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Na esquina entre a rua Garret e Anchieta, fica a Libraria Bertrand |
No mundo digital, que condenou os papéis à morte, a
Livraria Bertrand, em Lisboa, segue mais viva do que nunca. Fundada em 1732,
sobreviveu ao grande terremoto que matou 30 mil pessoas na capital portuguesa,
em 1755. Sobreviveu a Napoleão. Aos imperadores, aos condes, marqueses,
arcebispos, viscondes e duquesas. Passou incólume pela primeira e segunda
guerras mundiais. Resistiu ao fascismo de Salazar. E continua viva, em pleno
2024, auge da ditadura digital smartphônica.
Quem sobe pela estreita rua Garret, bairro Chiado,
em Lisboa, topa na esquina com rua Anchieta, a Bertrand, localizada nos números
73/75.
O marketing sinaliza, de forma quase discretamente,
na vitrine, a informação de que estamos diante da “livraria mais antiga do
mundo, segundo o livro Guinness dos recordes”.
Turistas de todas as partes do mundo fazem fila na
porta da Bertrand, para fazer a foto com o celular. Os “tuc-tucs” – aqueles triciclos
coloridos que levam turistas conhecer os pontos principais da cidade – dão sempre
uma parada defronte à livraria, com o condutor gritando em inglês, francês,
espanhol, italiano, islandês, japonês, chinês que ali, naquele endereço
encontra-se a “livraria mais antiga do mundo”.
Lá dentro, os livros estão dispostos em estantes de
madeira, em balcões, estantes. Na entrada, ficam obras de sociologia, poesia,
romance e as grandes estrelas da literatura portuguesa. Saramago e Fernando
Pessoa dominam as estantes mais privilegiadas.
As atendentes usam um avental com o dístico “Livraria
Bertrand”, são poliglotas, educadas e sempre gentis. Quando a gente compra um
livro, a moça da caixa (a pedido do cliente) carimba na primeira folha em
branco, que aquela obra foi comprada na “livraria mais antiga do mundo”. Para
quem duvidar, tem um painel reproduzindo a página do Guinness, que cita a
Bertrand.
Entrando um pouco mais, circulando pelos espaços da
livraria, encontra-se um sofá preto de couro Chesterfield, para quem quer ler e
se sentir confortável, entre milhares de livros.
Ao fundo, um café, com iguarias locais, mesinhas e
cadeiras, com mais gente lendo, enquanto toma uma bebida ou come um petisco.
Saindo da Bertrand, quase em frente, fica a Livraria
Sá da Costa, que é bem mais novinha que a Bertrand. A Sá da Costa foi fundada
em 1913, em cima das cinzas de uma outra livraria, que existia ali e que se
chamava Borel & Borel. A especialidade da Sá da Costa eram manuscritos
antigos, livros raros e esgotados. O problema é que, diferente da Bertrand, onde
predomina a limpeza e a ordem, na Sá da Costa os livros estão amontoados,
empoeirados, bagunçados. Lembra um sebo em que o proprietário não sabe mais o
que tem e o que não tem. A livraria também é um pouco escura, abafada. As obras
nem sempre têm o preço marcado, o que dá aquela sensação de que o valor cobrado
seria de acordo com a cara do freguês. Talvez não seja assim, mas parece que é.
Vizinha à Livraria Sá da Costa, encontra-se a Casa
Brasileira, um dos cafés mais antigos de Lisboa, fundado em 1905. Originalmente,
vendia café do Brasil. Hoje, é um local disputado pelos turistas, que enchem
suas mesas, dispostas no meio da rua, em frente ao Largo do Chiado. Os turistas
ficam na boa companhia, em bronze, de Fernando Pessoa. O poeta era frequentador
assíduo da Casa Brasileira.
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