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| 108, via Spartaco, Roma: prédio é refém da "senhora dos pombos" |
Telejornais policialescos são deliciosos. A gente assiste com um sorriso nos lábios, dando graças a deus por aquela desgraça não ter acontecido com a gente. Há também aqueles que gostam de ver para se colocar na pele dos vilões, dos transgressores. É ser bandido de forma vicária. Ou justiceiro, a salvo, na sala de casa. "Se fosse eu, também tinha metido uma 'azeitona' naquele vagabundo".
Na Itália, transmitido diariamente pela Rai (Radio Audizioni Italiane) - a TV e a Rádio públicos - chama atenção o programa "La vita in diretta". Apresentado por um barbudo, cara de malvado, chamado Alberto Matano, o telejornal traz uma enxurrada de crimes que não acabam mais. É a mãe que matou e cortou em pedaços o filho violento ("ucciso e fatto in pezzi"), ajudada - veja você - pela nora. É a esposa napolitana que deu 50 facadas no marido. Sem esquecer do senegalês que é suspeito de ter matado uma senhora de 78 anos, com 29 facadas na garagem da casa onde ela vivia. O senegalês quase que tem nome de brasileiro: Louis DaSilva e - se descobriu posteriormente - era amante da nora da executada. Tem a garota de 22 anos que matou o filho recém-nascido e o enterrou. Não falta o suicida de 70 anos que saltou do balcão do prédio onde vivia e caiu em cima da vizinha de 83 anos, que andava pela rua. O suicida matou a vizinha e ficou vivo para contar a história.
Durante semanas, "La vita in diretta" colocou uma lente de aumento sobre o endereço 108 da via Spartaco, em Roma. É um prédio simpático, com varandas amplas, em um quarteirão residencial. Ocorre que uma das moradores é ativista de proteção às aves. Todos os dias, ela dá comida - muita comida - para os pombos. As aves aglomeram-se em volta da janela onde ela vive e se multiplicam, com a comida farta e a ausência de predadores naturais. O resultado, como é fácil de se prever, provoca uma dor de cabeça danada nos vizinhos. Os pombos não ficam apenas diante da casa da ativista. Eles se espalham pelas outras janelas, pelas ruas, pelos outros prédios. É cocô por tudo quanto é lado. Tem cocô de pombo no asfalto, em cima dos carros, nas calçadas e - principalmente - nas belas varandas romanas. Se você morasse lá e quisesse tomar um aperitivo em uma romântica tarde de primavera, seria bombardeado de maneira implacável pela merda. Mesmo no verão, as janelas precisam ficar fechadas, porque o cheiro do cocô é insuportável. A história foi até reproduzida pelo jornal inglês "The Guardian", para quem "os pombos do inferno", lembravam uma cena hitchcockiana. O cineasta Alfred Hitchcock, no filme "Os pássaros", conta uma história de terror em que os pássaros (todos eles) começam a atacar os humanos. Sem mais nem menos, assim por pura maldade ou - talvez - desejo de vingança. "La vita in diretta" tanto fez que até o prefeito de Roma entrou na jogada e mandou a "senhora dos pombos" parar de alimentar os bichos. Segundo repetia o apresentador Alberto Matano, era "todo um quarteirão refém da senhora dos pombos".
E a ESPN conseguiu matar o seu melhor programa de esportes da TV. Chamava-se "Futebol 360" e era transmitido diariamente a partir das 9h, apresentado pelo jornalista Abel Neto, que foi demitido pela emissora.
Abel Neto, filho do craque e ponta esquerda santista Abel, é um excepcional apresentador. Tem tarimba, jogo de cintura, é experiente. Ele conduzia o "Futebol 360" de maneira leve e rigorosamente informativa, apoiado por comentaristas sérios e equilibrados como Eugênio Leal, Breiller Pires, Celso Unzelte. Era um programa sem gritaria, sem palhaçada, do tipo "Jogo aberto" e "Os donos da bola".
"Futebol 360" não era dedicado ao Flamengo, como costuma ser o "Redação sportv". Os "gênios" da ESPN mudaram a grade, demitiram o apresentador competente e colocaram no lugar um pessoalzinho engraçado e moderninho no melhor estilo Leifert de ver futebol.
