domingo, 25 de maio de 2025

Documentário Rita Lee – Mania de Você esquece 1967 e Os Mutantes

 

Os críticos de música costumam dizer que o Festival de MPB da TV Record, edição 1967, foi o maior evento musical da história da música brasileira. Não é para menos. A música “Ponteio”, de Edu Lobo, foi a vencedora. As cinco primeiras colocadas eram obras primas: em segundo, ficou “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil; em terceiro, “Roda Viva”, de Chico Buarque; em quarto, “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso; e em quinto, “Ventania”, com Geraldo Vandré.

Na época, havia uma rusga entre o pessoal do banquinho e violão com os roqueiros das guitarras elétricas. O pessoal da MPB chamava os roqueiros de “alienados”. E os roqueiros achavam que a MPB não estava com nada.

Gilberto Gil fez algo impensável. Chamou “Os Mutantes” para acompanhá-lo em “Domingo no Parque”. “Os Mutantes” eram do rock psicodélico, com muita guitarra e uma cantora de 20 anos, chamada Rita Lee, mandando ver.

“Domingo no Parque” é uma música em forma de “fait divers”. Narra um homicídio, movido por ciúmes. A música tem um momento como se as letras estivessem girando na roda gigante do parque de diversões. Em seguida, é como pequenos flashes, daquelas máquinas fotográficas antigas, testemunhando o aparecimento de uma faca e a morte, em seguida.

Além da poética brilhante, o mais legal foi ver “Os Mutantes” tocando MPB. Era uma vingança pessoal dos roqueiros e deu muito certo. Gilberto Gil e os mutantes Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias fizeram história.

Isso tudo aconteceu em 1967 e ficou de fora do documentário “Rita Lee – Mania de Você”, que, praticamente começa em 1976, quando a cantora conhece Roberto de Carvalho, um baixista que acompanhava Ney Matogrosso. Ela faz um jantar e convida Ney Matogrosso. Pede que o cantor traga “o baixista”. Começa uma história de amor que geraria três filhos e dois netos.

O documentário, em exibição pelo Max (streaming), tem momentos edificantes, como a leitura de uma carta, deixada pela cantora a seus filhos e marido. Os álbuns, os sucessos, têm sua história revelada e é um presente para os fãs. Pena que “Os Mutantes” foram deixados de fora.

Em 1972, trabalhava em uma agência bancária, que ficava na esquina da rua Joaquim Távora com a avenida Domingos de Moraes. Minha vida era cinzenta. Usava camisa social e gravata. Trabalhava muito e ganhava pouco. Os pais de Rita Lee moravam na Joaquim Távora e, em raros momentos, eu via a cantora na Domingos de Moraes, com seu cabelo vermelho vivo, as roupas coloridas, óculos escuros, a felicidade da juventude plena em seu olhar. Queria sair do meu mundo cinzento e entrar naquela paleta de cores ritaleeiana. Mas não era músico. Nunca quis aprender a tocar um instrumento. Portanto, estava condenado à mediocridade dos comuns.

Anos mais tarde, muitos anos depois, quando morava na Granja Viana, voltei a rever Rita Lee. Ela era agora uma senhora e estava tirando coisas do carro, estacionado na porta de casa. O mesmo cabelo vermelho, óculos de sol azulado e ar de poucos amigos.

A casa dela era um ponto de referência na Granja. Sempre que levávamos alguém almoçar ou jantar no “Centrinho”, a gente dizia: “Está vendo essa casa? É aí que mora a Rita Lee”.

O long play era um disco de vinil, que armazenava uns 23 minutos de música de cada lado. Em 1979, a gente tinha comprado “Mania de você” (o long play) e escutávamos, em nosso primeiro apartamento na rua Topázio, na Aclimação. As preferidas eram “Chega mais”, “Doce vampiro” e “Mania de você”. O disco foi um sucesso absurdo. No ano seguinte, foi a vez de “Lança Perfume”, que a gente também comprou e que também estourou nas paradas e chegou com força até no exterior.

Em 1981, nós tínhamos viajado para a Inglaterra e eu trabalhava em um hotel familiar em Brighton. Pela manhã, ajudava na cozinha, depois trocava as roupas das camas e passava o aspirador nos três pisos do hotel.

Uma manhã (sempre fria e chuvosa), entrei na cozinha para ajudar a senhora, dona do hotel, na preparação do café da manhã. O rádio tocava “Lança perfume”. A senhora cantarolava, feliz da vida. Eu comecei a cantar, em português, e ela quis saber sobre o que era a música.

“It’s a couple making love”, eu disse.

Surpresa, ela suspirou:

“Oh, dear”.

Depois, quando nos mudamos para a França, “Lança perfume”, “Mania de você”, as composições de Chico Buarque, Jorge Bem Jor, Caetano Veloso, Gilberto Gil eram presenças constantes nas rádios. Era impressionante como a música brasileira tocava ao longo das programações das emissoras. Hoje, MC Ryan parece longe de superar as fronteiras. Por enquanto, limita-se ao gramado do estádio do 15 de Piracicaba.

Por falar na França, li “Mudar: Método”, de Édouard Louis, jovem autor de 32 anos, que em outubro do ano passado, esteve no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Em seu livro, descreve tudo o que teve de fazer para alcançar fama e sucesso. Foi prostituto, se aproximava das pessoas para obter vantagens pessoais, conquistava amigos que poderiam lhe ser úteis no futuro. Vítima de homofobia e assédio moral, desde criança, o autor foi criado por uma família pobre, que lhe deixava horas vendo TV. A mãe fumava sem parar e o pai era um assalariado sem cultura. O livro é estranho, porque, embora pareça buscar a empatia do leitor, relatando sua vida de dor e sofrimento, a gente acaba olhando para o autor como aquele que diz: “ah, meu caro, então, você é um velhaco, aproveitador, interesseiro”.

É uma narrativa de dores pessoais. A molecada costuma chamar essa prática de “mi-mi-mi”. O nome do livro poderia ser: "Memórias de um arrivista" ou "Recordações de um alpinista social".



E por falar em choradeira, os fãs de Lady Gaga estão inconformados com a cantora, que os deixou literalmente a ver navios, diante do Copacabana Palace, onde ela se hospedou, para o show de 2 milhões de espectadores. Os fãs não se conformam que Lady Gaga os ignorou solenemente, enquanto faziam plantão diante do hotel, na esperança fugaz de ver a cantora ao vivo e em cores. Mas Lady Gaga não deu as caras. Lady Gaga está em Singapura, onde deu, sim, as caras e saiu andando pelas ruas singapurenses, em busca de cerveja.

Essa idolatria ao ídolo fabricado pela indústria cultural, me faz recordar a adolescência. Aos 15 anos, tentei escrever uma história de ficção. Esbarrei em um sério problema: todos os personagens, que imaginava, tinham nomes em inglês. Eram John, Steve, Maycon...

Aquilo me incomodou tanto que, anos depois, quando fui fazer um projeto de dissertação de mestrado, pensei em pensar sobre isso, sobre essa invasão cultural, essa dominação a que estamos submetidos. Só que na academia lembro de um professor balançando a cabeça e dizendo: “não, não, não, escolhe outro tema. Esse não vai dar certo”.


Les critiques musicaux affirment souvent que le Festival de MPB de la TV Record, édition 1967, fut le plus grand événement musical de l'histoire de la musique brésilienne. Et pour cause. La chanson "Ponteio", d'Edu Lobo, en fut la gagnante. Les cinq premières places étaient des chefs-d'œuvre : en deuxième, "Domingo no Parque" de Gilberto Gil ; en troisième, "Roda Viva" de Chico Buarque ; en quatrième, "Alegria, alegria" de Caetano Veloso ; et en cinquième, "Ventania" de Geraldo Vandré.

À l'époque, il y avait une rivalité entre les adeptes de la guitare acoustique et les rockeurs aux guitares électriques. Les partisans de la MPB traitaient les rockeurs d'"aliénés", tandis que ces derniers trouvaient la MPB dépassée.

Gilberto Gil fit alors l'impensable : il invita Os Mutantes à l'accompagner sur "Domingo no Parque"Os Mutantes représentaient le rock psychédélique, avec des guitares saturées et une chanteuse de 20 ans, Rita Lee, qui assurait.

"Domingo no Parque" est une chanson inspirée des faits divers. Elle raconte un meurtre passionnel. La musique donne l’impression que les paroles tournent dans une grande roue de parc d'attractions, puis défile comme une série de flashs, comme ceux des vieux appareils photo, capturant l'apparition d'un couteau et la mort qui s'ensuit.

Au-delà de la poésie brillante, le plus génial fut de voir Os Mutantes jouer de la MPB. C’était une revanche des rockeurs, et ça a parfaitement fonctionné. Gilberto Gil, accompagné de Rita Lee, Arnaldo Baptista et Sérgio Dias, écrivirent l’histoire.

Tout cela se passa en 1967, mais fut absent du documentaire "Rita Lee – Mania de Você", qui commence pratiquement en 1976, lorsque la chanteuse rencontre Roberto de Carvalho, un bassiste qui accompagnait Ney Matogrosso. Elle organise un dîner et invite Ney Matogrosso en lui demandant d’amener "le bassiste". Commence alors une histoire d’amour qui donnera trois enfants et deux petits-enfants.

Le documentaire, diffusé sur Max (streaming), contient des moments émouvants, comme la lecture d’une lettre laissée par la chanteuse à ses enfants et son mari. Les albums, les succès, y révèlent leur histoire, offrant un cadeau aux fans. Dommage que Os Mutantes en aient été exclus.

En 1972, je travaillais dans une agence bancaire, située au coin de la rue Joaquim Távora et de l’avenida Domingos de Moraes. Ma vie était terne : chemise formelle, cravate, beaucoup de travail et peu d’argent. Les parents de Rita Lee habitaient sur la Joaquim Távora, et parfois, je croisais la chanteuse sur la Domingos de Moraes, avec ses cheveux rouges éclatants, ses vêtements colorés, ses lunettes noires et ce regard empli de la joie de vivre. Je rêvais de quitter mon monde gris pour entrer dans sa palette de couleurs "ritaleeiennes". Mais je n’étais pas musicien, je n’ai jamais voulu apprendre un instrument. J’étais donc condamné à la médiocrité des gens ordinaires.

Des années plus tard, bien plus tard, alors que je vivais à Granja Viana, je revis Rita Lee. Elle était désormais une dame, en train de décharger des affaires de sa voiture garée devant chez elle. Mêmes cheveux rouges, mêmes lunettes bleutées, et cet air un peu distant.

Sa maison était un point de repère à Granja Viana. Chaque fois que nous y emmenions quelqu’un pour déjeuner ou dîner au "Centrinho", nous disions : "Tu vois cette maison ? C’est là que vit Rita Lee."

Le long play était un disque vinyle qui contenait environ 23 minutes de musique par face. En 1979, nous avions acheté "Mania de Você" (le LP) et l’écoutions dans notre premier appartement, rue Topázio, à Aclimação. Nos préférées étaient "Chega mais""Doce vampiro" et "Mania de você". L’album fut un succès monstre. L’année suivante, ce fut "Lança Perfume", que nous achetâmes aussi et qui explosa également les charts, jusqu’à l’étranger.

En 1981, nous étions partis en Angleterre, où je travaillais dans un hôtel familial à Brighton. Le matin, j’aidais en cuisine, puis je changeais les draps et passais l’aspirateur sur les trois étages de l’hôtel.

Un matin (toujours froid et pluvieux), j’entrai dans la cuisine pour aider la propriétaire à préparer le petit-déjeuner. La radio diffusait "Lança Perfume". La dame chantonnait, heureuse. Je me mis à chanter en portugais, et elle me demanda de quoi parlait la chanson.

"It’s a couple making love", dis-je.

Surprise, elle soupira :

"Oh, dear."

Plus tard, lorsque nous déménageâmes en France, "Lança Perfume""Mania de Você", ainsi que les compositions de Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso et Gilberto Gil étaient régulièrement diffusées à la radio. C’était impressionnant de voir à quel point la musique brésilienne traversait les frontières. Aujourd’hui, MC Ryan semble loin d’y parvenir. Pour l’instant, il se limite au terrain du stade du 15 de Piracicaba.

En parlant de la France, j’ai lu "Changer : Méthode" d’Édouard Louis, jeune auteur de 32 ans, invité en octobre dernier dans l’émission "Roda Viva" sur TV Cultura. Dans son livre, il raconte tout ce qu’il a dû faire pour atteindre la célébrité et le succès : se prostituer, se rapprocher des gens par intérêt, se lier d’amitié avec des personnes pouvant lui être utiles. Victime d’homophobie et de harcèlement depuis l’enfance, l’auteur fut élevé dans une famille pauvre, où il passait des heures devant la télé. Sa mère fumait sans arrêt, et son père était un ouvrier sans culture. Le livre est étrange : bien qu’il semble chercher l’empathie du lecteur en racontant sa vie de souffrance, on finit par voir l’auteur comme un opportuniste, un arriviste.

C’est un récit de douleurs personnelles. Les jeunes appelleraient ça du "mi-mi-mi". Le livre aurait pu s’intituler "Mémoires d’un arriviste" ou "Souvenirs d’un opportuniste".

Et en parlant de pleurnicheries, les fans de Lady Gaga sont furieux contre la chanteuse, qui les a laissés littéralement "à voir des navires" devant le Copacabana Palace, où elle séjournait pour son concert devant 2 millions de spectateurs. Ils ne comprennent pas qu’elle les ait ignorés alors qu’ils montaient la garde devant l’hôtel, dans l’espoir fugace de l’apercevoir. Mais Lady Gaga n’a pas daigné apparaître. En revanche, à Singapour, où elle se trouve actuellement, elle s’est promenée dans les rues à la recherche de bière.

Cette idolâtrie envers une star fabriquée par l’industrie culturelle me rappelle mon adolescence. À 15 ans, j’avais tenté d’écrire une fiction. Mais un problème m’avait frappé : tous mes personnages imaginaires avaient des noms anglais – John, Steve, Maycon…

Cela m’a tellement perturbé que, des années plus tard, lorsque je préparai un projet de mémoire de master, je voulus travailler sur cette invasion culturelle, cette domination à laquelle nous sommes soumis. Mais à l’université, je me souviens d’un professeur secouant la tête et disant : "Non, non, choisis un autre sujet. Celui-là ne marchera pas."


  

      


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