![]() |
"Triângulo da tristeza" é uma produção sueca |
domingo, 16 de abril de 2023
Filme sueco coloca privilégios em debate
sábado, 15 de abril de 2023
A Lei de Clint continua atual
O ator e diretor Clint Eastwood interpreta o policial Dirty Harry |
Revi, recentemente, uma série de filmes estrelada por Clint Eastwood. A linha de raciocínio é sempre a mesma: policial esforçado precisa enfrentar burocratas e passar por cima do aparato legal do país para fazer justiça. Clint é o mocinho, armado de um revólver que parece um pequeno canhão. Ele vai salvar a mocinha no final, matando o bandido que usava a garota como refém.
A estrutura desses filmes procura sempre questionar a tolerância da Justiça. Imagine: é preciso ter provas para prender alguém. Mais do que isso: sem provas, o policial não pode levar o bandido a julgamento. A mensagem que esses filmes passam é que a Justiça é muito tolerante com os criminosos, que precisamos de alguém, como Clint, para "limpar" a cidade.
Provavelmente, esses policiais brasileiros, que volta e meia são flagrados espancando e, às vezes, executando suspeitos, seguem a linha ideológica da Lei de Clint. O agente é ao mesmo tempo policial e juiz. Ele julga e condena à morte.
Como nós - pessoas que trabalham e que pagam impostos - somos vítimas diárias de criminosos, então, até toleramos a justiça vertical do policial que segue a Lei de Clint. Quando a sua filha chega em casa com o vidro do carro estourado e sem o celular, você pensa em pegar um revólver (pode ser aquele pequeno canhão do Clint) e ir até os baixos do viaduto Glicério e meter bala na malandragem. Ou quando a casa de alguém conhecido é furtada. A câmera de segurança flagra o criminoso saindo da residência, com os objetos furtados, e a polícia, em sua crônica letargia, nada faz. É claro que você gostaria de fazer justiça com as próprias mãos, ou com o revólver clintoniano.
Essa linha de pensamento medieval prosperou nos quatro anos do governo, que felizmente acabou. Não só prosperou, como se tornou linha diretiva governamental, com facilidades para as pessoas adquirirem armas e praticarem tiro ao alvo. O ex-presidente era visto com armas e fazia o sinal da arma em comícios. As pessoas adoravam. Chamavam-no de "mito". É a cultura da arma, da violência, da truculência. O aluno vai mal na escola ou sofre ataques de valentões. Pega o revólver do pai. Entra no estabelecimento educacional e atira em tudo que se mexe.
O governo atual destina verba (150 milhões de reais). Forma uma comissão ministerial para estudar o problema e apontar soluções. Gostaria de ser otimista, mas acredito que o problema só tende a piorar. A cultura brasileira é a da violência. Por isso, o Brasil lidera as estimativas de mortes violentas. Cerca de 40 mil pessoas vão morrer este ano assassinadas. É quase uma Guerra do Vietnã por ano. As pessoas estão sempre prontas para "resolver no tapa" qualquer divergência, por menor que seja. Os exemplos são diários.
Vou abrir o Google e pesquisar "homem é assassinado"... Apareceu o seguinte: "Homem é morto a tiros em Ibaté; dupla suspeita do crime fugiu"; "Homem é morto com mais de 10 tiros no bairro Novo Aarão Reis, em Belo Horizonte"; "Homem de 39 anos é morto a tiros na própria casa em São José dos Campos, SP"; "Homem é morto na frente da esposa e de bebê após fazer gentileza para vizinha; irmã da moradora é suspeita".
Se você pesquisar então "mulher é morta", vem uma enxurrada de notícias de mortes violentas: "Mulher é assassinada a facadas em Contagem, companheiro é suspeito"; "Mulher é assassinada a facadas em Vitória, enteado de 13 anos é suspeito"; "Mulher é morta, após ser estrangulada com cabo USB".
A minha geração foi ao cinema. Assistiu séries de TV. Leu livros. E muito dessa oferta "cultural" era apenas lixo. Parte desse lixo, que se chamava nos anos sessenta de "indústria cultural", saiu de suas fronteiras e chegou às redes sociais.
Hoje, vi um comentarista da CNN americana reclamar da falta de "guard rails" (as defensas metálicas em estradas e avenidas) no mundo virtual. Realmente, não há "guard rails" na internet. Para algo interessante que se descobre na rede, você é submerso por toneladas de entulho. Geralmente, é alguém destilando seu ódio, seu veneno, em mensagens diárias.
Em algum momento, bem lá atrás, pode ser que havia em um país chamado Brasil pessoas cordiais (Sérgio Buarque de Holanda), pessoas fraternas, amistosas, calorosas. Esse país, se existiu, não existe mais. Transformou-se em um lugar muito quente, que transborda raiva e miséria.
"Clint's law is still current"
Recently, I revisited a series of films starring Clint Eastwood. The storyline is always the same: a hardworking police officer must confront bureaucrats and bypass the country's legal system to deliver justice. Clint is the hero, armed with a revolver that looks like a small cannon. He saves the damsel in the end by killing the villain who was using the girl as a hostage.
The structure of these films always seeks to question the tolerance of the justice system. Imagine: you need evidence to arrest someone. More than that: without evidence, the police officer cannot bring the criminal to trial. The message these films convey is that the justice system is too lenient with criminals, and that we need someone like Clint to "clean up" the city.
Probably, these Brazilian police officers, who are occasionally caught beating and sometimes executing suspects, follow the ideological line of Clint's Law. The officer is both the police and the judge. He judges and sentences to death.
Since we—people who work and pay taxes—are daily victims of criminals, we even tolerate the vertical justice of the police officer who follows Clint's Law. When your daughter comes home with her car window shattered and her cell phone stolen, you think about grabbing a revolver (maybe that small cannon of Clint's) and going to the Glicério viaduct to shoot the troublemakers. Or when someone you know has their house burglarized. The security camera catches the criminal leaving the residence with the stolen items, and the police, in their chronic lethargy, do nothing. Of course, you would like to take justice into your own hands, or with the Clint-style revolver.
This medieval line of thinking thrived during the four years of the government that has fortunately ended. Not only did it thrive, but it became a governmental directive, with facilities for people to acquire guns and practice target shooting. The former president was seen with guns and made gun gestures at rallies. People loved it. They called him "the myth." It's the culture of guns, violence, and brutality. A student does poorly in school or is bullied. He takes his father's revolver. He enters the educational institution and shoots at everything that moves.
The current government allocates funds (150 million reais). It forms a ministerial committee to study the problem and propose solutions. I would like to be optimistic, but I believe the problem is only going to get worse. Brazilian culture is one of violence. That's why Brazil leads the estimates of violent deaths. About 40,000 people will be murdered this year. It's almost a Vietnam War per year. People are always ready to "settle things with a punch" over any disagreement, no matter how small. Examples are daily.
I'll open Google and search for "man is murdered"... The following appeared: "Man is shot dead in Ibaté; suspected duo fled"; "Man is killed with more than 10 shots in the Novo Aarão Reis neighborhood, in Belo Horizonte"; "39-year-old man is shot dead in his own home in São José dos Campos, SP"; "Man is killed in front of his wife and baby after doing a favor for a neighbor; the resident's sister is a suspect."
If you search for "woman is killed," a flood of violent death news appears: "Woman is stabbed to death in Contagem, partner is a suspect"; "Woman is stabbed to death in Vitória, 13-year-old stepson is a suspect"; "Woman is killed after being strangled with a USB cable."
My generation went to the movies. Watched TV series. Read books. And much of this "cultural" offering was just trash. Part of this trash, which in the sixties was called the "cultural industry," has crossed its borders and reached social media.
Today, I saw a CNN commentator complaining about the lack of "guard rails" (the metal barriers on roads and avenues) in the virtual world. Indeed, there are no "guard rails" on the internet. For every interesting thing you discover online, you are submerged by tons of debris. Usually, it's someone spewing their hatred, their venom, in daily messages.
At some point, way back, there may have been in a country called Brazil cordial people (Sérgio Buarque de Holanda), fraternal, friendly, warm people. That country, if it ever existed, no longer exists. It has transformed into a very hot place, overflowing with anger and misery.
Humorista Leo Lins é censurado pela Justiça Federal
Leonardo de Lima Borges Lins, o humorista condenado O início é óbvio: Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 5º, que trata...

-
Comecei a trabalhar no Diário Popular em 1984. A Redação do Dipo, como o jornal era chamado, foi talvez a última romântica. Quase todo ...
-
O jogador faz um gol, ajoelha-se, agradece aos céus, tece uma cruz no ar, junto à testa e repete umas duas vezes o mesmo gesto. Ao dar ent...