quinta-feira, 26 de abril de 2018
Coisas que odeio - filmes que têm perseguição de carros
Confesso que sou radical. Estou no cinema. Começa cena de perseguição de carro, não tenho dúvida. Levanto e vou embora. Sem discussão. Perseguição de carro é tão manjada, tão manjada, tão insuportável, que chegou ao meu limite. Quem foge não é o carro perseguido, sou eu.
Lembro de uma tarde/noite estava nas proximidades da rua Santo Antônio, Centro de São Paulo. Chovia. O trânsito havia chegado àquele momento da imobilidade desperada. Ninguém andava. Faróis, no amarelo piscante. Motoristas buzinavam por inércia. Passageiros desciam dos ônibus, porque pressentiam que andando chegariam mais rapidamente a seu destino.
Joguei o carro em uma travessa e estacionei. Passei por um carro antigo (parecia um velhusco Dodge Dart) que estava ligado com as portas e janelas fechadas. Sem ninguém dentro. O motor funcionava. Sem chaves no contato. Um mistério que até hoje não consegui solucionar. Um senhor olhava pelas janelas, tentando entender o que acontecia. "Cada coisa que a gente vê", ele comentou, quando passei por ele.
Lembro que atravessei o viaduto Major Quedinho e estava nas proximidades da Biblioteca Mário de Andrade quando a chuva apertou. Entrei na Galeria Metrópole, onde antes havia o Cine Metrópole. Paguei o ingresso e entrei, sem querer saber que filme estavam exibindo.
Meio molhado, com o saco cheio por não conseguir chegar em casa, por causa do trânsito, meio faminto, fiquei esperando o início do filme. Quando aquilo começou me dei conta que os céus estavam me castigando de forma implacável. Era um filme novo, Velozes e Furiosos. A droga nem tinha roteiro. Era só carro correndo atrás de carro. Levantei e bati em retirada. Chega um momento da vida em que você reconhece quando foi definitivamente derrotado pelas circunstâncias.
A minha ojeriza à perseguição de carros vai além. Também não suporto perseguição de naves espaciais, lanchas, bicicletas, motos e trens.
Filme americano policial repete também uma cena à exaustão. Os agentes chegam ao nome de um suspeito. Alguém levanta o endereço do sujeito e lá vai uma equipe de policiais para capturá-lo. Ficam diante de um prédio decadente, caindo aos pedaços. Os policiais arrombam a porta e o suspeito pula a janela e foge. Começa a perseguição. Geralmente, o policial consegue agarrar o infeliz, depois de tropeçar em latas de lixo, entrar em clubes de strip-tease (com rápida aparição de garotas seminuas, enroscadas em postes de pole dance), saltar sobre cercas...O suspeito é preso. Levado para a delegacia e...Surpresa! Não era ele.
O pior é ver filmes e séries francesas ou de outros países europeus utilizarem o mesmo recurso desgastado da prisão do suspeito que foge. Imersos em clichês.
Em filme policial americano, o detetive é divorciado, transa com a suspeita, bebe e fuma, é violento, briga com o parceiro. O chefe dele vai enquadrá-lo e o pobre detetive vai ser obrigado a entregar o distintivo e a arma no meio do episódio. Mesmo assim continuará investigando o crime até resolvê-lo, sendo readmitido com glórias na polícia. Estamos presos para sempre em clichês.
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