological limitation of politics’ (the idea that leftist politics cannot work because humans are naturally selfish), and attempts to explain ‘what happened to us,’ referring to today’s leftist activism.
After all, how many victims did communism claim: 60, 65, 93, 110, or 148 million? According to the author, this ‘frivolity in using numbers’ indicates that ‘precision is not the strong point in this discussion.’ Why, he asks, ‘don’t we also remember all the victims of colonialism, imperialism, expansionist wars, worker poverty and hunger, dictatorships, and police repression?’
In defense of ‘non-human entities,’ Safatle highlights Ecuador’s Constitution, which guarantees ‘the existence of Nature, its preservation, and the regeneration of its vital cycles.’ He argues that this is a way to grant subjectivity to non-human entities—and that it must be done quickly because we live in a world ‘that is collapsing very fast.’
The author suggests that ‘popular sovereignty’ could act as ‘the deliberative force of a state of emergency,’ preventing measures against nature’s preservation. For example, regarding oil drilling at the mouth of the Amazon, this ‘popular sovereignty’ would override any government decision and block extraction in the region.
Safatle recalls that in 2017, Michel Temer’s government passed a labor reform that dismantled long-standing rights. Post-Temer, pregnant women could be forced to work in hazardous conditions, workdays extended to 12 hours, and dismissals, rest periods, and vacations became drastically flexible. In labor lawsuits, if the worker lost, they would have to pay legal fees. And what happened in the streets after the reform passed?
‘No street protests. Families glued to the finale of Big Brother Brasil,’ the author notes, asking:
‘What happened to us?’
Then came Bolsonaro’s election. He was the candidate not only of families with five generations of congressmen but also of ‘peripheral, Black, and evangelical people.’
‘They voted for the right,’ observes Safatle, ‘because they felt betrayed, no longer seeing themselves as the real objects of the ruling power’s concerns.’
The author refers to isolated entrepreneurs, the ‘Uberization’ of workers—people who can no longer rely on institutions or solidarity networks for collective defense, like unions and associations.
They are ‘sellers of themselves.’ ‘They have nothing—no labor rights, no means of production, no time, and are always in debt.’
The all-powerful ‘market’ is an ‘anti-political, anti-egalitarian entity, organized under the logic of concentration and monopoly.’
‘Capitalism was never competitive; it was always monopolistic.’
He quotes billionaire Warren Buffett, who once said:
‘There’s class warfare, all right, but it’s my class, the rich class, that’s making war, and we’re winning.’
‘Capitalism,’ writes Safatle, ‘is a system of permanent war, using violence as its normal mode of operation.’
The author criticizes the left’s support for identity struggles (feminist, Black, LGBT movements), arguing that ‘the left used these struggles to hide its own impotence from itself.’
And he takes aim at the old communist regime: ‘Real socialism knew state violence, social brutality, authoritarianism, bureaucratic privileges, and so many other degradations.’
Safatle looks favorably upon ‘the legality of political violation.’ He cites pacifists, ecologists, activists (who burn statues of bandeirantes), picketers, citizens protecting undocumented immigrants, and MST militants invading unproductive farms as examples.
On wage inequality, Safatle points out that in Nordic countries (Iceland, Norway, Sweden, Denmark), the gap between the lowest and highest salaries does not exceed a 1:4 ratio. ‘In Brazil, the difference within a company can be up to 120 times.’
When asking, ‘What does it mean to be left-wing today?’, he answers: ‘It means defending radical equality and popular sovereignty.’
What is this popular sovereignty, how would it organize itself, how could it be implemented? Safatle admits that ‘there is nothing in this book about political organization,’ but it will be up to the left to steer the world’s collapse in another direction.
‘Revolutions are always improbable, the result of a contingent series of events. What we must do is not reject these unexpected processes that have the power to break time. Not rejecting them is already a lot.’
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