
O Facebook lembra um motel sem a parte divertida. São quartos e quartos disponíveis para você ocupar do jeito que imagina. Mas sem o sexo. Sexo não pode no Facebook. Até seio de mãe amamentando costuma sofrer a censura implacável do Face. No Orkut, valia tudo. Só que o Google encerrou com essa rede em 30 de setembro de 2014. O Orkut reinou por 10 anos e chegou a ter 29 milhões de usuários. O nome da rede deletada vem de Orkut Büyükkökten, engenheiro que trabalhava para o Google.
Enquanto se espera o fim do Face, vamos lendo livros que nos caem na mão.
Notícias da matilha, de Luiz Augusto Michelazzo, editora Coruja, conta a história de um jornalista que trabalhava na sucursal de um grande jornal (seria o Globo?) entre os anos 80/90. Pouca gente leu Notícias da Matilha. Foram feitas umas duas resenhas tímidas e só. Lançado em 2011, o livro tem passado despercebido. É lamentável.
Trabalhei com Michelazzo em 1989, quando era editor do caderno de variedades Revista, do falecido Diário Popular. Eu o conheci em 1978, quando trabalhei na Proal (Programação e Assessoria Editorial). Estava iniciando minha carreira como repórter e Michelazzo era o editor da revista Panorama, publicada pela General Motors. Ficamos amigos. Discutíamos muito e o transformei em um dos personagens de meu livro Nicola, um romance transgênero. Talvez como vingança, ele me usou também como um dos vilões de seu Notícias da matilha. Eu sou um dos editores malvados, que usava suspensório yuppie, e o fazia trabalhar 12 horas por dia, em plantões intermináveis aos sábados e domingos.
Notícias da matilha é emblemático. Se você quiser saber como era trabalhar em um jornal de alcance nacional no final do governo Sarney e início do governo Collor, a obra de Michelazzo é a melhor fonte. Estão lá a inflação galopante de quase 7 mil por cento ao ano, os plantões assassinos, os chefetes ditatoriais, as viagens intermináveis e - é claro, não poderiam faltar - as relações amorosas, com suas paixões destrutivas, imorais, lascivas, incandescentes.
O personagem Antônio Capuleto troca um jornal local (seria o Diário Popular?) por um veículo nacional (O Globo?) e reencontra um antigo amor (Maria Luiza). Ela, casada; ele, divorciado, infeliz e sem ilusões. Surge uma terceira figura, a repórter Bete, que se apaixona por Capuleto.
Lembro de um editor de texto (uma espécie de máquina de escrever iluminada), que havia no apartamento de Michelazzo, e cheguei a ler trechos deste livro, quando ainda estava sendo escrito. Ambientado em São Paulo, o texto é fiel à loucura daquela época.
Divertido, surpreendente, Notícias da matilha foi mergulhado em uma tina de erotismo e saiu um produto delicioso.
Leia, divirta-se, entre na pele de um repórter obreiro que camelava 12 a 15 horas por dia e ganhava um salário ridículo. Conheça o Dr. Rubão, dono do jornal; o Camarada Stalin; Boca Mole e demais canalhas. Quem sabe, se você for jovem e trabalhar hoje em jornal diário, pode até se identificar com Antônio Capuleto. Boa sorte, rapaz.
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