domingo, 29 de setembro de 2024

Um passeio pela "livraria mais antiga do mundo"

 

Na esquina entre a rua Garret e Anchieta, fica a Libraria Bertrand

No mundo digital, que condenou os papéis à morte, a Livraria Bertrand, em Lisboa, segue mais viva do que nunca. Fundada em 1732, sobreviveu ao grande terremoto que matou 30 mil pessoas na capital portuguesa, em 1755. Sobreviveu a Napoleão. Aos imperadores, aos condes, marqueses, arcebispos, viscondes e duquesas. Passou incólume pela primeira e segunda guerras mundiais. Resistiu ao fascismo de Salazar. E continua viva, em pleno 2024, auge da ditadura digital smartphônica.

Quem sobe pela estreita rua Garret, bairro Chiado, em Lisboa, topa na esquina com rua Anchieta, a Bertrand, localizada nos números 73/75.

O marketing sinaliza, de forma quase discretamente, na vitrine, a informação de que estamos diante da “livraria mais antiga do mundo, segundo o livro Guinness dos recordes”.

Turistas de todas as partes do mundo fazem fila na porta da Bertrand, para fazer a foto com o celular. Os “tuc-tucs” – aqueles triciclos coloridos que levam turistas conhecer os pontos principais da cidade – dão sempre uma parada defronte à livraria, com o condutor gritando em inglês, francês, espanhol, italiano, islandês, japonês, chinês que ali, naquele endereço encontra-se a “livraria mais antiga do mundo”.

Lá dentro, os livros estão dispostos em estantes de madeira, em balcões, estantes. Na entrada, ficam obras de sociologia, poesia, romance e as grandes estrelas da literatura portuguesa. Saramago e Fernando Pessoa dominam as estantes mais privilegiadas.

As atendentes usam um avental com o dístico “Livraria Bertrand”, são poliglotas, educadas e sempre gentis. Quando a gente compra um livro, a moça da caixa (a pedido do cliente) carimba na primeira folha em branco, que aquela obra foi comprada na “livraria mais antiga do mundo”. Para quem duvidar, tem um painel reproduzindo a página do Guinness, que cita a Bertrand.

Entrando um pouco mais, circulando pelos espaços da livraria, encontra-se um sofá preto de couro Chesterfield, para quem quer ler e se sentir confortável, entre milhares de livros.

Ao fundo, um café, com iguarias locais, mesinhas e cadeiras, com mais gente lendo, enquanto toma uma bebida ou come um petisco.

Saindo da Bertrand, quase em frente, fica a Livraria Sá da Costa, que é bem mais novinha que a Bertrand. A Sá da Costa foi fundada em 1913, em cima das cinzas de uma outra livraria, que existia ali e que se chamava Borel & Borel. A especialidade da Sá da Costa eram manuscritos antigos, livros raros e esgotados. O problema é que, diferente da Bertrand, onde predomina a limpeza e a ordem, na Sá da Costa os livros estão amontoados, empoeirados, bagunçados. Lembra um sebo em que o proprietário não sabe mais o que tem e o que não tem. A livraria também é um pouco escura, abafada. As obras nem sempre têm o preço marcado, o que dá aquela sensação de que o valor cobrado seria de acordo com a cara do freguês. Talvez não seja assim, mas parece que é.

Vizinha à Livraria Sá da Costa, encontra-se a Casa Brasileira, um dos cafés mais antigos de Lisboa, fundado em 1905. Originalmente, vendia café do Brasil. Hoje, é um local disputado pelos turistas, que enchem suas mesas, dispostas no meio da rua, em frente ao Largo do Chiado. Os turistas ficam na boa companhia, em bronze, de Fernando Pessoa. O poeta era frequentador assíduo da Casa Brasileira.

        


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