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Catherine Prevot |
Todos os meus amigos que fumavam morreram ou contraíram câncer. Sem exceção. Catherine fumava muito. Se não me falha a memória, Gitanes. O mesmo pacote azulado que "suicidou" Serge Gainsbourg. A primeira vez que vi Catherine ela estava com um cigarro na mão, na fila do restaurante universitário de Nancy, ao lado do então marido Jorge Bedoya, estudante colombiano.
Isso aconteceu em setembro de 1981. Tempo nublado, chuvoso. Deprimente. Como eu e minha mulher Jussara tínhamos ido parar em Nancy, interior da França, é uma história excêntrica, quase inacreditável. Depois de viver um ano na Inglaterra, decidimos conhecer a França. Éramos recém-casados, sem filhos, com muita vontade de acelerar fundo na vida.
A estada na Inglaterra tinha sido vantajosa. Nós dois trabalhávamos e conseguimos encher uma caixa com libras esterlinas. Era dinheiro que não acabava mais. Eu trabalhava em um hotel familiar, fazendo um pouco de tudo. E a Jussara arrumou emprego em um escritório de contabilidade.
Decididos a cair na estrada, encerramos o "estágio" inglês. Embarcamos para a França, onde demos com os burros n'água, expressão preferida de um conhecido que havia sido tropeiro, em outra existência. Nossa caixa cheia de dinheiro começou a esvaziar perigosamente. Estávamos em Paris, morando em uma residência estudantil. Não havia emprego. Não havia perspectiva de sobrevivência. Conhecendo a cidade, lembro que fomos visitar a famosa Sorbonne, que, durante a Revolução de 1968, ocupada pelos estudantes em revolta, "escorregava-se em sêmen".
Entramos na universidade, no anfiteatro Durkheim, e não sei por que senti que voltaria para lá em circunstâncias melhores. Até comentei com a Jussara: "Ainda vou estudar aqui".
Decidimos tentar a sorte em um balneário, Boulogne-sur-mer, mas vimos que não ia dar certo.
Fizemos, então, uma coisa maluca. Algo que a gente deve ter visto em algum filme. Estendemos o mapa da França no chão e jogamos uma moeda de um franco para o ar. Onde ela caísse, era para lá que iríamos.
E não é que a moeda de um franco caiu justamente em Nancy...Leste do território francês, próxima de Estrasburgo. Ninguém tinha me falado de Nancy. Nem sabia que essa cidade existia. E foi pra lá que fomos. De trem bala. A 400 quilômetros por hora. "Voa, fumaça. Corre, cerca. Muita força, muita força, muita força..." Éramos jovens, doidos.
Em Nancy, corremos para a universidade, onde havia dormitórios e, por uma quantia singela, pudemos nos abrigar das intempéries. Chovia em Nancy. Deus meu, como chovia em Nancy. Era fim de agosto, fim do verão, e já fazia um frio medonho. Imagine em dezembro? Meio do inverno?
A primeira providência que tomamos foi a de nos matricular na universidade. Na época, era grátis. Faríamos um curso de francês e teríamos várias vantagens, concedidas a estudantes, como, por exemplo, comer, quase, de graça no restaurante universitário.
Outro problema a resolver era o alojamento. Por enquanto, ficávamos no dormitório da universidade. "Mulher de um lado e homem do outro", explicou a funcionária. Mesmo casados, a gente não podia ficar no mesmo quarto. Era o regulamento. A gente não obedecia, é claro.
Em frente ao quarto da minha mulher, moravam duas estudantes espanholas que tocavam o tempo todo Julio Iglesias. "Às vezes, tu, às vezes, eu, brigamos antes, e depois...". Elas eram simpáticas, gente boa, ficamos amigos delas. Apesar de Julio Iglesias na vitrola.
Precisávamos, pela ordem, arrumar um emprego e também um lugar para morar. Nada muito complicado. Principalmente, se você está em um país que não é seu, sem saber a língua, nem os costumes, nem coisa alguma. A chance de dar tudo errado eu diria que está para uns 99 por cento. Então, nessa hora, aparece um cara chamado Alfredo.
Chileno, ele havia saído de seu país na esteira do golpe militar que havia derrubado o presidente Salvador Allende. Alfredo era um mistério. Diziam que havia lutado na Nicarágua e em El Salvador. Podia ou não ser verdade.
Quando soube de nossa situação, Alfredo resolveu - parcialmente - um problema. Ele nos alojou em um apartamento de um casal, que estava de férias. "Vocês ficam lá. Quando eles retornarem em setembro, a gente dá um jeito".
O apartamento era bem ajeitado, simpático, com um pôster azul e vermelho de uma réplica de Toulouse Lautrec ("Aristide Bruant dans son cabaret").
Quando setembro chegou, o casal também retornou a Nancy. Estávamos na fila do restaurante universitário, quando minha mulher apontou e disse: "Eles são os donos do apartamento", reconhecendo-os das fotografias espalhadas pela casa.
Catherine Prevot fumava na fila do restaurante. Nós nos aproximamos e dissemos na cara de pau: "Nós estamos morando na casa de vocês". A amizade surgiu de forma instantânea. Catherine e Jussara ficaram muito amigas. Andavam pra cima e pra baixo de Nancy. Iam ao mercado. Catherine apresentava a cidade e criticava os moradores de Nancy, "uma cidade conservadora e burguesa até o último fio de cabelo".
Graças à Catherine, conseguimos alugar um apartamento em Malzéville, na rua Sadi Carnot, 42. Ela foi nossa fiadora e nos ajudou com a mudança. O apartamento em Malzéville ficava no que eles chamam de "chambre de bonne" (quarto da empregada). Era no terceiro andar e a janela situava-se no alto, virada para o céu. Uma claraboia.
Em Nancy, descobri, havia burgueses que poderiam arrumar vaga de vilão em algum filme. Lembro que eu e Jussara estávamos retornando da aula na universidade, quando vimos um rapaz empilhando móveis velhos no jardim de uma casa. Me aproximei da cerca e pedi para ele: "Por favor, você poderia nos dar essa cadeira que está em cima da pilha. Nós estamos precisando."
De fato, em nosso minúsculo apartamento, faltava uma cadeira. O rapaz, com perfil de árabe, pegou a cadeira e levou até nós. No meio do caminho, apareceu o burguês vilão de filme. Grisalho, enfiado em um terno de lã, sapatos de cromo alemão, luvas e gravata com um alfinete que representava alguma legião direitista, ele arrancou a cadeira da mão do árabe. Devolveu-a à pilha e botou fogo em tudo. Viu as chamas crescerem por trás de seus óculos vilanescos de armação quadricular.
Quando relatamos esse episódio para Alfredo, ele nos disse que havia somente dois tipos de franceses: os muito legais e os nazistas. Catherine e a família pertenciam à primeira categoria, é claro. Um dia, lembro que estava no carro de um irmão de Catherine, quando ele parou o veículo e ofereceu carona para alguém que estava com sacolas pesadas. Achei que o sujeito fosse conhecido dele, mas não. Eram solidários ao extremo.
Meu primeiro e único emprego na França foi o de participar da coleta de uvas na região de Champagne. Quem devia ir no grupo de estudantes era o Alfredo, mas ele deu a vaga para mim, que precisava, desesperadamente, de dinheiro. Segui para a fazenda com um grupo de amigos colombianos, entre eles, o marido de Catherine, Jorge Bedoya.
Jussara ficou em Nancy. Catherine ajudava a arrumar o apartamento de Malzéville e conseguiu até que a Jussara desfilasse para um loja de departamentos na cidade, ganhando uma grana razoável.
Na época, eu era vegetariano. Precisávamos de receitas, fáceis de fazer e de bom preço. Catherine comprou um caderno, de capa amarela, e ficou uma manhã e uma tarde passando receitas. Ela escrevia em francês e na página posterior Jussara traduzia para o português.
Graças a esse caderno fantástico, tive meu primeiro contato com a culinária francesa. Aprendi a fazer molho béarnaise, "sauce béchamel", "caviar d´aubergines", "pommes de terre et gruyère rápé", "champignons à la muscade". E tantas outras. Receitas que até hoje encantam familiares e amigos.
Nossa aventura francesa acabaria meses depois, quando Jussara engravidou. Decidimos voltar ao Brasil.
Durante muito tempo, Jussara e Catherine trocaram cartas. Na época, não havia e-mail, nem skype. Com o passar dos meses e anos, Catherine desapareceu de nossa bússola.
Dez anos depois, ganhei uma bolsa para fazer doutorado na Sorbonne. Entrei comovido no anfiteatro Durkheim, como se estivesse pagando uma promessa feita a mim mesmo.
Durante nossa estada em Paris, entre 1991 e 1992, Jussara tentou localizar Catherine. Na época, havia na França um sistema de comunicação, pré-internet, que se chamava minitel. Encontramos algumas Catherines Prevot, menos a "verdadeira". Catherine havia desaparecido.
Jussara sempre comentava: "Como será que ela está? Será que teve filhos? Será que continua casada com o Jorge. E os irmãos dela? E os pais?"
De volta ao Brasil, com a chegada da internet em 1995, tentamos localizá-la. Mas nada feito. Em 1998, fui cobrir a Copa do Mundo, disputada na França, e Jussara me pediu para tentar achar Catherine.
Cansei de procurar Catherine no Orange, que era um sistema de telecomunicação francês (espécie de Vivo), mas sem resultado.
Já nos anos 2000 lembro que a gente achou uma Catherine Prevot em Nancy. Ligamos para ela e quem nos atendeu foi uma senhora com voz de sono, alguém que estava dormindo profundamente, e nos garantiu que "não", ela "não era a Catherine Prevot" que estávamos procurando.
Nessa última década (2010-2020), quando havíamos desistido de encontrar Catherine Prevot, recebi um convite para participar de um site de ex-alunos da Universidade de Nancy. Entre os ex-alunos havia uma Catherine Prevot, que não morava mais na França. Essa Catherine era comerciante e havia se radicado em Náuplia, na Grécia, desde 1990. Ela dizia no site "Copains d'avant", que ia, de vez em quando, a Nancy, onde tinha um irmão que ainda morava lá. Os pais haviam se mudado para Aspet, 100 quilômetros ao sul de Toulouse.
Enviei e-mail para essa Catherine, ex-aluna da Universidade de Nancy. Enviei o e-mail mais para desencanar. Tinha quase certeza que não era a nossa amiga.
A resposta nos encheu de alegria. Era a "nossa" Catherine. Finalmente, nossa busca havia chegado ao fim. Catherine lembrava-se de nós e queria rever sua amiga, Jussara. Justamente, nessa época, Jussara não morava em São Paulo. Ela estava no interior, em um local onde não havia internet.
Como eu ia toda sexta-feira para lá, marquei o encontro com Catherine para o sábado de manhã. Lembro de ter chegado de viagem e comentei com a Jussara: "Sabe quem eu encontrei? Catherine..." Ela custou a acreditar. Ficou radiante, feliz com a oportunidade de rever a amiga "desaparecida". "Mas tem certeza que era mesmo a Catherine?" Fomos dormir ansiosos, torcendo para o dia seguinte chegar depressa.
No sábado cedo, fomos até uma cidade maior, onde havia uma lan house. Na hora definida, fizemos o contato pelo skype e Catherine Prevot, a verdadeira, apareceu na nossa frente. Usava um lenço na cabeça. Não tinha mais cabelos. Nem muito tempo de vida pela frente. Havíamos conseguido reencontrar Catherine Prevot. Pena que tivesse sido muito tarde para todos nós.
"À la recherche de Catherine"
Tous mes amis qui fumaient sont morts ou ont contracté un cancer. Sans exception. Catherine fumait beaucoup. Si ma mémoire est bonne, des Gitanes. Le même paquet bleuté qui a "suicidé" Serge Gainsbourg. La première fois que j'ai vu Catherine, elle avait une cigarette à la main, dans la file du restaurant universitaire de Nancy, à côté de son mari de l'époque, Jorge Bedoya, un étudiant colombien.
Cela s'est passé en septembre 1981. Temps nuageux, pluvieux. Déprimant. Comment ma femme Jussara et moi nous étions retrouvés à Nancy, dans l'intérieur de la France, est une histoire excentrique, presque incroyable. Après avoir vécu un an en Angleterre, nous avions décidé de découvrir la France. Nous étions jeunes mariés, sans enfants, avec une grande envie de foncer dans la vie.
Notre séjour en Angleterre avait été avantageux. Nous travaillions tous les deux et avions réussi à remplir une boîte de livres sterling. C'était de l'argent qui ne finissait plus. Je travaillais dans un hôtel familial, faisant un peu de tout. Et Jussara avait trouvé un emploi dans un bureau de comptabilité.
Décidés à prendre la route, nous avons mis fin à notre "stage" anglais. Nous avons embarqué pour la France, où nous avons donné avec les ânes dans l'eau, expression préférée d'un ami qui avait été muletier, dans une autre existence. Notre boîte pleine d'argent a commencé à se vider dangereusement. Nous étions à Paris, vivant dans une résidence étudiante. Il n'y avait pas de travail. Il n'y avait aucune perspective de survie. En visitant la ville, je me souviens que nous sommes allés voir la célèbre Sorbonne, qui, pendant la Révolution de 1968, occupée par les étudiants en révolte, "glissait dans le sperme".
Nous sommes entrés dans l'université, dans l'amphithéâtre Durkheim, et je ne sais pas pourquoi j'ai senti que je reviendrais là dans de meilleures circonstances. J'ai même dit à Jussara : "Je vais encore étudier ici".
Nous avons décidé de tenter notre chance dans une station balnéaire, Boulogne-sur-mer, mais nous avons vu que cela ne marcherait pas.
Nous avons alors fait quelque chose de fou. Quelque chose que nous avions dû voir dans un film. Nous avons étalé la carte de France sur le sol et lancé une pièce d'un franc en l'air. Où elle tomberait, c'est là que nous irions.
Et la pièce d'un franc est tombée juste sur Nancy... À l'est du territoire français, près de Strasbourg. Personne ne m'avait parlé de Nancy. Je ne savais même pas que cette ville existait. Et c'est là que nous sommes allés. En train à grande vitesse. À 400 kilomètres à l'heure. "Vole, fumée. Cours, clôture. Beaucoup de force, beaucoup de force, beaucoup de force..." Nous étions jeunes, fous.À Nancy, nous avons couru à l'université, où il y avait des dortoirs et, pour une somme modique, nous avons pu nous abriter des intempéries. Il pleuvait à Nancy. Mon Dieu, comme il pleuvait à Nancy. C'était fin août, fin de l'été, et il faisait déjà un froid terrible. Imaginez en décembre ? Au milieu de l'hiver ?La première chose que nous avons faite a été de nous inscrire à l'université. À l'époque, c'était gratuit. Nous ferions un cours de français et aurions plusieurs avantages, accordés aux étudiants, comme, par exemple, manger presque gratuitement au restaurant universitaire.
Un autre problème à résoudre était le logement. Pour l'instant, nous restions dans le dortoir de l'université. "Femme d'un côté et homme de l'autre", expliqua l'employée. Même mariés, nous ne pouvions pas rester dans la même chambre. C'était le règlement. Nous ne l'obéissions pas, bien sûr. En face de la chambre de ma femme, vivaient deux étudiantes espagnoles qui passaient tout leur temps à écouter Julio Iglesias. "Parfois toi, parfois moi, nous nous disputons avant, et après...". Elles étaient sympathiques, de bonnes personnes, nous sommes devenus amis avec elles. Malgré Julio Iglesias sur le tourne-disque.
Nous devions, par ordre, trouver un emploi et aussi un endroit où vivre. Rien de trop compliqué. Surtout si vous êtes dans un pays qui n'est pas le vôtre, sans connaître la langue, ni les coutumes, ni rien. La chance que tout aille mal, je dirais que c'est environ 99 %. C'est alors qu'un gars nommé Alfredo est apparu.Chilien, il avait quitté son pays dans le sillage du coup d'État militaire qui avait renversé le président Salvador Allende.
Alfredo était un mystère. On disait qu'il avait combattu au Nicaragua et au Salvador. Cela pouvait être vrai ou non. Quand il a su notre situation, Alfredo a résolu - partiellement - un problème. Il nous a logés dans un appartement d'un couple, qui était en vacances. "Vous restez là. Quand ils reviendront en septembre, on trouvera une solution".
L'appartement était bien arrangé, sympathique, avec une affiche bleue et rouge d'une réplique de Toulouse Lautrec ("Aristide Bruant dans son cabaret"). Quand septembre est arrivé, le couple est également revenu à Nancy. Nous étions dans la file du restaurant universitaire, quand ma femme a pointé et dit : "Ce sont les propriétaires de l'appartement", les reconnaissant des photos dispersées dans la maison.
Catherine Prevot fumait dans la file du restaurant. Nous nous sommes approchés et avons dit sans gêne : "Nous vivons chez vous". L'amitié est née instantanément. Catherine et Jussara sont devenues très amies. Elles allaient partout à Nancy. Elles allaient au marché. Catherine présentait la ville et critiquait les habitants de Nancy, "une ville conservatrice et bourgeoise jusqu'au dernier cheveu". Grâce à Catherine, nous avons réussi à louer un appartement à Malzéville, au 42 rue Sadi Carnot. Elle a été notre garante et nous a aidés avec le déménagement. L'appartement à Malzéville était ce qu'ils appellent une "chambre de bonne" (chambre de domestique).
C'était au troisième étage et la fenêtre était en haut, face au ciel. Une lucarne. À Nancy, j'ai découvert qu'il y avait des bourgeois qui pourraient jouer les méchants dans un film. Je me souviens que Jussara et moi revenions de l'université, quand nous avons vu un garçon empiler de vieux meubles dans le jardin d'une maison. Je me suis approché de la clôture et lui ai demandé : "S'il vous plaît, pourriez-vous nous donner cette chaise qui est sur le tas. Nous en avons besoin."
En effet, dans notre minuscule appartement, il manquait une chaise. Le garçon, de profil arabe, a pris la chaise et nous l'a apportée. En chemin, est apparu le bourgeois méchant de film. Gris, en costume de laine, chaussures en cuir allemand, gants et cravate avec une épingle représentant une légion de droite, il a arraché la chaise des mains de l'Arabe. Il l'a remise sur le tas et y a mis le feu. Il a vu les flammes grandir derrière ses lunettes méchantes à monture carrée.
Quand nous avons raconté cet épisode à Alfredo, il nous a dit qu'il n'y avait que deux types de Français : les très sympas et les nazis. Catherine et sa famille appartenaient à la première catégorie, bien sûr. Un jour, je me souviens que j'étais dans la voiture d'un frère de Catherine, quand il a arrêté le véhicule et a proposé un lift à quelqu'un qui portait des sacs lourds. Je pensais que c'était un de ses amis, mais non. Ils étaient solidaires à l'extrême. Mon premier et seul emploi en France a été de participer à la récolte des raisins dans la région de Champagne. Celui qui devait aller dans le groupe d'étudiants était Alfredo, mais il m'a donné la place, moi qui avais désespérément besoin d'argent. Je suis parti pour la ferme avec un groupe d'amis colombiens, parmi eux, le mari de Catherine, Jorge Bedoya. Jussara est restée à Nancy. Catherine aidait à arranger l'appartement de Malzéville et a même réussi à faire défiler Jussara pour un grand magasin de la ville, gagnant une somme raisonnable.À l'époque, j'étais végétarien. Nous avions besoin de recettes, faciles à faire et à bon prix.
Catherine a acheté un cahier, à couverture jaune, et a passé une matinée et un après-midi à écrire des recettes. Elle écrivait en français et sur la page suivante Jussara traduisait en portugais. Grâce à ce cahier fantastique, j'ai eu mon premier contact avec la cuisine française.
J'ai appris à faire de la sauce béarnaise, de la "sauce béchamel", du "caviar d'aubergines", des "pommes de terre et gruyère râpé", des "champignons à la muscade". Et tant d'autres. Des recettes qui enchantent encore aujourd'hui la famille et les amis. Notre aventure française a pris fin quelques mois plus tard, quand Jussara est tombée enceinte. Nous avons décidé de retourner au Brésil.Pendant longtemps, Jussara et Catherine ont échangé des lettres. À l'époque, il n'y avait pas d'e-mail, ni de skype.
Au fil des mois et des années, Catherine a disparu de notre radar. Dix ans plus tard, j'ai obtenu une bourse pour faire un doctorat à la Sorbonne. Je suis entré ému dans l'amphithéâtre Durkheim, comme si je tenais une promesse faite à moi-même. Pendant notre séjour à Paris, entre 1991 et 1992, Jussara a essayé de localiser Catherine. À l'époque, il y avait en France un système de communication, pré-internet, appelé minitel. Nous avons trouvé quelques Catherine Prevot, mais pas la "vraie". Catherine avait disparu.
Jussara commentait toujours : "Comment va-t-elle ? A-t-elle eu des enfants ? Est-elle toujours mariée à Jorge. Et ses frères ? Et ses parents ?" De retour au Brésil, avec l'arrivée d'internet en 1995, nous avons essayé de la localiser. Mais rien. En 1998, j'ai couvert la Coupe du Monde, disputée en France, et Jussara m'a demandé d'essayer de trouver Catherine. J'en ai eu marre de chercher Catherine sur Orange, qui était un système de télécommunication français (une sorte de Vivo), mais sans résultat. Déjà dans les années 2000, je me souviens que nous avons trouvé une Catherine Prevot à Nancy. Nous l'avons appelée et c'est une dame avec une voix ensommeillée, quelqu'un qui dormait profondément, qui nous a répondu et nous a assuré que "non", elle "n'était pas la Catherine Prevot" que nous cherchions.
Dans cette dernière décennie (2010-2020), quand nous avions abandonné l'espoir de retrouver Catherine Prevot, j'ai reçu une invitation pour participer à un site d'anciens élèves de l'Université de Nancy. Parmi les anciens élèves, il y avait une Catherine Prevot, qui ne vivait plus en France. Cette Catherine était commerçante et s'était installée à Nauplie, en Grèce, depuis 1990. Elle disait sur le site "Copains d'avant" qu'elle allait, de temps en temps, à Nancy, où elle avait un frère qui y vivait encore. Ses parents avaient déménagé à Aspet, à 100 kilomètres au sud de Toulouse.
J'ai envoyé un e-mail à cette Catherine, ancienne élève de l'Université de Nancy. J'ai envoyé l'e-mail plus pour me libérer l'esprit. J'étais presque sûr que ce n'était pas notre amie.La réponse nous a remplis de joie. C'était "notre" Catherine. Enfin, notre recherche avait abouti. Catherine se souvenait de nous et voulait revoir son amie, Jussara. Justement, à cette époque, Jussara ne vivait pas à São Paulo. Elle était à l'intérieur, dans un endroit où il n'y avait pas d'internet. Comme j'allais là-bas tous les vendredis, j'ai fixé le rendez-vous avec Catherine pour le samedi matin. Je me souviens être arrivé de voyage et avoir dit à Jussara : "Tu sais qui j'ai trouvé ? Catherine..." Elle a eu du mal à le croire. Elle était radieuse, heureuse de l'opportunité de revoir l'amie "disparue". "Mais es-tu sûr que c'était vraiment Catherine ?"
Nous sommes allés nous coucher anxieux, espérant que le lendemain arriverait vite. Le samedi matin, nous sommes allés dans une ville plus grande, où il y avait un cybercafé.
À l'heure définie, nous avons établi le contact par skype et Catherine Prevot, la vraie, est apparue devant nous. Elle portait un foulard sur la tête. Elle n'avait plus de cheveux. Ni beaucoup de temps à vivre. Nous avions réussi à retrouver Catherine Prevot. Dommage que ce soit trop tard pour nous tous.